terça-feira, 8 de maio de 2012

[iapala] e a terceira lei de murphy

(continuando...)

[Terceira lei de Murphy: se duas coisas puderem potencialmente correr mal e você conseguiu evitar ambas, então ocorrerá invariavelmente uma terceira, muito mais complexa... Bem, tenho de ir ver o que se passa.]

– Até já, mamã, que vou ali perguntar uma coisa...

Fui ter com o enfermeiro que era o mesmo que tinha estado de serviço no dia anterior.
– Sr. Enfermeiro, o menino do berço 3 tomou mesmo a medicação ontem?
– Sim, tomou.
– Mas ele ainda não está melhor... Ele tomou mesmo à sua frente? Não terá cuspido os medicamentos?
– Não. Ele tomou à minha frente.
– Então se calhar era melhor dar-lhe mais uma dose de ciprofloxacina...
– Ciprofloxacina não tem…
– Não tem? Como assim, não tem?
– Não tem. Não tem ciprofloxacina...
– Mas disse-me que ele tomou a medicação!
– Sim, tomou o que havia. O que não havia não tomou.
– Então o que é que ele tomou ontem?
– Tomou multivitamina e paracetamol.
– Mas ontem, quando internei o menino, perguntei-lhe se tinha e disse-me que sim.
– Sim, tem.
– Então? – aquilo não me podia estar a acontecer, valesse-me Santa Rita de Cássia!
– Mas hoje não tem...
– E ontem?
– Ontem também não.
– Mas porque é que não me disse?!
– Irmã?
– Pronto, deixe estar. Obrigada, já percebi. Então tem tetraciclina?
– Tem sim.
– Hoje tem?
– Sim, tem, doutora!
– Vamos então dar ao menino. Não se importa de ir buscar?
– Doutora, tetraciclina nós não damos a criança.
– Está a brincar comigo?
– Não, doutora. Tetraciclina é prejudicial para criança.
– Por favor! Isso são mariquices da Europa!
– Irmã?
– O máximo que lhe pode acontecer por causa da tetraciclina é ficar com manchas amareladas nos dentes.
Af’nal? Mancha nos denti? E então?
– E então pergunto eu! Ele está a morrer. Os pais de certeza que preferem um filho vivo com pequenas manchas nos dentes do que um filho morto com dentes perfeitos!

Olhava para mim como se eu fosse de outro planeta…
– Pois… tetraciclina, é?
– Sim, pode ir buscar, por favor?
– Ah, mas está no armazém. Só quem tem a chave é o Sr. Agostinho.
– E onde está o Sr. Agostinho?
– Está em casa.
– Pronto, está bem, eu desisto. Eu devo ter cipro em casa!

Senhor, dai-me paciência, que eu não sei onde foi que deixei a minha… e sabedoria para entender este povo. Ou, como diria o meu melhor amigo: “Senhor, dai-me paciência, que se me derdes força, vou acabar por lhes bater!”

Fui buscar ciprofloxacina a casa e voltei para a enfermaria. A mãe desta vez entregou-me ela própria a seringa, com um sorriso meio cúmplice. Finalmente já não achava que eu estava a fazer mal ao seu menino. O comprimido que lhe dei fê-la ficar muito mais bem-disposta. Sim, afinal havia um comprimido que ajudaria a tratar o menino. Só o soro nunca seria suficiente aos seus olhos.

(continua...)

6 comentários:

  1. Maria Tereza Estrabon Falabella9 de maio de 2012 às 03:46

    Bom! Agora com o antibiótico a coisa vai.
    Se der para safar o menino de ter manchas amarelas nos dentes melhor, pois ele terá muitos motivos para sorrir!
    Safou-se!!!!
    Maria Tereza

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  2. E eu que venho aqui todos os dias ler-te, sem nunca comentar.
    Estou desejando saber o final. Que o menino se salve. Deus queira que se salve.

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  3. Sim, agora a coisa vai! E sem manchas nos dentes...

    (um) beijo de mulata

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  4. UFA!UFA!
    Um beijinho cheio de força para esse menino tão especial. Afinal, ele teve muito sorte em tê-la como médica.
    Beijinho

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  5. A'fnal!!!!!!!!!!!!!!

    A Dótora não sabe qui tem, mas agora num tem?!?
    Que raio vos ensinam lá nas universidades?!?

    Um beijo da cidade das acácias.

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