domingo, 22 de janeiro de 2012

[vozes brancas* #59] temos tanto em comum...

Há tempos, na sala de espera da consulta. Joana, uma menina de 3 anos, com um vestido cor-de-rosa e lacinho na cabeça a condizer, acabada de entrar com os pais, a tossir como se tivesse um motim dentro do peito e os pulmões a tentar escapar por entre as barras da prisão costo-condral, numa algazarra que se ouvia a três metros de distância. Mas claro, bem-dispostíssima. Tudo muito bem tolerado. Nada daquela doença era com ela!

Pedro, também com 3 anos, igualmente com tosse, colega de escolinha da Joana, brinca com camiões e tractores num canto da sala de espera. Ambos, nas palavras das respectivas mães nesse dia ao telefone, tinham "uma tosse cavernosa". Confirmo a tosse em primeira mão. É, de facto, "cavernosa".

Eu à porta da sala, para ir buscar o Pedro [costumo ir buscá-los pessoalmente à sala de espera, que a forma como estão a brincar, como resistem a vir e como os pais finalmente os convencem a ir para a consulta faz parte da própria consulta e da observação]. Assisto ao encontro dos pimpolhos-da-tosse-cavernosa: ambos doentes, ambos eléctricos, ambos desafiadores e com vontade de fazer os pais passar vergonhas! Reconhecem-se. A Joana aproxima-se efusivamente. Pedro não lhe liga grande coisa. Cumprimento os pais, que me agradecem por os receber nesse dia e, nesse compasso de espera, os meninos já estão abraçados, aos beijos, com a Joana a dizer, com a voz mais melosa que se pode ter aos 3 anos:

- Pedro, eu também tenho tosse, queres ser meu namorado?

* Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.

2 comentários:

  1. E porque não se havia tanta coisa igual, a começar pela inocência?
    Beijo
    Graça

    ResponderEliminar
  2. Muita coisa igual, mas se calhar o vírus não era o mesmo... Por isso, em vez de me derreter toda, a minha reacção foi: "Meninos, já aqui ao pé do pai e da mãe, não troquem vírus, por favor..."

    (Sou uma romântica incurável...)

    ResponderEliminar