Os leões da Gorongosa...
(Parque Nacional da Gorongosa, Sofala)
Karamu significa leão, lá no Norte de Moçambique entre macuas, macondes, e julgo que mesmo até à Gorongosa.
Os macuas, pescadores e agricultores, gente pacífica e islamizada que tradicionalmente usa o arco como arma, eram assim chamados pelos árabes por "usarem pouca roupa". Sendo os mais espalhados e numerosos, estiveram também sempre mais ligados aos portugueses de quem foram aliados.
Os macondes, tão aguerridos quanto hábeis artesãos, são homens do mato puros, cuja arma preferida é a lança. Têm uma longa história de resistência indómita, inclusive foram usados pelos alemães de Von Lettow contra os Portugueses, na I Grande Guerra. Pacificados só em 1936, rebelaram-se novamente com a eclosão dos movimentos armados na África Portuguesa. Ali, no seu planalto, a guerra foi sempre particularmente dura.
Estas terras longínquas, com uma história de isolamento e impenetrabilidade hostil, sempre foram terra de leão e, dos contactos destes com os humanos, sempre se contaram baixas de ambos os lados.
A maior e mais vivida referência que encontrei a leões devoradores de homens‚ foi no livro "Kináni” [Quem vive?], onde o então furriel miliciano Cardoso Mirão faz a sua crónica de campanha na Grande Guerra de 14-18, desenrolada lá no Norte de Moçambique.
Conta que os leões seguiam as colunas do exército, entrando de noite nos acampamentos militares, a que ele assistiu amiúde e com pavor, causando muitas baixas entre carregadores e soldados. Ao longo do livro faz inúmeras referências aos leões e seus ataques à população ou à tropa. Entre outros, descreve com minúcia um ataque a uma patrulha enviada em missão de ligação que foi forçada a regressar na sequência de ter sido cercada e acometida por leões, tendo ficado feridos alguns dos soldados indígenas ao alvejarem-se mutuamente na confusão da defesa.
Ainda José Maria de Pallejá, no seu livro "Sobre la pista de los animales salvages", faz referências quer à agressividade dos leões da região, quer à lenda que vim depois a confirmar como verdadeira, de que os macondes caçavam leões à lança, coisa que diz só os Masai fazerem também!
(continua...)
Kharamu - O Leão Ruge em Moçambique
in Revista Calibre 12, 2001
António Luiz Pacheco
Um pequeno contributo, salvo erros, de leão dito nas diversas e principais Línguas de Moçambique.
ResponderEliminarNORTE
Simba (Kiswahili, Swahili)
N’tumi (Shimakonde, Maconde, Makonde)
M’kango, Lissimba, Livimba (Ajáua, Ciyao, Yao)
N’kango, M’kango (Nyanja, Cinyanja)
Kharamo, Mwatto (Macua, Emakhuwa)
Lihimba, Chinombo, N’cango (Angone)
Kharamo, Kanao, Muatcó (Chirima),
Siipa (Koti)
CENTRO
Podoma, Muhato (Elomwe, Lomué)
Nkalamu, M’pondôro (Cinyungwe)
Podogoma (Echuwabo)
N’kalamu (Sena/Cisena/Chisena – a minha Etnia)
Pondôro, Bondôro, Mbondolo (N’dau, Chindau)
Mbondolo, Shumba, Mphondolo (Shona, Chishona)
SUL
N’ghala, Ngonyama (Tswa, Chitsua, Xitswa)
Ingala, Ngonyama (Tsonga, Shangaan, Xichangana, Changane)
N’gala, Ngonyama (Tonga, Gitonga)
Ngonyama (Chopi, Chope)
N’dau, N’gonyama, N’djiano (Ronga, Chironga, Xironga)
Que maravilha, Mr. 1B!!!
ResponderEliminarSe eu pudesse, estudava estas línguas para sempre... Sobretudo o meu macua, que me fascina! Muito obrigada por me surpreender sempre!
(um) beijo de mulata