domingo, 12 de abril de 2020

[lockdown trauma] nada será igual


Mini-baby-de-mulata em 2025, resolvendo os TPC de matemática:

- Mãe, mas por que raio é que o João encontrou 50 rolos de papel higiénico na despensa, mais 100 rolos no armário da cozinha e 20 na arrecadação? E por que é que quase todos os problemas de matemática falam de papel higiénico?

Eu:

- Er… Sabes, querida, na primavera de 2020... er... deixa estar, acho que nunca ninguém percebeu também. Faz só as contas...

sábado, 21 de março de 2020

[dias de lockdown] retornar a casa


Esta tarde cheguei a casa, vinda do hospital. Respirei fundo, concentrei-me e, a custo, tirei os sapatos na minha "Zona Covid" à entrada de casa. Passei, com alguma ginástica, um pé de cada vez sobre a linha imaginária que separa a "Zona Covid" da "Zona não-Covid" para calçar os chinelos do outro lado da barricada. Deixei a "mala Covid" na "Zona Covid" e a lancheira na "Zona não-Covid". Tranquei a porta. Movo-me em casa como num terreno minado. Estou irremediavelmente freak ou, em bom francês: "apanhada da pinha". Fui lavar as mãos e voltei para a zona da barricada para iniciar o penoso processo de me despir e colocar a roupa sem tocar na parte de fora do "saco-do-lixo-Covid" que guardará a roupa que a minha empregada não pode manusear, sob pena de se infetar. Voltei para a casa de banho. Lavei as mãos. Fui tomar banho e vestir roupa de casa. Aterrei no sofá, onde o meu corpo pertencia há mais de meia hora de gestos cautelosos e esforços insanos... Cubro-me com a manta, que a casa está fria de tanto arejar nestes dias de fim do mundo. Vou finalmente telefonar para a minha mãe. Olho para o lado e: Com mil raios! Salto de dentro da manta e escapa-se-me um palavrão que emudece o silêncio que me acompanha. Deixei o telefone no carro, caramba!