[Terceira lei de Murphy:
se duas coisas puderem potencialmente correr mal e você conseguiu evitar ambas,
então ocorrerá invariavelmente uma terceira, muito mais complexa... Bem, tenho
de ir ver o que se passa.]
– Até já, mamã, que vou
ali perguntar uma coisa...
Fui ter com o enfermeiro
que era o mesmo que tinha estado de serviço no dia anterior.
– Sr. Enfermeiro, o menino
do berço 3 tomou mesmo a medicação ontem?
– Sim, tomou.
– Mas ele ainda não está
melhor... Ele tomou mesmo à sua frente? Não terá cuspido os medicamentos?
– Não. Ele tomou à minha
frente.
– Então se calhar era
melhor dar-lhe mais uma dose de ciprofloxacina...
– Ciprofloxacina não tem…
– Não tem? Como assim, não
tem?
– Não tem. Não tem
ciprofloxacina...
– Mas disse-me que ele
tomou a medicação!
– Sim, tomou o que havia.
O que não havia não tomou.
– Então o que é que ele
tomou ontem?
– Tomou multivitamina e
paracetamol.
– Mas ontem, quando
internei o menino, perguntei-lhe se tinha e disse-me que sim.
– Sim, tem.
– Então? – aquilo não me
podia estar a acontecer, valesse-me Santa Rita de Cássia!
– Mas hoje não tem...
– E ontem?
– Ontem também não.
– Mas porque é que não me
disse?!
– Irmã?
– Pronto, deixe estar.
Obrigada, já percebi. Então tem tetraciclina?
– Tem sim.
– Hoje tem?
– Sim, tem, doutora!
– Vamos então dar ao
menino. Não se importa de ir buscar?
– Doutora, tetraciclina
nós não damos a criança.
– Está a brincar comigo?
– Não, doutora.
Tetraciclina é prejudicial para criança.
– Por favor! Isso são
mariquices da Europa!
– Irmã?
– O máximo que lhe pode
acontecer por causa da tetraciclina é ficar com manchas amareladas nos dentes.
– Af’nal? Mancha nos denti?
E então?
– E então pergunto eu! Ele
está a morrer. Os pais de certeza que preferem um filho vivo com pequenas
manchas nos dentes do que um filho morto com dentes perfeitos!
Olhava para mim como se eu
fosse de outro planeta…
– Pois… tetraciclina, é?
– Sim, pode ir buscar, por
favor?
– Ah, mas está no armazém.
Só quem tem a chave é o Sr. Agostinho.
– E onde está o Sr.
Agostinho?
– Está em casa.
– Pronto, está bem, eu
desisto. Eu devo ter cipro em casa!
Senhor, dai-me paciência,
que eu não sei onde foi que deixei a minha… e sabedoria para entender este
povo. Ou, como diria o meu melhor amigo: “Senhor, dai-me paciência, que se me
derdes força, vou acabar por lhes bater!”
Fui buscar ciprofloxacina
a casa e voltei para a enfermaria. A mãe desta vez entregou-me ela própria a
seringa, com um sorriso meio cúmplice. Finalmente já não achava que eu estava a
fazer mal ao seu menino. O comprimido que lhe dei fê-la ficar muito mais
bem-disposta. Sim, afinal havia um comprimido que ajudaria a tratar o menino.
Só o soro nunca seria suficiente aos seus olhos.
(continua...)
Bom! Agora com o antibiótico a coisa vai.
ResponderEliminarSe der para safar o menino de ter manchas amarelas nos dentes melhor, pois ele terá muitos motivos para sorrir!
Safou-se!!!!
Maria Tereza
E eu que venho aqui todos os dias ler-te, sem nunca comentar.
ResponderEliminarEstou desejando saber o final. Que o menino se salve. Deus queira que se salve.
Até que enfim :)
ResponderEliminarSim, agora a coisa vai! E sem manchas nos dentes...
ResponderEliminar(um) beijo de mulata
UFA!UFA!
ResponderEliminarUm beijinho cheio de força para esse menino tão especial. Afinal, ele teve muito sorte em tê-la como médica.
Beijinho
A'fnal!!!!!!!!!!!!!!
ResponderEliminarA Dótora não sabe qui tem, mas agora num tem?!?
Que raio vos ensinam lá nas universidades?!?
Um beijo da cidade das acácias.