segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

[inspiração para uma despedida]



Quando a gente ama é claro que a gente cuida... Onde será que você está agora?

domingo, 30 de janeiro de 2011

[improbabilidades] perguntas que ninguém deveria fazer...

Há coisas que um maestro nunca deve perguntar antes de um concerto. Muito menos a alguém que apenas conhece vagamente. Muito menos na casa de banho dos espectadores*. Uma delas é a que o maestro que foi dirigir o Concerto nº 2 para piano de Rachmaninov perguntou esta noite a um amigo meu na casa de banho:
- Olá, boa noite! Está cá hoje? Por acaso não viu por aí a pianista?

* Relativamente ao acordo ortográfico, este blogue planeia fazer o mesmo que todos os outros: fazer ouvidos de mercador durante o tempo que for possível e depois, que remédio, lá dará uma no cravo e outra na ferradura. Porque, por um lado, a actualidade não lhe passa ao lado mas, por outro, é contra. E quase que dói mais que escrever com erros ortográficos...

sábado, 29 de janeiro de 2011

[olhares amadurecidos] de vidas que terminaram...

O leproso de Nehessine.
(Foto do R., Murrupula, Nampula)

Não me espanta haver doentes de lepra em Moçambique. Não me espanta a mim, que já diagnostiquei e tratei tantos... Não me espanta que existam mutilados, que bem sei que já levei tratamento aos confins do mato, no fim do mundo e vi, naqueles momentos, que se para muitos ainda cheguei a tempo, para outros tantos cheguei tarde demais. Mesmo que não tivessem deformidades ainda. Às vezes o estigma instala-se e cola-se à pele, mais visível que a própria doença, mais mutilante e corrosivo... Mas ainda que o tratamento venha ter à rua principal, o estigma é o maior inimigo da cura. De que serve o tratamento se depois não se puder voltar para casa? Para alguém se tratar tem de dar a cara com a certeza de não perder a face...

Por tudo isto não me espanta que existam doentes de lepra em Moçambique. A doença é lenta, mas a cura é mais longa ainda, o tratamento é raro, a ignorância um mundo sem fim e o estigma... esse é cruel e possessivo, esse enterra quem ainda tinha força e vontade de viver. Não me espanta a lepra. Espanta-me, sim, este olhar tranquilo e limpo, a céu aberto...

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

[welcome to mozambique] a união e a força...

Vamos todos dar as mãos... Agora! Vá, andor à minha frente! A verdade e a democracia não se compadecem com a minoria.
(Mossuril, Nampula)


Foto gentilmente cedida por Mr. V. L., nosso correspondente honoris causa no Chimoio (gentilmente cedida é o eufemismo cibernético actual para dizer que não se importou que eu a roubasse...). No seu comentário a esta foto referia que, no contexto moçambicano actual, a frase "a união faz-se à força" não tem forçosamente de ser entendida como um engano ou um erro… Mas vamos só sorrir da imagem, que ainda são 10 da manhã...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

[welcome to mozambique] verde que te quiero verde!



Este foi o dia em que fiz a viagem dos meus sonhos às plantações de chá do Gurué, perto das margens do rio Zambeze... Como pano de fundo o verde arrebatador e o mito de origem do primeiro homem mesmo ali ao lado, nas nascentes do Monte Namuli. Terá surgido na bruma de uma madrugada glaucomatosa, coberto de capim e de folhas, germinado a partir das raízes de um embondeiro e, depois de um urro original que tenho para mim que só não faz parte da história porque ainda não estava lá mais ninguém para ouvir (porque homem que é homem grita quando nasce, e o primeiro homem só pode ter gritado de prazer olhando aquele céu), depois de agradecer a Muluku, o Deus dos antepassados e beber das águas perfumadas das montanhas*, desceu calmamente em direcção à planície e começou a espalhar a sua semente pelo mundo.
(Gurué, Zambézia)

*Que séculos depois alguém venderia sob a designação comercial genericamente inflaccionista de águas gourmet.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

[as melhores dos intensivos] haverá milagres?

Ontem foi motivo de grande surpresa e regozijo para todos nós o facto de uma adolescente que passou connosco por um processo gravíssimo, que terminou numa atrofia cerebral difusa, se ter sentado na cama a ler a Maria. Depois de ultrapassadas as questões existencialistas, da precaridade da vida, da condição humana, da impossibilidade de prever a evolução das doenças e de repetirmos a frase batida de que prognósticos só depois da alta, chegamos, por fim, à conclusão de que este milagre só pode querer dizer uma de duas coisas: que o cérebro humano é redundante e incrivelmente plástico ou que para ler a Maria basta ter um cérebro do tamanho de duas ervilhas...

[a vírgula de oxford] ou a importância da pontuação

É verdade que ontem fomos a votos (para mim foi ontem, que estive 36 horas de banco e as horas não passam tão depressa nesses dias, muito menos os próprios dias). É verdade que abandonei os doentes por meia hora nos cuidados intensivos para ir cumprir o meu dever de cidadania, que se são tortuosos os caminhos que nos levam à santidade, mais tortuosos ainda são os que não nos levam a lado nenhum.

(E antes que se levantem os velhos do Restelo a dizer que uma médica nunca deveria abandonar o seu posto de trabalho para ir fazer seja o que for, posso alegar em meu favor que tentei, de facto, ir votar antes de ir para o hospital, mas vi os meus intentos barrados por uma porta ainda fechada e uma fila de gente maldisposta que de certeza que tinha caído da cama para estar ali a resmungar às 8 da madrugada num domingo. E às más línguas que dizem que a minha saída intempestiva dos cuidados intensivos para ir votar não merece uma erecção de velhos do Restelo em defesa dos doentes, eu respondo que tudo bem, mas que isso se deve apenas, hélas, à sua provecta idade...)

Mas é verdade que fui votar. Como disse o Pedro Rolo Duarte:
Por mais ínfimo que nos pareça o valor de um voto, é a infinita casa decimal que nos cabe no regime. E se é isso que temos, é isso que devemos usar.
Ao final da tarde, as pessoas que se levam demasiado a sério vão "explicar-nos" o que fizemos, por que fizemos, e como fizemos. E todos os candidatos vão, de alguma forma, ganhar. É o que vale. E tem uma vantagem: é o costume. A dada altura, já só peço que não me surpreendam...
Quanto a mim, no meu dia de niilista convicta, a dada altura surpreende-me é ler pessoas que sabem distinguir o "por que" de "porque" e utilizam simultaneamente a vírgula de Oxford. Geralmente só peço que, quer votem "à esquerda" ou "à direita", quer votem "à distância" ou "à confiança", pelo menos botem um acento grave... Porque não há, de facto, mais nada a dizer. Fui votar, ponto final, que a pontuação serve inclusivamente para terminar conversas e mudar de assunto. [E esta semana também aprendi com uma pessoa que se sentiu ameaçada e agredida por um SMS sem ponto final, que a pontuação serve ainda para confortar quem lê, para dizer não-te-preocupes-que-está-tudo-bem, dizer que está tudo na mesma, que nada mudou, que cá vamos andando com a cabeça entre as orelhas. Mas isso agora não vem ao caso.] Fui votar. É tudo.

[beijo-de-mulata faz serviço público] cirurgiões plásticos

Bom dia. Só um conselho de amiga-muito-amiga aos meus colegas cirurgiões plásticos: meus queridos, não me levem a mal, mas se querem transmitir um mínimo de credibilidade e confiança, quer para os doentes, quer entre os pares, por favor... NÃO SE CORTEM A FAZER A BARBA! Valha-me Nossa Senhora das Navalhas, que ainda estou arrepiada...

domingo, 23 de janeiro de 2011

[welcome to mozambique] a vida é simples!

Entra feia e sai bonita, quem foi que disse que a vida era complicada? Quem foi que disse "you're only as good as your last haircut"?
(Não-me-lembro-onde-foi, Moçambique)

sábado, 22 de janeiro de 2011

[alhos e blogalhos] valha-me nossa senhora do google!

O nosso correspondente honoris causa radicado no Chimoio (não, afinal não era na África do Sul, já tínhamos ultrapassado isso...) que nos desculpe mas desta não nos vamos poder conter... Então não é que houve um pobre senhor (azarado, para não dizer outro nome) que chegou aqui ao mato à boleia do google à procura de uma receita para preparar um "banho de maria-sem-vergonha para atrair mulheres"? Desta vez o meu StatsCounter não identificou país nenhum, mas identifico eu, que só um brasileiro poderia chamar maria-sem-vergonha ao meu beijo-de-mulata. Mas... um banho para atrair mulheres, valha-me a Santa do Pau Preto?! Isso não lembra ao careca, para não dizer que não lembra ao diabo nem ao Menino Jesus, que a este último certamente que nem lhe passa pela cabeça e ao diabo lembra de certeza, isso e muito mais...

Pobre homem... até aposto que foi precisamente uma mulher que lhe vendeu esta ideia peregrina para o convencer de que tomar banho era a única maneira de deixar de fazer o sexo oposto fugir espavorido... E não se lembrou de nada menos do que de uma flor com um nome tão sugestivo como maria-sem-vergonha para lhe preparar um banhinho. Tudo em nome do amor de uma maria, de preferência sem um pingo de vergonha (ler com sotaque brasileiro) para ser tudo mais rápido, que me parece que um homem que se dá ao trabalho de vir aqui tão longe para procurar uma receita é capaz de ser tomado de algumas urgências.

Mas até aqui tudo certo, vai um homem lavadinho, se calhar ainda não cheiroso, que as instruções não lhe deram para tanto, mas vá, lavadinho já não será mau, relaxado e cheio de auto-confiança, com o ego afagado por um banho com flores lindíssimas e a maria está no papo. Isto, obviamente, desde que a maria não tenha um gosto muito refinado e que também esteja para aí virada, que mulher desesperada foi coisa que sempre existiu desde que o mundo é mundo e esta maria bem que nos podia fazer o jeitinho que temos de terminar o post, que a nossa vida não é isto.

O problema é que (sim, eu não estaria com esta conversa toda se não houvesse um problema) a vincristina que se extrai do beijo-de-mulata, um medicamento para tratar a leucemia, pode ser absorvida através da pele e provocar anemias gravíssimas, disfunção eréctil e alterações na coordenação motora*... Portanto aqui fica o aviso, caros senhores que andam pelo google em busca de um banho de sex-appeal: tomem banho com outra coisa (sei lá, tipo gel de banho), seja para atrair mulheres, seja para a higiene pessoal, que só lhes faz bem. Já com o beijo-de-mulata tudo o que se ganha em desejo, auto-confiança e sex appeal perde-se em performance, sem apelo nem agravo... Seria um banho envenenado, um autêntico assassinato, valha-me Nossa Senhora do Saca-rolhas! E quem me avisa meu amigo é. Pronto. Tenho dito. (O que eu gosto de fazer serviço público!) A emissão seguirá assim que eu conseguir respirar fundo novamente.

* Não é à toa que para os Macuas, que são um povo sábio, as palavras medicamento e veneno são uma só (murrette).

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

[welcome to mozambique] a vida está na rua!

Na faina...
(Nampula, Moçambique)

[instantes] estamos todos aqui!

Tenho a certeza de que é por estes sorrisos que quero sempre voltar! Mas há dias em que quase sinto que o preço a pagar é demasiado alto, em saudades, dores, desilusões e tristezas... Há dias em que tenho de respirar fundo e fechar os olhos para não me perder na trama dos dias e, felizmente, acabo sempre por me lembrar que quero voltar porque acredito nestas crianças, porque a vida delas faz parte da minha e porque as quero ver crescer.
(Iapala, Nampula)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

[inspiração para uma canção do bandido] do melhor!



Acho que falta um partido melhor em Portugal. Ou, pelo menos, falta um Melhor Partido... É certo que temos o nosso Candidato Vieira e o seu "obviamente demito-me!", mas não é a mesma coisa. Faltam-lhe pernas para andar, apesar de ter um burro de quatro patas para levar as assinaturas à Procuradoria Geral da República.

Os nossos candidatos bem que se podiam inspirar neste senhor, o humorista que se empenhou em ser eleito para a presidência do município de Reiquejavique e que intitulou o seu partido de "O Melhor Partido". O seu lema era "Vamos fazer o exactamente o mesmo que os outros, mas sem mentir: não vamos cumprir rigorosamente nada do que prometemos."

No final deste jingle eleitoral (03:27) faz referência às pièces de résistance do seu programa. A saber: Toalhas grátis em todas as piscinas públicas da capital, um urso polar para o jardim zoológico, uma Disneylândia no aeroporto, um parlamento livre de drogas até 2020, economizar (afinal não precisamos de mais do que um Pai Natal!) e outras improbabilidades... Venceu! Não há que temer. Se ficaríamos mais bem servidos com um senhor deste calibre? Não faço a menor ideia... Mas pelo menos era tudo mais divertido...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

[et in iapala ego] as flores do frangipani

É este o frangipani, uma árvore de xikwembos e xipocos, a árvore dos deuses e dos antepassados, de flores românticas e perfumes nocturnos... O frangipani tem as flores das manhãs claras, as flores que vêm enfeitar os cabelos das jovens, das noivas, das virgens e os adros das igrejas nos dias felizes.
(Iapala, Nampula)

Como diria o Lépido, nós não temos estilos, temos momentos... E eu também tenho direito a dias pirosos! Pronto, era só isto. Aqui no mato ainda não temos daquela modernice que dá pelo nome de livro de reclamações, nem existe DECO nem ASAE nem o provedor do ouvinte. Nem mesmo o Sr. Pompisk tem livro de reclamações (para ele, se nos estiver a ouvir, aquele abraço).

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

[vozes brancas* #37] aprender a cantar ou aprender cantando...

A escolinha onde aprendem os nossos afilhados...
(Nampula, Moçambique)

Talvez boa parte dos meus queridos amigos que gentilmente me vêm visitar aqui ao mato não tenha a perfeita noção de que na enorme maioria dos lares moçambicanos não é português que se fala, mas a língua local (no caso de Nampula é o Macua, noutras regiões será uma das outras vinte línguas locais). Em família, na rua, nos mercados, na vida do dia-a-dia é a língua mãe e não a língua oficial que predomina. E desta circunstância resulta que as crianças, quando vão para a escola e começam a aprender a ler em Português, aprendem a ler e escrever numa língua que para elas é estrangeira... caminho mais que certo para o insucesso escolar! Daí a importância de mandar estes meninos para o jardim infantil, a escolinha como eles lhe chamam, onde aprendem a falar Português para pelo menos começarem do zero na escola primária e não menos do que isso...

Curiosamente não é proibido falar Macua na escolinha. Não é preciso! Há um controlo social muito mais apertado e eficaz: se alguma criança começa a falar Macua a outras começam a gozar com ela e apontam-lhe o dedo: "Está a falar Macua, está a falar Macua!"

E haverá melhor maneira de ensinar uma criança a falar do que cantando? Estas são as primeiras lições: "Boa tarde, meninos, como estão?" "Tudo bem!"

* Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

[cultura africana] a nossa riqueza é esse olhar...

As meninas da escola e o seu olhar branco de futuros...
(Foto do R., voluntário na missão de Murrupula, Nampula)

[outras palavras] os meninos da rua

Os meninos que brincavam na rua...
(Gilé, Zambézia)

Era noite, a rua estava deserta. O frio vagueava por todo o lado. Um velho, descalço e sujo cantava na rua esta canção:

Menino de Rua
Perdido na lama escura.
Olhando a lua,
o único gesto de doçura,
que o Criador Te deu.
Estás só, sem ninguém.
A guerra deixou-te órfão,
sem amor de pai nem mãe
à procura de uma mão
que te dê um pouco de céu.
A alegria que me dás,
é o sorriso que não tenho
e que tua alma leda traz
sempre que ao teu encontro venho.
Vou partir!
Levando o teu sorriso.
Um dia voltarei...
Para amar
O que não amei.
Voltarei...
Não para ser mais um
Mas para ser contigo...

Parei para ouvir aquela doce melodia, que me trouxe paz à porta da vida. Não lhe dei moedas. Em silêncio sentei-me ao seu lado.

- A canção é verdadeira?, perguntei-lhe eu.

- É, respondeu ele, com um olhar mais triste, do que a noite que nos envolvia.

- Estou a ver que já foi aventureiro.

- Foi há muito tempo. Era eu jovem e sonhador. Andava na universidade e até pensei em ser um grande homem. Parti, como voluntário para a Angola e em dois meses realizei o maior sonho da minha vida. Amar sem medida, andar com os bolsos vazios e com o coração cheio de felicidade. Dormi na rua, ao lado de crianças abandonadas. Comi com elas, os restos que deitavam no contentor da Mutamba. Senti que não era ninguém e que era tudo ao mesmo tempo. Um dia, num abrigo encontrei o menino mais maravilhoso que conheci até hoje. Chamava-se Jerry, era um nome americano que ele tinha adoptado, quando viu pela primeira vez televisão. Jerry, tinha dez anos, era engraxador de sapatos e lavava carros em frente à Assembleia Nacional. Ganhava para comer uma baguete com atum. Aquele miúdo era deslumbrante. Tinha uma alegria invulgar e era verdadeiramente companheiro daqueles que tinham tido a mesma sorte que ele. Os pais tinham morrido na guerra. Ele tinha sido levado para o campo de refugiados de Viana, que ficava a 20 quilómetros de Luanda. Como não tinha comida, decidiu fugir para a cidade e ali estava como um dos sobreviventes das noites frias e das balas sem compaixão... Ensinei-lhe algumas letras e até lhe dei aulas de boas-maneiras, para pedir dinheiro aos senhores ricos que dormiam nos hotéis da cidade. Ele aprendia tudo e pagava os favores que lhe faziam com um sorriso profundo que tocava bem lá dentro... Aprendi muitas coisas com ele. No dia do meu regresso a Portugal fiz-lhe uma promessa, que um dia havia de voltar para sempre. Tenho gravado no meu coração o olhar dele. No dia em que me vim embora, senti que alguém tinha morrido para ele e via o caixão partir. Abanou as mãos para dizer adeus e deixou as lágrimas como sinal de despedida. No percurso que fiz para o aeroporto não disse uma palavra, foram quilómetros de olhares perdidos em recordações que cheiravam a saudade. A noite apoderou-se de mim e levou-me, mais uma vez, a repensar o porquê de partir, quando ainda muito havia para partilhar. A única coisa que me deu animo foi a promessa que lhe tinha feito, mas...(as lágrimas lavavam a cara do velho).

- Bonita história! Disse-lhe eu para não o fazer chorar mais.

- Disse bem, história! Porque eu nunca cumpri a promessa que fiz. E isso, marcou para sempre o meu destino. Eu trabalhei durante muitos anos num orfanato, até ao dia em que fui despedido. E com isso, foi pagando um pouco da divida que tinha para com o Jerry. Amei outros como ele. Gostei da vida que tive. O meu mundo tornou-se mais eloquente quando abri os braços e fui pai e mãe de quem necessitava do meu amor, do meu sorriso e carinho.

- A vida tem destas coisas. Nem sempre podemos medir o futuro como queríamos. Não podemos parar no tempo e medir as coisas pelo lado sentimental, temos que deixar falar os acontecimentos que impossibilitaram o cumprimento dessa promessa, mesmo que isso lhe custe muito.
- O Jerry, foi para mim, uma forma bonita, completa, de viver a vida. Ele não era noite, mas era sempre madrugada a raiar no nascer de cada dia e que tocava em mim música de felicidade, mesmo quando a tristeza batia à porta da vida. Ninguém como ele me ensinou a viver. Agora deixo-o bailar em mim, mesmo quando já não dançamos a mesma música, embora tenha a certeza que nos tocamos mutuamente. Acredito que ele é a voz e a palavra que nunca irão acabar, por isso ele ainda continua a ser nas minhas canções. Agora canto nesta rua a história que mudou a minha vida. A história do menino de rua, para que outros como eu amem as crianças. Amem os Jerry’s que andam por ai.

Texto de Pe. J. Torres, Missionário da Boa Nova que viveu em Ocua, Cabo Delgado.

domingo, 16 de janeiro de 2011

[instantes] and remember the truth that once was spoken...

... to love another person is to see the face of God!

A minha amiga V. em Murrupula (Nampula, Moçambique).

[cultura africana] quem meus filhos beija...

A R. e a menina do mercado.
(Gilé, Zambézia)

No Gilé, quando íamos às compras ao mercado, passear ao rio ou dar uma volta pelo casario no meio dos bairros, se parássemos por mais de um ou dois minutos era frequente alguma criança aproximar-se de nós a medo, como se viesse ver mais de perto quem seriam aquelas duas estranhas mulheres sem cor de pessoa, que se vestiam de uma forma tão bizarra, quase sempre de calças, sem capulana à cintura e com uma mochila cinzentona às costas em vez de um bebé a dormir tranquilamente... Aproximavam-se a medo, sem sorrir, sem nos tentar tocar, sem olhar de desafio ou de gozo, mas deixavam-se pegar ao colo e acarinhar, sorriam das brincadeiras e das cócegas e aceitavam alguma guloseima ou pequeno presente se o tivéssemos na altura. As outras pessoas olhavam, sorriam e não interferiam. Por fim, a criança lá voltava para o colo da mãe ou do pai e metíamos conversa...

Meses depois, já em Maputo de malas feitas para regressar a casa fomos jantar com um amigo que também viveu algum tempo entre os macuas. Nós vínhamos derretidas, rendidas àquele povo, pela forma como cuidavam e protegiam as crianças e eram capazes de se unir e deslocar famílias inteiras durante semanas se uma criança estivesse doente. O nosso amigo fez-nos então uma revelação extraordinária:

- Sim, é verdade, eles dizem mesmo que a riqueza deles são os filhos e adoram crianças. E quando querem ver se um estranho tem um "coração limpo", como eles dizem, orera murima, se é boa pessoa e merece confiança mandam primeiro uma criança ter com ele. Assim como se fosse para lhe tirar a pinta... E só se virem que trata a criança com carinho é que o começam a respeitar.

sábado, 15 de janeiro de 2011

[vozes brancas* #36] as folhas mais tenras e as árvores mais altas...

O Kruger Park à tardinha, antes de um night safari...
(Foto da R., Áfica do Sul)

A sobrinha da R., uma criaturinha adorável de seus três anos e meio, em plena fase do romance edipiano, adora que seja o pai a ir deitá-la e que ele depois fique por ali a contar-lhe histórias, falar com ela, namorar um pouco... Na semana passada, depois da história lida, as festinhas no cabelo, o copo de água, as perguntas, as histórias do dia, mais perguntas, o fica aqui mais um bocadinho, o tens de dormir que já é tão tarde, o pai despediu-se com a sua princesa acordada e ainda com energia para mais três voltas à pista, que realmente desde que o mundo é mundo que nunca ninguém disse que era fácil fazer uma criaturinha adorável de seus três anos e meio dormir à primeira... Às vezes nem à quinta, quanto mais, a minha própria mãe que o diga, mas enfim, paciência... Ossos e ofícios e mais não desenvolvo que temos de voltar à história porque deixámos a adorável princesa acordada a chamar pelo pai pela segunda vez e todos nós sabemos que aos três anos e meio a paciência não é muita e as lágrimas são fáceis:

- [voz amorosa] Pai, pai, anda cá...
- [suspiro de quem, pela enésima vez, se enche de paciência... mas de coração derretido] Sim, filha, o que é?
- Pai... faz-me mais uma pergunta.
- Eeer... Olha, sabes por que é que as girafas têm um pescoço muito comprido?
- Não...
- Porque se alimentam das folhas das árvores. E as folhas melhores, as mais tenrinhas e saborosas são as que estão mesmo no cimo das árvores.
- Ah...
- Já viste como era se as girafas não tivessem um pescoço comprido? Como é que podiam chegar mesmo às folhas mais tenras das árvores mais altas?
- Não sei... se calhar chamavam os bombeiros!

* Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

[welcome to mozambique] vamos a banhos...

Banhos públicos.
(Namialo, Nampula)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

[iapala ao fim da tarde] família reunida

A mãe e as suas meninas reunidas em volta das peneiras e do pilão.
(Iapala, Nampula)

[welcome to mozambique] o serviço de sangue

Dividindo o sangue (precioso) por dois sacos para transfundir duas crianças com a mesma unidade... à porta do laboratório do hospital porque lá dentro não havia luz...
(Iapala, Nampula)

domingo, 9 de janeiro de 2011

[fotografando a zambézia] fotos frescas...

Há um senhor, jornalista no Diário da Zambézia (graças ao Professor leio-o ainda mais religiosamente que o Público, o DN e o JN), que criou recentemente um fotoblog da Zambézia. Fotos frescas, que aliteração irresistível! Resta-me dar-lhe as boas vindas e fazer votos para que se mantenha por aqui por muito tempo, para dar alegrias a este mato, que sofre profundamente com as saudades desse pedaço de céu... e com a falta de sol, de papaias frescas acabadas de colher, dos cozinhados do Sr. Ernesto, das histórias de curandeiros e danças tradicionais. Com a ausência de uma entidade omnisciente e omnipresente no local (o Sr. Pompisk-para-ele-um-grande-abraço!). E sobretudo com a falta de um sentido mais profundo nas pequenas coisas do dia-a-dia...

Já agora, se não for pedir muito, senhor Zefanias, se passar pelo Gilé... tire-lhe mais umas fotografias... e veja se um improvável casal de perus à porta do hospital ainda está vivo e continua a perseguir afincadamente os transeuntes e se as árvores que eu e a R. plantámos, nos terrenos da missão ao lado do depósito municipal, ainda estão akumi...

(um) beijo de mulata

sábado, 8 de janeiro de 2011

[iapala ao fim da tarde] as montanhas...



Iapala, passeio para arejar o espírito, depois de um dia extenuante no hospital. Não há pequena contrariedade que estas montanhas não curem...
(Iapala, Nampula)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

[lavar a vista] ...a força de um olhar!

A menina que petiscava amendoim torrado.
(Foto do R., voluntário durante 12 meses em Murrupula, Nampula)

[serviço público beijo-de-mulata] como ajudar a dar à luz numa bomba de gasolina

Pronto, eu não resisto. Nunca resisto a este chamamento. Consigo resistir a tudo menos à tentação... Que me perdoem os que vêm aqui ao mato para ouvir histórias de Moçambique, recordar, conhecer, sonhar com terras vermelhas e areais brancos a perder de vista, aplacar desejos e renovar amores... Já bem vos basta ouvirem-me babar vezes sem conta com as peripécias e vozes brancas dos meus meninos da consulta. Portanto perdoem-me, por favor, passem aos posts abaixo, que há por aí muitas histórias que ainda não leram, certamente. Já me conhecem, eu de vez em quando também faço serviço público.

A verdade é que quando alguém confessa fragilidades, feridas e angústias lá me apresso eu a ir fazer um penso rápido, a tentar mitigar dores e desfazer mitos... Desta feita, uma jornalista que tenho em grande conta confessou publicamente a sua inusitada angústia em ir a casas de banho de bombas de gasolina por receio de que lá esteja alguém a dar à luz (alguém viu Os Mutantes, de Teresa Vilaverde?). Por isso, aqui venho eu, caros amigos, dizer que não há que ter medo. Se a circunstância acontecer (e acontece aos melhores, eu que o diga), o importante é estar preparado, arregaçar as mangas e fazer-se à vida, que ela aí vem disparada!

Não custa nada, acreditem, mas de qualquer modo aqui vão umas dicas. Como fazer um parto numa bomba de gasolina em 20 passos:

1. Repetir como um refrão: "Faça força, faça força!" [Um segredo: por acaso não é preciso. As mães têm sempre uma vontade incrível de fazer força quando chega o momento da verdade, mas é como se fosse uma banda sonora que compõe o ambiente... e sempre dá um ar de maternidade.] Um outro refrão que também tem muita saída nas maternidades é o: "Respire!" É muito útil. Sobretudo se a parturiente sofrer da Maldição de Ondine. Ou então se for loira. De outro modo é improvável que se esqueça de que tem de respirar. Mas é bom para variar um bocadinho e dá um ar mais profissional à coisa.

2. Chamar o INEM. Mantenham a calma, eles demoram a atender mas atendem sempre. Mais tarde ou mais cedo lá atendem! Vá, respirem fundo também.

3. Continuem, então! Mas porque é que pararam? Repitam comigo: "Faça força, faça força!"

4. Não ligar às indicações dos senhores do INEM que lhes dizem que devem incentivar a senhora a não fazer força. Na melhor das hipóteses ela vai ficar angustiadíssima por estar a fazer força na mesma. Na pior das hipóteses arriscam-se a ser agredidos pela parturiente em fúria. E com toda razão! Não é propriamente possível controlar a vontade de fazer força uma vez chegada a hora.

5. Lavar as mãos.

6. Calçar umas luvas. De preferência cirúrgicas, mas as de lavar a loiça também servem. Em último caso podem dar uma corridinha rápida até às bombas para ir buscar aquelas luvas de plástico para as senhoras não sujarem as mãos quando estão a abastecer. Servem perfeitamente.

7. "Faça força, faça força que eu já venho, vou só ali buscar umas luvas! Mantenha a calma. Respire!"

8. Não se preocupe por as luvas não serem esterilizadas. Como dizia o meu mestre de Neonatologia: "O bebé também não vem de nenhum sítio limpo". De qualquer modo os pediatras já o vão cobrir de antibióticos porque nasceu numa casa de banho! Em qualquer circunstância não faça o parto sem luvas.

9. Peça ajuda à outra senhora que também está ali a servir-se da casa de banho e que até agora esteve a tentar passar de fininho - sim, eu sei do que falo. Está sempre outra senhora a servir-se da casa de banho ao mesmo tempo que nós e que tenta sempre passar de fininho quando estamos em apuros. Diga-lhe que vá buscar toalhas aquecidas e um fio limpo.

10. "Faça força, faça força, que está quase!" (Está de certeza quase, não é preciso ser-se profissional para saber que o miúdo está aí a rebentar!)

11. A outra senhora que não faça aquela cara. Que não diga que não sabe onde raio é que vai arranjar toalhas aquecidas e um fio limpo. Ela que vá ao restaurante da área de serviço ali ao lado e meta as toalhas no microondas, ou que as meta onde quiser, mas que traga o raio das toalhas quentes. E um fio limpo. Aqui deste lado temos mais que fazer!

12. Com um pouco de sorte o INEM chega nessa altura.

13. Com ligeiramente menos sorte (reparem, estamos no ponto 13...) vão mesmo ter de arregaçar as mangas e receber o bebé...

14. Incentivar a senhora e dizer "Faça força que está quase, quase! Já se vêem os cabelinhos." sempre que ela fizer força. Desta vez, por acaso, está mesmo quase!

15. Receber o bebé.

16. Não entrem em pânico se o bebé não chorar logo, logo. Se a senhora conseguiu fazer o parto sozinha é porque o bebé nasceu bem. E vai chorar não tarda.

17. Secar e limpar o bebé com as toalhas aquecidas, laquear o cordão umbilical com o tal fio (limpo!) e devolver o bebé ao colo da mãe. A melhor maneira de manter o bebé quente é colocá-lo em contacto pele-com-pele sobre o peito da mãe. O bebé pode aproveitar para mamar. Assim como assim, ele não tem nada mais urgente para fazer nos próximos meses...

18. Dar os parabéns à mãe porque o bebé é muito lindo e se parece muito com o pai. Toda a gente sabe que é muito importante nestes momentos dizer que o bebé se parece muito com o pai e nunca, sob qualquer circunstância, fazer referência ao padeiro. Assim como assim não conhecemos nenhum deles.

19. Telefonar ao INEM a desancá-los por ainda não terem chegado. Eles que ao menos venham a tempo da expulsão da placenta, irra! Ou será que têm de fazer tudo nesta casa?

20. Se a senhora começar com dores outra vez, que remédio senão arregaçar as mangas de novo e dizer à senhora para fazer "só mais uma forcinha, vá, que a placenta já lá vem e depois fica logo despachada".

Como vêem é muito fácil, podem ir a qualquer casa de banho onde literalmente vos apeteça. De nada. Sempre às ordens.

Pronto. Era só isto por agora. A emissão segue dentro de momentos...

[malangatana] porque hoje morreu o homem que pintou a guerra...

... e só começou a pintar com mais cor quando a paz chegou finalmente aos campos onde dormia o seu povo!

Pensar Alto

sim
às marrabentas
às danças rituais
que nas madrugadas
criam o frenesi
quando os tambores e as flautas entram a fanfarrar

fanfarrando até o vermelho da madrugada fazer o solo sangrar
em contraste com o verdurar das canções dos pássaros
sobre o já verduzido manto das mangueiras
dos cajueiros prenhes
para em dezembro seus rebentos
dançarem como mulheres sensualíssimas
em cada ramo do cajual da minha terra

mas, sim ao orgasmo
das mafurreiras
repletas de chiricos
das rolas ciosas pela simbiose que só a natureza sabe oferecer

mas sim
ao som estridente do kulungwana
das donzelas no zig-zague dos ritos
quando as gazelas tão belas
não suportam mais quarenta graus à sombra dos canhueiros em flor

enquanto as oleiras da aldeia, desta grande aldeia moçambique
amassam o barro dos rios
para o pote feito ser o depositário
de todo o íntimo desse Povo que se não cala disputando
ecoosamente com os tambores do meu ontem antigo.

Malangatana

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

[finalmente o niko!] o mister fotogenia de cabo delgado...



O Niko, a mascote da Missão de Ocua.
(Cabo Delgado, Moçambique)

Depois de meses à procura das fotografas do Niko [Besnico? Joanico?], finalmente consegui resgatá-las à memória alzheimerenta do disco rígido de um computador antigo...

O Niko [Dominico?] era o primata mais querido de Ocua. O Niko amuava se não lhe déssemos a atenção que queria no preciso momento que lhe apetecia. Gostava de comer ao nosso colo e de posar nu com flores na mão. O Niko [Eu Show Nico?] era um drama-queen! O Niko [Abraanico? Antonico?] era um mister! Aquele Niko era um senhor, pim!

O Niko [Abanico? Paulinico? Pico-pico-saranico?] adorava tomar banho, tirar fotografias e às vezes atracava-se a nós com tanta força que nos trepava pela roupa acima. Por duas vezes rasgou-me o vestido e a capulana com as unhas. Mas depois, quando lhe ralhava, aquele besnico ficava envergonhadíssimo, meio triste, meio enfiado, muito quietinho a um canto, como se tivesse percebido perfeitamente que tinha feito asneira... Um amor!

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

[desculpa, fugiu-me um sorriso] e um balão...


A minha amiga F. no nosso hospital em Iapala com a menina Irmã Trinta (Irmã de nome próprio em homenagem à Irmã Felisbela e Trinta de apelido).
(Nampula, Moçambique)

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

[abafar meticais] stinky money, wikimoney

Instantes da vida em Moçambique, pelos olhos sempre atentos do Professor:
"Esta tarde, às 17:15, nesta cidade de Maputo, calmamente, a senhora introduziu a mão no decote e, de entre o sutien e o seio esquerdo, retirou uma nota de cem meticais - desdobrando-a - para pagar uma recarga de celular (...) ao vendedor de rua. Muitas das nossas senhoras guardam o dinheiro dessa maneira, para evitar os roubos, seja nos chapas, seja na via pública. Essa uma das razões por que as notas estão amarfanhadas, especialmente as de vinte meticais. No tocante aos homens, as notas são muitas vezes guardadas nas meias."
Compreende-se agora a razão de o dinheiro cheirar tão mal em Moçambique, sobretudo as notas de menor valor... Talvez também daí o facto de a lavagem de dinheiro ser uma actividade em rápida ascensão no país... Mas enfim, isso são outros quinhentos. [Porquê este post a propósito de um telegrama de nada? Ora, meus queridos amigos, silly season é quando o homem quer!]

[refrões de uma vida] a força que um sorriso pode ter!

[Para sempre] Iapala, Nampula.

[vozes brancas* #35] um bebé lá em casa...

Na semana passada, na primeira consulta de um menino de dois anos e meio, a mãe dizia-me que estava à espera de outro filho... Que estava naturalmente apreensiva pela questão dos ciúmes, mas que até à data nada indicava que ele haveria de reagir mal, pelo contrário, até tinha sido ele a pedir...

E o menino ia repetindo, enquanto a mãe o despia na marquesa, com ele a tentar saltar e dançar rock ao ritmo da música ambiente do consultório (salvo erro o Nightwish do Fantasma-da-Ópera-em-versão-música-de-elevador-escusam-de-fazer-essa-cara-de-enjoados-que-não-sou-eu-que-escolho-a-música-e-geralmente-até-a-desligo-mas-daquela-vez-esqueci-me-o-que-é-que-querem...):

- Mãe...
- Sim, filho?
- Eu quero um mano!

E a mãe, com um sorriso, ia respondendo que sim, que ele haveria de ter um mano qualquer dia e eu perguntei-lhe:
- Mas tu sabes o que é um mano?
- Sim, é um bebé lá em casa!
- Ah, muito bem! E tu queres um bebé lá em casa?
- Sim, os meus amigos também têm!

E a mãe:
- Sim, ele vê as mães dos coleguinhas dele a ir buscá-los com bebés pequeninos ao colo e ele também quer. Até já lhe explicámos que os bebés vêm da barriga...
- Sim, mãe, eu quero um bebé na minha barriga!
- Não filho, o mano vai para a barriga da mãe...

[Pausa... Cara de choque de quem tivesse levado um murro no estômago e a lagrimita a assomar...]
- Mãe, mas eu quero um mano na minha barriga...
- Está bem, querido, qualquer dia também tens um mano na tua barriga...

* Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.

domingo, 2 de janeiro de 2011

[top beijo-de-mulata 2010]

E porque sou uma mulher com um passado à sua frente, faz-me sentido recordar o dia que para mim foi mais significativo aqui no mato. Curiosamente também foi o post mais lido...

http://beijo-de-mulata.blogspot.com/2010/07/were-off-to-see-wizard-wonderful-wizard.html

sábado, 1 de janeiro de 2011

[caminhando] não se trata de chegar ao cume, mas o mais alto possível!

A subida ao monte Gilé, Zambézia.

Vá, pessoal, toca a acordar! Já é 2011 e há uma montanha para subir. Porque não se trata de chegar ao cume, mas de ser feliz e dar o nosso melhor na subida! Votos de um 2011 muito feliz para todos os que vêm aqui ao mato.* Estamos juntos.

* E podem deixar de mandar piadolas fáceis sobre o facto de ali na coluna da direita existirem 69 seguidores, que não publico comentários dessa índole. Isso é, obviamente, com os próprios seguidores e não tenho nada contra o que quer que seja que honestamente se possa fazer fazer entre as quatro paredes de um blogue, desde que haja respeito. Pronto, já disse.