segunda-feira, 17 de abril de 2017

[serviço público beijo-de-mulata] sarampo, o que todos podemos fazer?

Este blogue raramente faz serviço público (exceto, pronto, daquela vez em que vos ensinei a ajudar a dar à luz numa bomba de gasolina e pouco mais). Mas hoje estou fora de mim! Um surto de sarampo, valha-me Santa Rita de Cássia?! Têm-me ligado diariamente. Sobretudo os pais dos bebés com menos de 12 meses. O que podemos fazer relativamente ao surto de sarampo? Há alguma medida a tomar? Podemos fazer algum tipo de vacina?

Os pais que têm os filhos no jardim de infância têm especial razão em estarem preocupados. E se considerarmos que a primeira dose aos 12 meses pode não ser eficaz (ou seja, a dose dos 5-6 anos não é um "reforço", mas uma segunda oportunidade de vacinação), em cada jardim de infância há dezenas de crianças suscetíveis. Assim, a única maneira de conter um surto é aumentar a imunidade de grupo.

O mais importante é sensibilizar os pais de que a vacina é para ser dada aos 12 meses. Mesmo aos 12. Não adiar para os 13 porque o menino está constipado/ teve uma bronquiolite na semana passada/ anda a comer mal/ ainda não introduziu o ovo na alimentação*. E neste ponto as nossas equipas de enfermagem fazem muitas vezes o movimento contrário: "O menino está adoentado, volte cá para a semana". A bebé de 13 meses que teve sarampo há poucos dias pode bem ter sido um caso desses. Cabe aos pais responder: "Para a semana não posso, tem de ser hoje!" E que a vacina dos 5-6 é para ser dada mesmo aos 5 anos. Acabadinhos de fazer.

Outra coisa é pedir aos pais e todos os familiares, empregadas domesticas, babás, etc, para reverem o seu próprio boletim de vacinas. Procurar as doses da VASPR (ou VAS para os nascidos antes do final dos anos 80).

A outra coisa que se pode fazer (eu própria já escrevi à diretora do Colégio do meu filho) é pedir a todas as pessoas com responsabilidade na contratação de funcionários ou na sua saúde ocupacional que revejam o estado vacinal dos seus colaboradores. Geralmente na contratação é pedido o boletim de vacinas, mas a principal preocupação é a vacina anti-tetânica. E bem. Geralmente é a que está desatualizada. Mas será que viram com o mesmo cuidado a vacina contra o sarampo? Nunca é demais confirmar.

E é isto. A ver se a coisa passa.

* Há dois meses tive de me zangar com uma enfermeira que se recusava a dar a vacina a uma bebé de 9 meses que ia para Angola porque a menina ainda não tinha introduzido o ovo. Por sorte a mãe ligou-me e disse à enfermeira que se queria ir contra as orientações da DGS que escrevesse e assinasse com letra bem legível que eu ia tomar as providências necessarias! Há muito que não me acontecia tal coisa, mas nunca é demais avisar os pais das falsas contraindicações da vacina.

11 comentários:

  1. Não sei se passa.... infelizmente! Esta moda anti vacinas enraizou-se e temo que só um surto à séria, com diversas mortes, é que fará algum efeito nestas convicções bacocas! :(

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  2. Obrigada pelos conselhos. Também estou preocupada por causa do meu miúdo, que tem só a 1ª dose da vacina, claro, dada a idade.
    As manias das teorias das conspirações das malvadas das farmacêuticas dão nisto, infelizmente...

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  3. E que fazer quando a criança e alérgica a ovo? Há sempre essa possibilidade, não é?

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    1. Isso está tudo previsto, que já andamos nisto há muitos anos. Há alergias e alergias. Quando a alergia é apenas ligeira (umas borbulhas e comichão), a vacina pode ser administrada normalmente. Quando a a alergia se apresenta sob a sua forma mais grave - a reação anafilática - deve ser administrada em meio hospitalar e com acesso a cuidados intensivos. No meu hospital, mesmo nestes casos gravíssimos, nunca houve qualquer acidente! Insistimos sempre que a doença é pior do que qualquer reação à vacina, que essas podemos e sabemos bem tratar. As doenças por vezes não conseguimos.

      (um) beijo de mulata

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  4. Obrigada pela partilha de informação... eu também estou um bocadinho preocupada pois o nosso Gustavo só tem a 1 dose (pois só tem 3 aninhos). Papás e cuidadores sejam cautelosos e vacinas crianças e adultos. Obrigada e muitos beijinhos

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  5. Não lhe parece que a sua perspectiva está um bocadinho viciada por aquilo que presenciou em Moçambique, e que se passou sobretudo com crianças subnnutridas - que não é bem a realidade portuguesa??
    Antes de haver vacinas - e não foi assim há tanto tempo! -, os pais não andavam especialmente preocupados com a doença que, na grande maioria dos casos, é benigna.
    Não estará este serviço público a contribuir para uma preocupação excessiva dos pais??
    Diga nos lá qual é a prob de que a vacina não seja eficaz na primeira toma?
    Mónica

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    1. Se estou a exagerar? Já houve mortes em quase todos os países onde houve surtos. Os pais preocupavam-se e muito com o sarampo e com as outras doenças que agora são evitáveis. Tive três tios que morreram com difteria. Os meus pais tiveram inúmeros colegas com paralisia da polio e um amigo meu da escola morreu de uma complicação tardia do sarampo por ter contraído sarampo antes dos 12 meses.

      Há pouco tempo morreu um menino em Espanha com difteria. Tinha 6 anos e 0 doses da vacina!!!

      Infelizmente voltou a haver na Europa, já nesta década, casos de panencefalite esclerosante subaguda. Se me conseguir indicar UM caso que tenha sobrevivido eu deixo de me preocupar. Sobretudo porque todas estas doenças são evitáveis. A vacina nem sempre é eficaz na primeira dose (7% não ficam imunes).

      (um) beijo de mulata

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  6. eu também sei de alguns casos de pessoas que desenvolveram doenças auto-imunes com a toma das vacinas.

    no meu tempo todos tínhamos sarampo. não conheço nenhum caso q tenha levado à morte (eu tive mais irmãos e primos, fomos todos corridos).

    isto para dizer que me está a falar de casos pontuais, mas a esquecer todos os outros, muitos mais, em que a doença teve um desenvolvimento benigno. não quero dizer que não nos devamos preocupar, estou a dizer que se calhar não vale a pena empolar demasiado e levar ao histerismo social. digo eu, que não sou médica, claro. até porque só através da vacinação o problema não será resolvido? - as pessoas apanham a doença na mesma, não é?

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    1. As vacinas não são perfeitas. Mas são o melhor que temos para prevenir doenças que podem ser benignas como a rubéola, por exemplo. Mas não passa pela cabeça de mulher nenhuma ter um filho sem estar imune. Lá porque não lhe calhou "a fava" a si nem a nenhum dos seus não quer dizer que o sarampo seja uma doença benigna! Mesmo... E espero que a bebé de 13 meses escape das complicações tardias, essas sim, invariavelmente fatais.

      As pessoas não apanham a doença se estiverem vacinadas. E os bebés também não porque recebem anticorpos da mãe que duram pelo menos até aos 6 meses.

      (um) beijo de mulata

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  7. Eu tive problemas com uma enfermeira que não queria dar a vacina ao meu filho aos 11meses. Íamos para Angola e não regressaríamos tão cedo... foi um autêntico stress mas acabou por dar, depois da médica pediatra se responsabilizar. Uma pergunta... no meu caso, nascida em 77 e que tive sarampo em pequena, sou imune?

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    1. Se o seu sarampo foi diagnosticado por um médico provavelmente era mesmo sarampo, portanto será certamente imune. Se os seus pais forem vivos pergunte como estavam os seus olhos, se estavam muito vermelhos e lhe custava encarar a luz era certamente sarampo. Na dúvida pode sempre fazer uma análise simples para verificar a imunidade, sobretudo se estiver a pensar ter mais filhos, para assegurar que lhe transmite bons anticorpos de proteção.

      (um) beijo de mulata

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