Esta noite, estava eu sentada com o meu baby-de-mulata, no sofá, de mãos dadas, a ver um filme da Disney, quando recebo um MMS de uma mãe aflita. Geralmente são fotos que me apresso a apagar porque apesar de compreender que os pais queiram ilustrar o sofrimento que descrevem e sentem literalmente na pele dos seus bebés (e que não se sintam à vontade para descrever com propriedade vocabular as alterações que veem), invariavelmente colocam-me um pouco desconfortável quando se trata de assaduras e candidíases de zonas íntimas. Há fotos que não me importo de ver, mas que não quero manter na memória do telefone...
A imagem, desta feita, mostrava uma criança serenamente a dormir, com uma borbulha tipo vesícula bem focada sobre o olho... E a pergunta: "Será varicela, Doutora?"
Seguiu-se mais uma troca de mensagens animada. A mãe respondia que não, que não tinha muitas borbulhas mais, só mais dus ou três dispersas pelo tronco. Que havia um primo que tinha inciado a doença dias antes. Ao que respondi que o período de incubação não é tão curto, só se se tivessem infetado ao mesmo tempo há duas ou três semanas. Enfim, chegámos à conclusão de que era necessário aguardar a evolução para fazer o diagnóstico.
Horas depois, pelas 04:00 da madrugada recebo nova MMS. Desta feita, uma mancha vermelha meio esborratada, ao lado de um ponto preto, num fundo branco. Meio estremunhada, com cara de ponto de interrogação ensonado leio a mensagem: "Doutora, acho que matei "varicela". Estava cheia de sangue e agora jaz na parede do quarto. Obrigada pela atenção."
E pronto. Paz à sua alma...