domingo, 24 de fevereiro de 2013

[a quebra do silêncio] simplex III

Pois que o mato andou calado durante uns tempos, em modo de hibernação, e por aqui só se ouvia o chilrear dos passarinhos no cimo dos cajueiros e pouco mais. Em parte isso deveu-se ao facto de o meu computador ter tido uma paragem curto-circuitória e eu não me ajeitar muito a escrever no Marvin, o meu andróide paranóide. Foi difícil sobreviver à constatação dolorosa de que o backup que eu tinha dos discos já tinha para cima de um bom par de meses, mas felizmente parece que a memória do bicho está intacta, tinha era mais cotão na ventoinha do que uma casa de três homens solteiros sem empregada, e ainda teve mais um diagnóstico que neguei violentamente mas que toda a gente sabe que é verdade: sim, eu  confesso, adormeço com ele ligado quase todas as noites. Mas adiante, que estava a explicar-vos esta silly season fora de horas.

Em parte também estivemos ocupados a tentar tratar do cartão de cidadão do "baby-de-mulata". Como ainda estamos naquela fase cinzenta em que ainda não temos a adoção plena mas já temos vontade de viajar, fomos tentar tratar dos documentos obrigatórios, os que qualquer cidadão deve ter e aos quais tem direito. Pois... Não conseguimos. Por mais que me informe através da linha de apoio, quando chegamos à hora da verdade falta sempre algum papel. Ou uma cópia. Ou três cópias. Agora já sabemos que temos de ir à cidade de origem do baby buscar mais uma certidão. Mas um dia... ah, um dia... Um dia, meus amigos, hei de sair triunfante da Loja do Cidadão como esta heroína aqui abaixo!


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

[casa sem mãe é um deserto] a metáfora

Depois de postar o provérbio africano ali abaixo, que diz que sem mãe, qualquer lar é um deserto, fiz o caminho de volta do mato até Lisboa e calculem que só então me apercebi que esse provérbio, para ser verdadeiro, aqui não pode passar de uma metáfora. Onde se lê "mãe" tem de se ler "carinho", nada mais. Aliás, na semana passada estive num encontro de adoção com pessoas que adotaram crianças há menos de seis meses e conheci dois homens solteiros (ou divorciados, ou coisa que o valha, que isso não me interessa, amigas, não se ponham já a sorrir com cara de caso) que se meteram na aventura de adotar uma criança sozinhos. A casa deles não tem mãe mas, pelo que me contaram, é um oasis que os meninos encontraram no seu deserto emocional.

Um deles, o F., falou-me de peripécias absolutamente desconcertantes, ainda muito recentes, com o filho de cinco anos, que lhe perguntou, da primeira vez que foram ao supermercado, como se chamava a senhora da caixa. Ele, um pouco encavacado por a senhora os estar a ouvir, respondeu que não sabia, que não a conhecia. "Então porque estás a brincar com ela ao Monopólio?" E foi então que o F. percebeu que ele nunca tinha visto dinheiro ao vivo e pensava que as notas e moedas eram peças de brincar. Tal como rapidamente se apercebeu de que o filho nunca tinha visto alimentos crus, salvo banana e laranja, e pensava que os alimentos que ele tinha na cozinha eram brinquedos como aqueles com que as "meninas pirosas" brincavam às cozinhas no lar onde vivera.

Contou-me que o filho o chamou de hora em hora durante a noite nos primeiros quinze dias, até lhe explicar que não podia chamar tantas vezes porque os dois precisavam de dormir. A cara de espanto do menino foi inacreditável: "Mas os crescidos não dormem! Lá na outra casa eu chamava sempre e as educadoras vinham. Estavam sempre vestidas e a conversar." E o F. lá lhe explicou que todos os adultos dormem e que o pai, especialmente, precisava de dormir bem para ficar bem disposto. Depois explicou-lhe o que fazer em todas as situações para as quais ele o tinha chamado noites a fio: frio, calor, vontade de ir à casa de banho, sede, etc. Ele não se sabia tapar sequer...

Contou-nos ainda que um dia o menino o viu a arrumar comida no frigorífico e aproximou-se pé ante pé. Segredou-lhe então baixinho, pregando-lhe um susto: "O que é que estás a esconder?"

É absolutamente maravilhoso imaginar o menino que lhe chegou a casa há cinco meses e a explosão de desenvolvimento que se deve ter seguido para chegar a ser o menino bem adaptado, simpático e desenvolto que é hoje. Em cinco meses! Portanto bem se vê: para dar vida a um deserto não é preciso uma mãe, é preciso haver quem ame e se interesse.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

[áfrica é rica #2] um deserto

 
Sem uma mãe, qualquer lar é um deserto...
Provérbio africano

sábado, 2 de fevereiro de 2013

[vozes brancas*] um assalto

Há mais de cinquenta anos, uma geração e meia antes da atual, o pai de um amigo meu era ainda uma criança [ai, valha-me São Jacques de la Palisse...]. Há uns tempos, num evento familiar, à porta de casa, houve um cheiro que o fez transportar-se de repente para cinquenta anos antes: a noite em que a casa da sua avó foi assaltada. Contou a emoção que sentiu ao ver o agente da polícia a entrar naquela mesma casa, de farda engomada, bigode farfalhudo e com um ar muito circunspecto. A meio da investigação, o pai desse meu amigo, então com 8 anos, abeirou-se do agente e pediu licença para colocar uma questão:

- Como foi que os ladrões entraram se não tinham a chave de casa?
- Abriram a porta com um pé-de-cabra, rapaz - respondeu o agente secamente.

O menino ficou absolutamente horrorizado. Pediu licença novamente e retirou-se, incomodado com a imagem. Ainda o ouviram murmurar, a caminho do quarto, a frase que ficou para sempre como piada privada da família: "Coitadinha da cabrita..."

* Timbre da voz das crianças antes da puberdade.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

[outras palavras] um ladrão com sentido de humor!


 
É esta a notícia: a bolacha centenária de cobre que fazia parte da escultura de uma empresa fabricante de bolachas alemã foi roubada. O dono da empresa ofereceu mil euros a quem pudesse dar alguma pista sobre o paradeiro da sua velha bolacha. E foi então que o ladrão se deu a conhecer. Pediu um resgate! O resto é sorrisos.
Eu podia contar-vos a história, mas a Helena já a contou muito melhor! Vão lá ver que é de morrer a rir... Ou de sorrir para dentro, vá.
(Hannover, Alemanha)