quarta-feira, 30 de março de 2011

[a tale of two bikes] nampula vs new york


I love modern art but...
I prefer it when it works!

É a diferença entre um "não vou a lado nenhum" e um "volto já, vim só aqui à praia dar um mergulho no Índico e já sigo viagem"...

terça-feira, 29 de março de 2011

[a tale of two ladies] a mulher romântica


I love New York...
mas Moçambique é mais forte e mais verdadeiro!

domingo, 27 de março de 2011

[i love mozambique] a fauna das ruas


I love New York, I'd live in Paris but...
Mozambique is exotic!

[street market] maputo vs new york


I love new York but...
In Mozambique people are nicer!

sábado, 26 de março de 2011

[hair salon] nampula vs new york


I love New York, but...
Mozambique is brighter!

[a hora do bolo] o bolo do lapsus linguae

E para quem ficou com curiosidade sobre o post anterior (ou para quem também tem sogros que estão a passar por um momento fervoroso de ovo-lacto-vegetarianismo) aqui vai a receita da pièce de résistance do meu amigo, o Bolo de Canónigos, agora com propriedade vocabular e letra maiúscula.

[Fortemente desaconselhado a diabéticos e a disléxicos. Para os disléxicos, um conselho: prefira o agrião ou os espinafres. São legumes mais seguros...]

Ingredientes
- margarina para culinária
- 4 ovos
- 1,5 dL de óleo de amendoim
- 100 g de canónigos bem lavados
- 380 g de açúcar
- 200 g de farinha
- 1 colher sobremesa de fermento em pó
Preparação
1. Ligue o forno e regule para 180º
2. Pincele uma forma com margarina para culinária e polvilhe-a com farinha.
3. Parta os ovos, separando as gemas das claras.
4. Deite as gemas, o óleo e as folhas de canónigos (cruas) no copo da varinha mágica e triture até estar tudo bem ligado.
5. Mude o preparado para uma tigela, junte ¾ do açúcar, a farinha e o fermento e misture muito bem com a vara de arames.
6. Bata as claras e, quando ficarem em espuma, adicione o restante açúcar e continue a bater até ficarem em castelo bem firme.
7. Envolva as claras no creme verde.
8. Deite a massa na forma e leve ao forno cerca de 40 minutos.

[o meu alter ego] beijo-de-mulata também é maria-sem-vergonha

[Viewer discretion advised.]
Para quem não entendeu o título...


Canónigos... 

Não há como chegar a casa e ser brindado com uma pérola digna de ficar durante gerações a fio naquela parte da história da família que é contada em voz baixa aos sobrinhos adolescentes no final dos jantares de família mais regados.

Um grande amigo meu convidou os sogros [grandes adeptos da comida saudável e a passar por um momento de ovo-lacto-vegetarianismo fervoroso] para um jantar formal e requintado para festejar uma excelente notícia. E, depois de anunciada e brindada notícia, eis que vem a sobremesa, bolo de canónigos, que foi apresentada solenemente pelo anfitrião como a sua pièce de résistance, o "Bolo de Cunnilingus" da sua autoria. Seguiu-se o momento-tomate-cereja de toda a família... Isto sim, meus amigos, é que é o verdadeiro lapsus linguae!

Pronto, era só isto. Consigo sempre resistir a tudo menos à tentação... A emissão segue dentro de momentos.

sexta-feira, 25 de março de 2011

[a tale of two cities] nampula vs new york


I love New York, but...
Mozambique is funnier!

sexta-feira, 18 de março de 2011

[inspiração para uma despedida] hoje inventei uma palavra nova...

(Milevane, Zambézia)

- Obrigado, meu filho. Obrigado por estares sempre onde estás quando regresso das minhas longas viagens. Sabes, hoje inventei uma palavra nova: "sonhar". Mas não sei o que quer dizer... E agora adeus, sinto que já tenho de partir outra vez...
- Mas depois voltas para o Lago dos Encantos, não voltas?
- Volto certamente, meu filho. O Lago dos Encantos fica sempre em caminho!
 Maria Alberta Menéres in À Beira do Lago dos Encantos

quinta-feira, 17 de março de 2011

[refrões de uma vida] o que nos falta ainda?

"Já plantaste os juncos à beira do lago dos encantos, meu filho?"
                                                          Maria Alberta Menéres
(Gilé, Zambézia)

[certezas] os olhos das crianças...

Olhos virgens de perigos e abismos... é neles que se espelha o céu. [Variações de Fernando Pessoa]
(Gilé, Zambézia)

quarta-feira, 16 de março de 2011

[reflexões profundas] a força que um sorriso pode ter!

Olhar-se no fundo dos olhos de uma criança é uma conjugação reflexa...
(Diário do fim do mundo, Gilé, Zambézia)

[instantes] entrou-me água para os ouvidos...

Um hipopótamo [cute!] com água nos ouvidos...
(Kruger Park, África do Sul)

terça-feira, 15 de março de 2011

[anita na savana] o rinoceronte culpado pelo engarrafamento e outros instantes



Vida selvagem, olé!, y sus mirones. A autora dos disparos fotográficos [a R.] declina qualquer inclinação voyerista na maioria dos instantes captados. De facto, foram quase sempre os próprios animais selvagens a manifestar um interesse inusitado pelos olhos que os admiravam...
(Kruger Park, África do Sul)

domingo, 13 de março de 2011

[instantes] a vida a andar para trás

Um safari até então totalmente sem história.
(Kruger Park, África do Sul)

Ou melhor, sem história com enredo, mas com imagens fantásticas. Um nascer do sol arrebatador, girafas, crocodilos, hipopótamos, hienas malcheirosas, rinocerontes indolentes a atravessar a estrada provocando um engarrafamento na selva, birdwatching até mais não, macacos que numa dança hilariante nos atacaram o brunch e que a contragosto tivemos de afugentar (regras da vida selvagem e da selecção natural), elefantes a beber água do rio...

E eis que uma família de elefantes, com três fêmeas, um macho e várias crias se aproxima e atravessa a estrada à nossa frente. Paramos o carro para as fotografias. Que fotogénicos podem ser estes simpáticos bicharocos... Acabam de atravessar a estrada. Avançamos novamente, que já é tarde. Temos mais um selvático engarrafamento atrás de nós (nem na savana nos livramos do trânsito, valha-me São Cristóvão) e ainda há que regressar hoje para o Maputo... Pois... cedo demais...

Os elefantes ainda estavam muito próximos e o macho não gostou que nos aproximássemos dos seus infantes. Infâmia! Volta-se e vem em direcção a nós. Lentamente. Recuamos também lentamente mas temos mais quatro ou cinco carros atrás de nós [que se há pouco lamentavam ter o nosso carro à frente a tirar-lhes ângulo de visão para as fotografias, agora devem estar a dar graças a Deus por não serem os primeiros na linha de ataque]. Acenamos-lhes que também têm de recuar rapidamente. Estamos praticamente encurraladas... O elefante não nos dá tréguas. Não temos muita margem para recuar rapidamente e também temos receio de que se acelerarmos ele possa lançar-se e correr contra nós. Vai urinando pelas pernas abaixo (sinal inequívoco de que está no cio, foi por isso que reagiu desta forma violenta a uma aproximação tão ligeira). Um riso nervoso invade-nos. Duas donzelas ameaçadas por um paquiderme no cio, nunca tal se viu! Um ataque em câmara lenta, de pôr metodicamente os cabelos em pé e os nervos em farrapos. O carro desastradamente faz, de repente, mais barulho. [Fugiu o pé da embraiagem. A R. sussura-me que isto não está a correr nada bem, que foi muito má ideia. Este ruído de motor pode enfurecer o macho. É que nem pensar em desafiá-lo*! Desculpa, R., não foi de propósito...] O ruído, de facto, enfurece o elefante adamastor, metido em brios. Olha-nos de frente, afasta as orelhas parecendo subitamente maior e muito mais ameaçador. Acelera um pouco contra nós. Ai, valha-nos Nossa Senhora dos Aflitos. Um esforço para não recuarmos muito mais rápido. Ele acaba por não acelerar mais. Apesar de tudo não somos uma ameaça assim tão perigosa com que valha a pena gastar energias. Bem... isto até podia ter corrido muito pior. Continuamos a recuar. Os outros carros também recuam. Alguns mais atrás até já fizeram inversão de marcha. O mostrengo há-de desistir. A família continua a afastar-se e ele tem de os acompanhar... É isso que acaba finalmente por fazer. Depois de quase meia hora em que vimos - literalmente - a nossa vida a andar para trás entra novamente na savana. Aceleramos a todo o gás. Ainda faz menção de vir atrás de nós, mas agora não tem hipótese nenhuma, já vamos muito mais rápido do que ele. Um cheiro intensíssimo a urina de elefante macho invade-nos as narinas quando aceleramos. O guia já graceja novamente: "Sentem este cheiro? Desculpem, fui eu..."

Ai, ai... Como dizia uma freira alemã, abanando a cabeça perante os noviços que tiritavam de frio e angústia com crises de malária: "Áfrrica... não é parra todos."

* Já dizia o Senhor de La Mancha que quer seja a pedra a bater no vaso ou o vaso a bater na pedra... quem se magoa é sempre o vaso, portanto vamos lá com calma, juizinho.

sábado, 12 de março de 2011

[instantes] beijo-de-mulata e a vida selvagem


O dia em que eu a R. fomos perseguidas por um elefante no cio...
(Kruger Park, África do Sul)

"One morning I shot an elephant in my pajamas. How he got into my pajamas, I will never know..."

Groucho Marx

sexta-feira, 11 de março de 2011

[instantes] à beira do rio dos encantos

Voltar costas ao rio Molócuè depois de um banho ao fim da tarde...
(Gilé, Zambézia)

[outras palavras] a menina sem palavra

(Uma Estória para a R.)

A menina não palavreava. Nenhuma vogal lhe saía, seus lábios se ocupavam só em sons que não somavam dois nem quatro. Era uma língua só dela, um dialecto pessoal e intransmixível? Por muito que se aplicassem, os pais não conseguiam percepção da menina. Quando lembrava as palavras ela esquecia o pensamento. Quando construía o raciocínio perdia o idioma. Não é que fosse muda. Falava em língua que nem há nesta actual humanidade. Havia quem pensasse que ela cantasse. Que se diga, sua voz era bela de encantar. Mesmo sem entender nada as pessoas ficavam presas na entonação. E era tão tocante que havia sempre quem chorasse.

Seu pai muito lhe dedicava afeição e aflição. Uma noite lhe apertou as mãozinhas e implorou, certo que falava sozinho:
- “Fala comigo, filha!”

Os olhos dele deslizaram. A menina beijou a lágrima. Gostoseou aquela água salgada e disse:
- “Mar”...

O pai espantou-se de boca e orelha. Ela falara? Deu um pulo e sacudiu os ombros da filha. “Vês, tu falas, ela fala, ela fala!” Gritava para que se ouvisse. “Disse mar, ela disse mar”, repetia o pai pelos aposentos. Acorreram os familiares e se debruçaram sobre ela. Mas mais nenhum som entendível se anunciou.

O pai não se conformou. Pensou e repensou e elabolou um plano. Levou a filha para onde havia mar e mar depois do mar. Se havia sido a única palavra que ela articulara em toda a sua vida seria, então, no mar que se descortinaria a razão da inabilidade.

A menina chegou àquela azulação e seu peito se definhou. Sentou-se na areia, joelhos interferindo na paisagem. E lágrimas interferindo nos joelhos. O mundo que ela pretendera infinito era, afinal, pequeno? Ali ficou simulando pedra, sem som nem tom. O pai pedia que ela voltasse, era preciso regressarem, o mar subia em ameaça.
- “Venha, minha filha!”

Mas a miúda estava tão imóvel que nem se dizia parada. Parecia a águia que nem sobe nem desce: simplesmente, se perde do chão. Toda a terra entra no olho da águia. E a retina da ave se converte no mais vasto céu. O pai se admirava, feito tonto: por que razão minha filha me faz recordar a águia?
- “Vamos filha! Caso senão as ondas nos vão engolir”.

O pai rodopiava em seu redor, se culpando do estado da menina. Dançou, cantou, pulou. Tudo para a distrair. Depois, decidiu as vias do facto: meteu mãos nas axilas dela e puxou-a. Mas peso tão toneloso jamais se viu. A miúda ganhara raiz, afloração de rocha?

Desistido e cansado, se sentou ao lado dela. Quem sabe cala, quem não sabe fica calado? O mar enchia a noite de silêncios, as ondas pareciam já se enrolar no peito assustado do homem. Foi quando lhe ocorreu: sua filha só podia ser salva por uma história! E logo ali lhe inventou uma, assim:

Era uma vez uma menina que pediu ao pai que fosse apanhar a lua para ela. O pai meteu-se num barco e remou para longe. Quando chegou à dobra do horizonte pôs-se em bicos de sonhos para alcançar as alturas. Segurou o astro com as duas mãos, com mil cuidados. O planeta era leve como um baloa.

Quando ele puxou para arrancar aquele fruto do céu se escutou um rebentamundo. A lua se cintilhaçou em mil estrelinhações. O mar se encrispou, o barco se afundou, engolido num abismo. A praia se cobriu de prata, flocos de luar cobriram o areal. A menina se pôs a andar ao contrário de todas as direcções, para lá e para além, recolhendo os pedaços lunares. Olhou o horizonte e chamou:
- “Pai!”

Então, se abriu uma fenda funda, a ferida de nascença da própria terra. Dos lábios dessa cicatriz se derramava sangue. A água sangrava? O sangue se aguava? E foi assim. Essa foi uma vez.

Chegado a este ponto, o pai perdeu voz e se calou. A história tinha perdido fio e meada dentro da sua cabeça. Ou seria o frio da água já cobrindo os pés dele, as pernas de sua filha? E ele, em desespero:
- “Agora, é que nunca”.

A menina, nesse repente, se ergueu e avançou por dentro das ondas. O pai a seguiu, temedroso. Viu a filha apontar o mar. Então ele vislumbrou, em toda extensão do oceano, uma fenda profunda. O pai se espantou com aquela inesperada fractura, espelho fantástico da história que ele acabara de inventar. Um medo fundo lhe estranhou as entranhas. Seria naquele abismo que eles ambos se escoariam?
- “Filha, venha para trás. Se atrase, filha, por favor”...

Ao invés de recuar a menina se adentrou mais no mar. Depois, parou e passou a mão pela água. A ferida líquida se fechou, instantânea. E o mar se refez, um. A menina voltou atrás, pegou na mão do pai e o conduziu de rumo a casa. No cimo, a lua se recompunha.
- “Viu, pai? Eu acabei a sua história!”

E os dois, iluaminados, se extinguiram no quarto de onde nunca haviam saído.

Mia Couto in Contos do Nascer da Terra

quinta-feira, 10 de março de 2011

[outras palavras] a vida inteira...

- [Pai,] eu sou mesmo seu filho?
- É filho de quem então?
- Não sei, a mãe...
- As mães, as mães. Que é que ela lhe falou?
- Nada, pai. Ela nunca me contou nada.
- Pois eu lhe vou dizer uma coisa...

E calou-se. A sua voz se engasgou, parecia ter desistido em meio da garganta. Tentou recomeçar, mas redesistiu. Passou a mão pelo pescoço como se limpasse a voz pelo lado de fora. No enfim de um infinito, ele voltou a falar:
- Você é meu filho. E nunca volte a duvidar.

Batia com os dedos sobre os lábios, a lacrar o dito. Até me podia contar como eu fora concebido. Eu não fora gerado logo inicialmente, no início do casamento. Nem de uma só vez. Quando ele e minha mãe namoravam, sempre que o faziam, o céu se desabava em chuva. Debaixo do dilúvio, o casal se prosseguira amando. Faz conta não houvesse mundo nem chuva. Tinham suas razões: pois há ininterruptos anos que eles vinham fabricando seu único primeiro filho. Amavam-se sem paragem. De cada vez que seus corpos se cruzavam, diziam, estavam fabricando mais uma porção do corpinho do vindouro.

- Esta noite vamos fazer-lhe os olhos.
Como fosse esse o produto dessa noite, eles escolheram fazer amor sob o inteiro luar. Escolheram um descampado bem debaixo da lua. E assim fizeram, iluminados, dando seguimento à confecção do menino. Quantos tempos andaram nisso? Se encolhiam os ombros: um menino assim pode demorar a vida inteira...
- Está-me entender, filho?
 
Mia Couto in O Último Voo do Flamingo

[interlúdios] a propósito dos impostos e da quaresma

I wish to be cremated. One tenth of my ashes shall be given to my agent, as written in our contract.
Groucho Marx

Nota: Este post não está relacionado com o facto de ontem ter sido quarta-feira de cinzas. Ou bem... lembrei-me desta frase ontem na missa, mas qualquer pessoa tem direito à livre associação de ideias, certo?

quarta-feira, 9 de março de 2011

[instantes] porque a vida é todos os dias...

As duas irmãs a pilar milho na varanda...
(Gilé, Zambézia)

[conta-me como foi que aconteceu] história de um amor difícil

Batik africano.
(continuando...)

E, entre mimos e rezas da mãe e das Irmãs, lá tinha voltado a levantar a cabeça e a olhar novamente o céu de frente.

Fora então que “aquele senhor” entrara na sua vida. Antes da Independência tinham-se conhecido vagamente em jantares de amigos comuns, mas depois da revolução foram poucos os amigos que tinham ficado e, inevitavelmente, acabaram por se aproximar. Ele era divorciado, pai de dois filhos que a ex-mulher levara para Portugal após a Independência, livre e absolutamente apaixonado por ela. Era um homem pragmático, com uma visão pombalina da vida em geral e do amor em particular. Tinha reconstruído a vida várias vezes e, de cada vez que saía dos escombros de uma vida anterior, apressava-se a enterrar as memórias dos mortos e desaparecidos e a procurar um novo futuro, cuidando de tudo o que ficara inteiro. Ela nem do próprio estado civil tinha a certeza, quanto mais dos sentimentos contraditórios que a assolavam permanentemente deixando-lhe a cabeça e o coração revoltos.

Quando ele dizia que o que era preciso era enterrar os mortos e cuidar dos vivos e que tinha pena que o Marquês de Pombal não estivesse vivo e em Maputo, porque ele sim, haveria de lhe explicar o que fazer, ela respondia que se o Marquês de Pombal estivesse vivo haveria engarrafamentos de meia-noite nas avenidas novas de Lisboa. E não saíam disto…

Não conseguia admitir-se viúva e a última coisa que queria imaginar era que o marido, horrorizado, a encontrasse com outro homem em casa se algum dia regressasse. Por um lado agradecia a presença de um homem íntegro, bem-disposto, europeu e culto ao seu lado, mas por outro, a sua permanência lembrava-a a cada instante da ausência do marido. Durante mais anos do que seria razoável ela proibiu-o de dormir em sua casa, por mais que ele lhe prometesse que se o marido voltasse ele se iria embora. Só a guerra lá fora e o recolher obrigatório estiveram do seu lado nessa batalha, e acabou por vencê-la, numa noite de aceso tiroteio vindo não sei de que bairro dos arredores, em que amanheceram juntos rezando para que a cidade não fosse arrasada. Ele aturou mais birras e maus-fígados do que provavelmente qualquer homem aturaria, incondicional no seu apoio ao desgosto e a todas as perdas, que a cada dia sem sinais de vida do marido se renovavam.

No coração dela ficou sempre um pouco de raiva irracional (aquela que parece que define o sexo feminino) por ele ter representado a confirmação de que o marido estava morto. E da parte dele, claro, nunca se leva pontapé atrás de pontapé, por mais compreensíveis que sejam as razões, sem se ficar um bocadinho magoado. Por isso, à medida que ele ia conquistando terreno e ela ia cedendo àquele amor impossível, à medida que o amor de impossível passava a apenas improvável, à medida que para além de improvável se tornava evidentemente inevitável, ele ia ficando um pouco mais exigente, ela um pouco menos tolerante, ele mais revoltado por ser sempre tratado como um pervertido apatetado, ou como o mau da fita, ela porque em primeiro lugar nunca lhe tinha pedido para ir viver lá para casa, não sabia de que é que ele se queixava. Ele porque queria que ela o amasse da mesma forma louca que ele, ela porque não queria admitir nem para si própria que o amava como ao primeiro marido. Ele porque se queria casar com ela, ela porque nunca se casaria com ele, nem que o marido fosse encontrado morto…

O resultado era um casal em guerra permanente. Uma guerra com patine, que já tinha feito bodas de prata, ora latente e velada, ora uma autêntica batalha campal, em que ele não perdia uma oportunidade de a esmagar com a sua superioridade intelectual, de raça e de género e ela lhe respondia, invariavelmente, com um amuo seguido de uma acusação fortíssima.

Acabaram por nunca ter filhos. Acabaram por nunca oficializar a relação. Viviam em pecado. Um pecado quase palpável, quase visível, de tal maneira estava instalado naquela casa. Não penso que mais alguém, para além deles, acreditasse que existia algum pecado em viverem juntos e quererem reconstruir a sua vida. Mas era esse sentimento infinito de culpa, de interdito, de desejo que não tinham conseguido conter, de cheiro a corpos impossível de disfarçar – sob o pretexto de que os perfumes lhes provocavam dores de cabeça –, era esse sabor a delito depois das primeiras horas da noite que transbordava naquele apartamento enorme no bairro da Polana, cheio de recordações de vidas anteriores e uma vista arrebatadora sobre a baía de Maputo.
(continua...)

terça-feira, 8 de março de 2011

[grande é a poesia, a bondade e as danças...] histórias do melhor do mundo







pessoas que deviam ser obrigadas por Decreto-lei escrever todos os dias! Que deviam deliciar-nos diariamente com as suas imagens, instantes e histórias... seria bem capaz de as prescrever com receita médica e a conta-gotas, para aplacar dores e maus-fígados, tal como prescrevo a Esplanada da Graça, o Gorucho Marx ou a Ginginha do Telhal, dependendo da gravidade da doença...
(Imagens da Tertúlia Africana)

[conta-me como foi que aconteceu] dias terríveis...

(continuando...)

Só quase vinte anos depois é que tinha conseguido saber de fonte segura que tinha ficado viúva poucos meses depois de lhe terem levado o marido…


Um mês depois da fatídica madrugada em que dez homens cobardes armados até aos dentes lhe tinham arrombado a casa e, em poucos minutos, destruído metade da sua vida, descobrira que estava à espera de um segundo filho. No mesmo dia tinha ido à consulta com o obstetra de onde regressara com uma esperança renovada e com o pressentimento feliz de que aquela gravidez era um sinal de que o marido poderia estar vivo e que ainda haveriam de voltar a ser uma família unida e tranquila. Pela primeira vez em semanas saía-lhe do pensamento a imagem terrível e intrusiva do marido a ser violentamente torturado. Mas a alegria durou um momento. Quando regressou a casa, encontrou a sua mãe a chorar agarrada à neta, que convulsivava ininterruptamente há mais de uma hora com malária cerebral. O mundo caía-lhe aos pés pela segunda vez em tão pouco tempo...

Ainda teve forças para pegar na menina e levá-la para o Hospital Central, desafiando os perigos da rua e o recolher obrigatório mas, apesar dos tratamentos e de todas as tentativas para a reanimar, a sua princesa nunca mais recuperou a consciência e faleceu menos de 24 horas depois. Talvez pelo esforço físico, pelo desgosto, pela desistência ou, simplesmente, porque já estava escrito no seu destino, acabou por perder a gravidez, ficando absolutamente à deriva numa depressão profunda. Revoltada por uma revolução com cujos princípios concordava, mas que tinha sido cega e profundamente injusta para com ela e para com as pessoas que antes viviam honestamente, fazendo o país funcionar, sem prejudicar ninguém. Perdida por a justiça não estar do seu lado, por não poder apresentar queixa por lhe terem raptado e possivelmente morto o marido, sob pena de ser presa também e colocar em risco a família de ambos. Revoltada por não ter como recuperar a sua vida, por a maioria dos amigos ter saído do país aproveitando qualquer pretexto para obter a nacionalidade Portuguesa e assim levar os filhos para longe da guerra civil que já despontava. Por o mundo ter deixado de fazer sentido nas regras e valores em que acreditava. De tal maneira ficara perdida, dizia ela, que na altura nem morrer lhe passava pela cabeça.

Refugiou-se durante meses no convento das Irmãs da Consolata, com quem anteriormente colaborava como voluntária na assistência aos mais pobres e às crianças órfãs da guerra colonial e as Irmãs tinham sido incansáveis na tentativa de restituir-lhe um sentido para a vida. E, entre mimos e rezas da mãe e das Irmãs, lá tinha voltado a levantar a cabeça e a olhar novamente o céu de frente.

(continua)

segunda-feira, 7 de março de 2011

[das coisas que me angustiam] muito mesmo...

A baía de Luanda.

A perspectiva de, a curto prazo, passarem a existir milhares de refugiados adicionais em todo o continente... Rezo por ti, Angola. Não posso fazer mais...

domingo, 6 de março de 2011

[conta-me como foi que aconteceu] os dias "atrapalhados"

(continuando)

Aquelas duas aves raras eram… os meus anfitriões! O casal mais disfuncional que alguma vez conheci...

Ela moçambicana, mulata, muito bonita, bem arranjada e sempre maldisposta, com cara de poucos amigos. Ele português, mas já auto-proclamado moçambicano, branco, afável mas com um humor sádico e brejeiro, com a pele tisnada do sol, pouco arranjado e uns óculos enormes de aros de tartaruga que já tinham saído de moda antes de ele os comprar nos anos 70… E enquanto ele ia buscar "a carroça", ela olhava para o tamanho da minha mala com um ar reprovador e ia dizendo, com voz irritada, que estava com uma dor de costas horrível porque o burro “daquele senhor” [sic, referindo-se ao marido] a tinha feito sair de casa para irem para o aeroporto com quatro horas de antecedência!

- Que aborrecido… mas não havia maneira de ter confirmado a hora do voo?
- Desconseguimos… Tentámos telefonar para a TAP, mas ninguém atendeu… E ele tinha tanta certeza de que vínhamos atrasados que quase acidentámos no caminho...

E continuava, resmungava, rabujava, desabafava como uma adolescente com birra. Que estava muito zangada e com uma dor de cabeça excruciante por causa daquela gente toda a barulhar por ali... [As conjugações verbais moçambicanas começavam a entrar-me pelos ouvidos adentro, numa cacofonia divertida.] E que não podia ter dores de cabeça por causa dos nervos, porque tinha os nervos muito sensíveis desde que o marido morrera.

E como se eu olhasse para ela com um ar levemente confuso apressou-se a acrescentar:
- Sim, tenho sofrido muito... "Aquele senhor" não é o meu marido.

E ali mesmo, nem dois minutos depois de nos termos visto pela primeira vez, fiquei a saber o essencial da sua história trágica. Que se tinha casado pela primeira vez aos vinte e um anos com um homem também moçambicano, mulato, inteligente e romântico, com um coração profundamente generoso que a fizera muito feliz nos anos que precederam a Independência. Na altura eram ambos funcionários públicos e tinham uma filha saudável e lindíssima.
Mas, no período “atrapalhado” que se seguiu à revolução da Independência, o marido tinha sido preso e levado para um campo de extermínio, acusado de ser contra-revolucionário por ter estado do lado dos colonos, quando o seu único crime era ter pertencido à classe média moçambicana e ter sido funcionário público do governo Português. Juntamente com centenas de outros homens tinha sido torturado e nunca mais fora encontrado. Nem morto nem com vida. Só quase vinte anos depois é que ela tinha conseguido saber de fonte segura que tinha ficado viúva poucos meses depois de lhe terem levado o marido…

(continua...)

[instantes] a bola de futebol


Uma bola de futebol artesanal, feita de sacos de plástico, preservativos - surripiados nas escolas e centros de saúde - e pequenas fitas de casca de árvore... Uma obra de arte que rebola e salta como qualquer bola de futebol profissional e faz correr as crianças durante tardes inteiras.
(Gilé, Zambézia)

[até sempre cantemos] malangatana


Malangatana cantando na cerimónia de inauguração do seu monumento escultórico "Paz e Amizade".
(Barreiro, 2009)

[Acaso não haverá por aí alguém que seja fluente em Changana e possa vir aqui ao mato traduzir esta pérola? É que, por culpa do Professor, desde manhã que esta música se tornou num music worm, assim bem ao jeito de Oliver Sacks, e não consigo parar de cantar "iu pam manhaiúú"... Isto, claro, admitindo que ele está a cantar em Changana... Eu só posso jurar que não é Macua nem Lomuè... Agradecida. Kanimambo.]

sábado, 5 de março de 2011

[vozes brancas #42] ...e vidas pequeninas

Os médicos (felizmente) também se enganam. E eu tenho tido a graça de uns enganos muito felizes... Quem convive regularmente comigo sabe que acompanho quase diariamente duas meninas gémeas extremamente doentes. Quase sempre internadas, com internamentos longos por uma sintomatologia monótona e desesperante (vómitos incoercíveis), um atraso de desenvolvimento gravíssimo para a idade e um crescimento mais do que deficiente. Têm uns pais fantásticos, que apesar de todo o desgaste emocional, sempre a dobrar, já me conseguiram dizer coisas como: "Ao menos as nossas meninas têm-nos a nós, que as adoramos. Há crianças doentes em instituições que não têm mesmo ninguém..."

Há dois anos a mãe ligou-me a dizer que achava que estava novamente à espera de bebé... Que não tinha sido planeado, mas que estava feliz. Gelei. Acho que nem consegui dar-lhe os parabéns de imediato... Já tínhamos tido "a conversa" e eu já lhe tinha dito que a doença das meninas, apesar de não diagnosticada, era genética e que a mãe era portadora da mutação com quase 100% de certeza. Ela, pelos vistos, não tinha entendido a situação nessa perspectiva. Na analogia da garrafa de vinho, eu tinha-lhe dito que a garrafa estava mesmo quase vazia e ela ouviu que podia estar talvez um bocadinho cheia. Nem que fosse só um bocadinho. Controlei-me. Enviei-os à consulta de aconselhamento genético pré-natal mas não fui com eles. Era uma conversa demasiado íntima para estarem na presença de outra pessoa, pensei. Mas depois da consulta, quando lhes perguntava o que lhes tinha sido dito, respondiam com evasivas. Claramente não queriam falar sobre o assunto.

Quanto a mim, por um lado acreditava que lhes tinha sido bem explicada a elevadíssima probabilidade de terem um terceiro filho muito doente e que a decisão em consciência era deles. Por outro lado tinha ideia de que eles estavam completamente a leste daquilo que os esperava. Durante meses tentei puxar o assunto de todas as maneiras e feitios mas a mãe ignorou-me olimpicamente. Tenho a certeza de que se me tivessem perguntado directamente eu lhes teria respondido sem hesitar aquilo que pensava. Mas, por fim, a gravidez chegou às 24 semanas e eu deixei de falar no assunto. Só mais de um mês depois é que me conseguiram fazer "a pergunta"... Mas claro, o que é que eu iria responder já às 30 semanas a um coração de mãe tão maltratado? Que nos tínhamos de encomendar a Deus e confiar na sorte. Que tudo haveria de correr bem. (Como dizia a minha avó, ao mal feito aberto o peito.)

E há um ano e meio nasceu um menino. Comecei a segui-lo com o coração tão pequenino... Desolada porque, infelizmente, seria a mim que caberia, mais tarde ou mais cedo, dar a má notícia aos pais. Mas o tempo passava e o menino ia sorrindo, segurando a cabeça, olhava para todo o lado com um olhar vivo e curioso, palrava, comia que se desunhava, aumentava de peso e crescia como se nada fosse... Para meu espanto, cada aquisição era uma conquista sem esforço. E quanto mais o tempo passava, maior era a certeza que íamos tendo de que o menino era um totalista do Euromilhões. Mais de 90% de probabilidade de ser doente e sai-nos um menino normal!

Na semana passada foi a consulta dos 18 meses. Tirei a prova dos nove. Como é quase intuitivo, a mais cabal demonstração de inteligência de uma criança pequena é o jogo simbólico. É a capacidade de brincar ao faz-de-conta. Perguntei aos pais se ele já brincava.

- Sim, Doutora - responderam. - Já vai buscar os bonecos, dá-lhes banho, faz ó-ó e dá-lhes de comer. Ah... e faz uma coisa muito engraçada. Nunca vai buscar só um. Anda sempre com dois ao mesmo tempo. Os "filhinhos" dele também são gémeos!

[na costa do castelo] lisboa anoitecida

Ai, Lisboa, romântica, românica, de alfafa e Alfama cheia de Graça, das colinas, das subidas em primeira, dos buracos nos passeios, das quase quentes noites de Inverno, das noites quase dormidas, dos passeios ocupados, dos passeios empedrados, dos caminhos intermináveis. Ou intransitáveis, não sei bem. Lisboa da tua presença, onde tudo me falta. A luz, a lua, as esteiras, as estradas, o estacionamento. E um prontuário ortográfico.
(Lisboa em baixa resolução)

[welcome to mozambique] também tu, nampula?

Em pleno coração de Nampula, o bairro de Muahivire (do Macua: "interdito") proporciona-nos um momento de irrealidade que nos faz sorrir de surpresa... São inúmeros e fervorosos os adeptos do Benfica do Fim do Mundo! Já num bairro no outro extremo da cidade* temos o mercado Sporting, a nossa já conhecida Barbearia Alvalade XXI, o talho José Alvalade e adeptos mais incondicionais do que em Lisboa nas noites de dérbi...
(Nampula, Moçambique)

* Eu gostava que houvesse uma Segunda Circular em Nampula, para Lisboa ser ainda mais perto, mas está visto que não há segundas circulares no fim do mundo. Ou então é o mundo que termina a doze centímetros da segunda circular e eu, ao fim destes anos todos, ainda não dei por nada...

quinta-feira, 3 de março de 2011

[instantes] brincando ao faz-de-conta

O fantástico engenho das crianças...
(Gilé, Zambézia)

[refrões de uma vida] a força que um sorriso pode ter!

A mulher que vendia Nikussi (peixe seco) no mercado...
(Gilé, Zambézia)

quarta-feira, 2 de março de 2011

[publicidade institucional] bodas beijo-de-mulata


Vamos dar início às celebrações das bodas beijo-de-mulata deste blogue, já que faz hoje um ano que começámos aqui no mato a contar as histórias das improbabilidades que nos vão acontecendo aqui e ali... E foi precisamente esta a primeira e tímida história de uma das maiores lições que aprendi com os Macuas (talvez apenas o Sr. umBhalane, o primeiro comentador desta casa, se recorde):

Há alguns anos, estava eu a fazer voluntariado médico em Moçambique, quando me vieram trazer um rapaz de 15 anos com os gânglios do pescoço muito aumentados de volume - era possivelmente um linfoma.

Duas semanas depois, ainda a tentar tratar da sua transferência para o Hospital Central de Maputo, observei novamente o adolescente e notei que os gânglios se tinham reduzido a metade. Nos entretantos a família tinha procurado um curandeiro que lhe dera a beber chá de beijo-de-mulata. Obviamente duvidei do curandeiro, duvidei de mim mesma, acreditei só no prognóstico e nos meus livros e com o acordo da família transferi o menino para a capital...

Anos depois, inteiramente por acaso, vim a descobrir que desta flor lindíssima se extrai a vincristina, um agente de quimioterapia activo contra o linfoma...

terça-feira, 1 de março de 2011

[conta-me como foi que aconteceu] valha-me nossa senhora das alfândegas...

(continuando)

Aproximei-me do tapete da alfândega. Respirei fundo uma última vez: “Calma!”, repeti para mim própria. “Close your eyes and think of Africa!


Abri a minha mala à senhora da alfândega e, resignadamente, deixei que ela ma escrutinasse de uma ponta à outra, desligando-me completamente para observar, expectante, o que se passava do lado de lá das chegadas.

Um caos indescritível quase na penumbra, com dois ou três motoristas fardados exibindo bem à vista papéis com erros ortográficos nos nomes mais simples, pessoas abraçando-se, tentando simultaneamente evitar aos gritos que os bagageiros lhes levassem as malas, um casal de meia-idade que discutia violentamente como se estivessem prestes a romper o casamento, um casal que se diria pronto para se amar ali mesmo, tal era a sede com que se exploravam mutuamente, famílias inteiras gritando na alegria do reencontro.

 E, enquanto tentava entrever os meus anfitriões, que tinham combinado comigo que levariam um papel com o meu nome escrito, ia-me apercebendo de que não havia ninguém por ali à vista com um papelinho, por mal amanhado que fosse, com a minha graça, e pensava como raio nos haveríamos então de reconhecer se nunca nos tínhamos visto... ou pior, se eles afinal não se teriam esquecido de me ir buscar. Felizmente, com toda esta angústia, a senhora da alfândega deve ter-se apercebido pelo meu olhar vago de que não teria a menor hipótese de estabelecer um clima de extorsão porque eu estava com o pensamento muito longe dali! Aquela angústia súbita foi o melhor que me podia ter acontecido, porque devo ter sido a única pessoa dessa noite que passou incólume na alfândega por não se encontrar em condições de negociar e fui mandada seguir rapidamente, acabando de vez com as minhas preocupações e expectativas…

Foi então que, do outro lado da alfândega, dei de caras com um papel com o meu nome escrito e compreendi, com um baque, que tinha estado em negação aquele tempo todo. Eu não olhara para aquele papel porque ele estava precisamente na mão da mulher do casal de meia-idade que discutia violentamente. Aquelas duas aves raras eram… os meus anfitriões... O casal mais disfuncional que alguma vez conheci!
 
(continua)