quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

[welcome to mozambique] flash mob iapala


Flash mob dos Black Eyed Peas
(Chicago, EUA, 2009)

Na primeira tarde em Iapala, uma das Irmãs veio chamar-me depois de almoço:
- Venha tomar café aqui na varanda, que as meninas querem conhecê-la.

Saí para a varanda que dava para o pátio, onde sessenta meninas já me esperavam, todas juntas e com um sorriso. Acenei-lhes, embora me sentisse ridícula no papel de Rainha de Inglaterra a acenar aos súbditos. Lutei contra o embaraço e cumprimentei-as, apresentei-me, disse quem era e ao que vinha. Elas continuavam em silêncio. Até que lhes perguntei: “E vocês, não se querem apresentar?”

Duas ou três começaram então, casualmente, a entoar uma música simples mas lindíssima, cantada em macua, que queria dizer apenas “Bem-vinda, você é linda, queremos conhecê-la.”, à segunda ou terceira repetição comecei a ouvir, algures, no meio delas, o som de tambores, que descobri depois que eram três enormes batuques que estavam estrategicamente escondidos onde eu não os podia ver. Do centro daquele aglomerado, uma menina deu dois passos à frente e começou a dançar, numa dança lenta e despretensiosa, quase sem sair do lugar… depois passaram a ser duas, depois cinco, numa dança mais rápida e mais elaborada.

De repente, sem que se percebesse qualquer sinal, as outras organizaram-se em filas e começaram a acompanhar a música com palmas e juntaram-se ao cântico, entoando a mesma música a várias vozes, nem sabia dizer quantas. Afinadíssimas, aquelas vozes quase brancas… Por fim, cada uma a seu tempo, todas entraram no espectáculo e cantavam e dançavam, entre alarido, palmas e gargalhadas, num crescendo vertiginoso, cheio de vida e entusiasmo. Elas queriam surpreender-me e mostrar-me do que eram capazes… Dançavam uma dança cada vez mais elaborada, sempre igual, mas reinventada até à exaustão que não me deixava despegar os olhos, sem querer perder cada pormenor, enquanto, duas a duas, subiam as escadas e me vinham cumprimentar pessoalmente.

Aquela encantadora dança de boas-vindas demorou quase meia hora e deixou-me completamente rendida… Estávamos em 2004. Nunca tinha visto um flash mob antes. Não conhecia o conceito. Nem elas, obviamente. Nunca tinha assistido a um espectáculo assim, tão simples, tão surpreendente e arrebatador… e de propósito para mim! Senti que iam ser dias extraordinários ali...

5 comentários:

  1. Ao ler tento visualizar esse cenário maravilhoso...quase que chego a ouvi-las :)

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    1. Subscrevo o "Smiley", consigo ver a cena. Com um pouco de imaginação tb ouço a musica. Ah, Moçambique, a zambézia, é uma doença incuravel. Mas também quem é que está preocupado com a cura?

      Anónimo [o das Finanças]

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  2. Obrigada, vocês são uns queridos!

    (um) beijo de mulata

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  3. totalmente merecido... aos anjos beijam-se-lhes as asas, na falta delas uma flashmob de graças!

    Beijos de Pombal big aple,

    Ruiva

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  4. Senhora Dona Ruiva, não diga disparates...

    Ou já se esqueceu da frase de abertura deste cantinho de África profunda? Citando Oscar Wilde, expliquei a quem me quis ouvir na altura, que "Todos os santos têm um passado. Só os pecadores têm futuro!" lol

    (um) beijo de mulata

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