segunda-feira, 14 de novembro de 2011

[nampula] mas o que foste lá tu fazer, beijo-de-mulata?


Na escolinha das Irmãs.
(Nampula)
(continuando...)

E perguntam vocês, caríssimos amigos: "Mas afinal o que foste tu, beijo-de-mulata, fazer sozinha para Nampula? Já percebemos que acabaste por procurar a Inês do post ali abaixo. Mas tu já estavas quase a caminho quando a Irmã Lurdes te pediu que a fosses procurar."

E eu respondo: "Sim, Senhor! Muito atentos que vocês são todos, amigos do meu coração!"

Bem, a verdade é que, se bem se recordam, em Iapala não havia rede de telemóvel e estava a ser um pouco duro para mim estar incomunicável... Mas não foi essa, obviamente, a principal razão. O resto do mundo podia esperar mais um pouco.

A minha ida a Nampula tinha sido em resposta ao apelo das Irmãs, sempre preocupadas com a saúde dos meninos a quem davam apoio na escolinha . Mais de trezentas crianças seleccionadas entre as famílias mais pobres dos bairros vizinhos. Com a ajuda dos “padrinhos”, pessoas anónimas na Europa que contribuíam especificamente para cada criança, as Irmãs conseguiam dar-lhes comida, vestuário e material escolar durante todo o ano. Ainda apoiavam a família das crianças, e incentivavam as mães das crianças a estudar gratuitamente no Centro de Alfabetização, que funcionava ao lado da escolinha. A teoria delas é que se as mães conseguissem aprender a ler, nunca deixariam os filhos desistir da escola e poderiam dar-lhes algum apoio nos estudos. Da experiência daquele projecto, acumulada em tantos anos, quando as mães conseguiam terminar a quarta classe, a maior parte dos filhos formava-se pelo menos num curso médio e as filhas não abandonavam a escola para casar! E eram cada vez mais os “afilhados” que já tinham terminado cursos superiores.

A grande preocupação das Irmãs era mesmo a assistência médica. Os centros de saúde e os hospitais eram caóticos. Ainda são, aliás. Raramente dão uma resposta satisfatória a não ser que se trate de um caso simples de malária ou de parasitose intestinal… Quando suspeitavam de alguma doença mais grave, as Irmãs levavam-nas a uma clínica privada, onde a assistência era ligeiramente superior mas, ainda assim, as melhoras quase nunca eram muito visíveis. Nesse sentido, as Irmãs tinham-me pedido para fazer uma consulta de rastreio a todas as crianças com menos de 5 anos que frequentavam a escolinha. Tudo somado, tinha 150 consultas para fazer em poucos dias… Com o apoio de uma enfermeira e um rastreio auditivo e visual prévios… Seria capaz? Não sabia, de facto, se seria capaz, mas iria certamente dar o meu melhor. Aquela consulta seria provavelmente a primeira consulta de Saúde Infantil que aquelas crianças iriam ter.

(continua...)

3 comentários:

  1. O verdadeiro anjo louro!!!!!!!

    Um beijo da cidade das acácias,

    Ruiva

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  2. "Tropecei" neste blog e fiquei colada ao monitor a ler todos os posts que tive tempo...
    Adorei e admiro a coragem para essa aventura em Nampula, vou certamente passar a acompanhar este blog.

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  3. Anjo não, mas loira é que não há dúvida nenhuma... Sabes como é um dos refrões deste blog, não é verdade? "Todos os santos têm um passado!"

    Future Smiley, muito obrigada, volte sempre...

    (um) beijo de mulata

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