terça-feira, 31 de janeiro de 2012

[desabafos de uma médica] proposta desonesta...

Confesso, meus queridos amigos, que já estou a ficar um pouco cansada da história da "cabeça grande", da gazela, dos tabus e da ética do povo macua... O problema é que não a podemos dar por terminada porque deixámos um menino em coma no hospital e ainda temos de ir cuidar dele quando acabarmos esta conversa.

Nem sei se alguém ainda se lembra por que é que estamos com esta conversa toda. Eu resumo-vos, então, se não quiserem ir ler a história a partir daqui: um menino de 15 meses chegou completamente em coma ao hospital de Iapala com malária cerebral e, quando percebi que ele estava em risco de vida e só havia um medicamento que o podia salvar, disseram-me que esse medicamento estava  trancado no armazém e que o director do hospital tinha ido à cidade e levado a chave com ele. Fiquei louca! Felizmente, a Irmã Lurdes, pragmática como sempre, acabou por tomar a iniciativa de nos meter a todos no carro até ao hospital mais próximo e conseguimos a medicação para o menino.

Chegámos ao hospital com ele vivo, mas ainda não percebi se fomos a tempo porque ele continua em coma. Neste momento só nos resta esperar e aqui estamos nós, à espera que o tempo passe, enquanto a Irmã Lurdes me tenta acalmar. Em conclusão, estamos num momento "Senhor, dai-me sabedoria para compreender este povo, porque se me derdes força eu vou desatar ao murro a toda a gente!".

Mas já estou cansada... Portanto, eis aqui a minha proposta [é desonesta, eu sei, mas quem diz a verdade não merece castigo]: eu digo-vos que acaba tudo em bem, que o menino fica bom, e passamos à próxima história. Que me dizem?

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