quinta-feira, 21 de outubro de 2010

[publicidade institucional] beijo-de-mulata



Beijos-de-mulata na Fortaleza da Ilha de Moçambique

Vinca rosea é nome científico desta flor silvestre, acrescentada de vulgar por Lineu. Mas também é o nome de que menos gosto...

Em Moçambique, ela é como o amor dos simples e das mulheres fatais, aparece sem se saber como, explode como se o destino fosse inevitável, nasce em qualquer degredo, cria-se em qualquer chão*. E também, como o amor dos simples e das mulheres fatais, dependendo de como o tomamos e de quem no-lo dá a beber, tanto pode conter um medicamento como um veneno em potência: em doses certas pode até curar a doença mais grave, mas em excesso mata mesmo, sem apelo nem agravo. E por isso, em Moçambique, tem nome de mistério e nome de feitiço, beijo-de-mulata...

No Brasil, esta flor é como o amor dos devassos, não pede licença para crescer por toda a parte, nasce em qualquer degredo, cria-se em qualquer chão. E como não escolhe os terrenos por onde cresce e não pede permissão para se reproduzir desenfreadamente, o seu nome é maria-sem-vergonha.

Em Portugal, é como o amor das mães, nasce em qualquer degredo, cria-se em qualquer chão… cresce por entre as pedras da calçada, qualquer lajedo a aceita, galga terrenos, sobe montanhas, apazigua quem a contempla. É como o amor que nos aconchega a colcha e nos sussurra baixinho "gosto de ti". É como o amor que nos mordisca a orelha esquerda e nos deseja um terno boa-noite. [Ah, o mordiscar da orelha esquerda não faz parte do amor de mãe? Tudo bem, mas faz parte do boa-noite... Bem, era o meu lado brasileiro de maria-sem-vergonha a falar...]

* Verso de Miguel Torga

2 comentários:

  1. Pronto, já tá... já o li todo. Agora resta esperar mais memórias de Àfrica e não só :-)
    Lourencinha

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  2. Muito obrigada! Há por aqui tanto disparate que não vale os bits e bytes onde está escrito, quanto mais ser lido. Mas, por isso mesmo, um obrigada ainda maior!

    (um) beijo de mulata

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