domingo, 27 de maio de 2012

[welcome to mozambique] a doença não tem causas, tem causadores!


JeitO, a marca de preservativos mais popular em Moçambique...
"Amor, você tem JeitO?"

Ainda sobre a questão do preservativo em Moçambique, volta e meia lembro-me desta notícia desconcertante em todos os aspectos, que transcrevo abaixo. Só não a apelido de inacreditável porque, infelizmente, sei bem demais que é verdade... Em Moçambique é frequente a crença de que quando uma fatalidade se abate sobre os pobres, a culpa é, invariavelmente dos ricos. Ou de invejosos. Ou de feiticeitos. Ou de alguma mulher idosa e viúva que possa servir de bode expiatório.

Por exemplo, na Zambézia, é recorrente, em alturas de seca, a população revoltar-se contra as autoridades e acusá-las de ter "amarrado a chuva no céu" para prejudicar toda a comunidade, fenómeno de que já sobejamente nos falou o Professor. A notícia do DN de que vos falo é esta:
«O arcebispo de Maputo, D. Francisco Chimoio, acusa os europeus de infectarem propositadamente preservativos com o vírus da sida "para acabar com o povo africano". As acusações estão a chocar o país onde, diariamente, cerca de 500 pessoas são infectadas com o VIH.
"Os preservativos não são seguros porque eu sei que há dois países europeus que estão a produzi-los com o vírus de propósito", afirmou o arcebispo. "Eles querem acabar com o povo africano. Querem colonizar tudo. Se não tivermos cuidado, estaremos liquidados dentro de um século", acrescentou, indicando que a melhor maneira de evitar o contágio da doença é a abstinência, não os preservativos. D. Francisco Chimoio, o líder da igreja católica em Moçambique, seguida por 17,5% da população, recusou nomear os países em causa, indicando ainda que os medicamentos anti-retrovirais também estão infectados.» (...)
E, mesmo assim, ao demonstrar que sabe que a sida é provocada por um vírus, D. Chimoio está ainda a anos-luz do nível cultural da esmagadora maioria dos moçambicanos... Não nos podemos esquecer de que em Moçambique as doenças não têm causas, têm causadores! Não há agentes infecciosos, há feiticeiros, antepassados, tabus quebrados... Neste sistema de crenças animistas, o preservativo é para os moçambicanos tão descabido como seria para nós colocar um guarda-chuva à porta de casa para evitar o cancro...

2 comentários:

  1. Posso garantir que o JeitO é dos melhores preservativos que andam no mercado e ainda por cima é barato!
    Mas sabes?... Nos grandes centros urbanos, como Maputo, as pessoas estão divididas entre a tradição e uma modernidade que lhes é alheia, mas que pouco a pouco se vai infiltrando nas suas vidas, podem não saber a morfologia do virus, mas sabem o que é a doença e como se propaga (não faltam campanhas de sensibilização)e no entanto não se resgardam porque pensam (infelizmente como muitas pessoas dos paises ricos) que só acontece aos outros... E repara que a maioria dos moçambicanos nem são católicos... O que eleva o perigo e o desafio a uma escala ainda maior... Mas a proposito das mudanças comportamentais, recentemente ouvi numa conversa que felizmente já há muitas mulheres que se recusam a serem kutchingadas e que mesmo assim levam uma vida totalmente normal e inserida na sociedade... Ventos ainda lentos de evolução positiva parece-me, mas mesmo assim bons ventos...

    beijo da cidade das acácias.

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  2. Sim, eu acredito que é possível e que caminhamos para melhor. Referia-se sobretudo à realidade que conheço, fora dos grandes centros. Só que às vezes fico fula quando dizem que as campanhas caem em saco roto e que as pessoas não usam o que lhes é dado.

    Se primeiro pensassem em falar a mesma liguagem das pessoas já se tinha avançado muito mais!


    E valha-me Santo António do Google, Ruiva Maria, que tive de ir perguntar ao Dr. Web quem era esse tal de Kutchinga. Lá para os meus lados o levirato chama-se "Pita Khufa", salvo melhor transcrição...

    (um) beijo de mulata

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