(continuando)
A minha estreia em Moçambique não podia ter sido pior… O meu avião tinha descolado da Portela com duas horas de atraso e ainda tinha ido primeiro a Joanesburgo, uma rota programada mas não habitual para aquele dia, pelo que chegámos a Maputo duas horas depois do previsto e quatro horas depois de os meus anfitriões terem chegado ao aeroporto para me buscar. Como se isso não bastasse, a fila para carimbar vistos e passaportes era interminável (os vistos e passaportes à primeira nunca estão bem, é sempre preciso fazer muitas contas, de cabeça, de papel e, às vezes, de carteira, para fazer ver aos funcionários da imigração que os dias que lá vou ficar são os dias que constam no bilhete de regresso e que não, não tenho de lhes dar dinheiro para me fazerem entrar no país porque o vou fazer legalmente!).
Logo a seguir, sem tempo para respirar fundo, tive de enfrentar sozinha o problema seguinte, que foi passar na alfândega com a bagagem, sem fazer a menor ideia do que era a alfândega de Mavalane. Eu sempre fui optimista, mas do meu estado de espírito na altura só me recordo de uma vaga sensação de pânico, porque afinal de contas estava completamente sozinha. E em África pela primeira vez…
A angústia confirmou-se quando me deparei frente-a-frente com um cartaz já amarelecido que numa das paredes anunciava em letras garrafais: “Senhor passageiro, suborno é crime!” Ai, valesse-me Nossa Senhora das Alfândegas, que aquilo não augurava nada de bom… O aeroporto de Maputo era conhecido na altura ser muito difícil de atravessar sem ficar com objectos de valor apreendidos pelos funcionários, a quem quase sempre era necessário oferecer dinheiro e presentes para se poder passar com a bagagem. Assim mesmo, à descarada... Ou melhor, era conhecido mas - passe o pleonasmo à Marquês de la Palice - apenas por quem conhecia o facto… Eu não conhecia nada e a primeira vez que tal me passou pela cabeça foi mesmo segundos antes do confronto final. Ou seja, com tudo isto, já passava das 23 horas, numa jornada que para mim começara às 4 da manhã quando, exausta e transpirada, apreensiva com o que me esperava assim que transpusesse aquela última barreira que me separava de Maputo, furiosa pelo que tinha acabado de passar na imigração e desesperando por um banho e por uma cama me aproximei do tapete da alfândega. Respirei fundo uma última vez: “Calma!”, repeti para mim própria. “Close your eyes and think of Africa!”
(continua)
Uiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!!!!!!............
ResponderEliminarE agora? Não me assuste... Eu vou a 14 de Abril...
Eu nunca disse que tinha sido fácil... Agora é ligeiramente diferente (para melhor), mas mantenha os olhos abertos!
ResponderEliminar(um) beijo de mulata
há algo de tão honesto no desgaste do cartaz, que ao ler isto não conseguir sentir raiva dos funcionários da imigração. :)
ResponderEliminarMr. bagaço, eu também não senti raiva... estava demasiado assustada na altura. Hoje em dia, se a situação fosse exactamente a mesma (que não é muito diferente, mas pronto...) talvez respirasse fundo e pensasse como de habitual: "Isto não é revoltante, isto é exótico!"
ResponderEliminarMas a verdade é que tenho alguma dificuldade em deglutir aquilo que em Moçambique se chama de "cabritismo". Ou seja, "cabrito come onde está amarrado". Se trabalho no aeroporto vou extorquir dinheiro aos passageiros, se trabalho na polícia de trânsito...
Mas nesta altura eu ainda não estava apaixonada. Podia zangar-me à vontade que não tinha nada a perder!
(um) beijo de mulata
Ai, como são diferentes os 20 vistos dos 30...
ResponderEliminarOlá, Pedro, bem regressado do Oriente longe! Já andávamos a sentir a sua falta aqui no mato... Que tal a viagem? Revigorado e com mais histórias para contar?
ResponderEliminar(um) beijo de mulata
Olá, Moo. Imagine que o mato está cada vez mais tecnológico e, lá na Índia, tinha wireless por toda a minha volta. Apesar disso, não liguei o MacBook Pro para outra coisa que não fosse ouvir música...
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