terça-feira, 23 de março de 2010
[encantos de primeira vez em áfrica]
Já vão quase dez anos desde a minha primeira missão de voluntariado em Moçambique, altura em que, ainda com pouca experiência, me colocaram a dirigir o Centro de Saúde da Casa do Gaiato, no meio do mato a 50 km de Maputo...
E uma experiência que parecia inicialmente aterradora, porque não conhecia nem a língua, nem a cultura e mal conhecia as doenças, transformou-se numa paixão!
Precisava permanentemente de uma intérprete, a Inês de Maria, que para além de tradutora fazia também de exegeta e mediadora cultural, adaptando as minhas perguntas à realidade local. Ainda hoje sorrio quando me lembro que perguntava a uma doente com candidíase vaginal se o corrimento era de tipo iogurte e ela, imperturbável, traduzia iogurte para coco ralado ou mandioca cozida... Ou quando comecei a compreender um pouco do dialecto, uma vez uma senhora queixou-se que a filha de sete anos tinha a “dor do mês”.
– Com sete anos já é menstruada?! Perguntei, abismada, ainda para mais porque a menina não aparentava sequer ter sete anos, mas apenas cinco ou seis.
– Não, não é menstruada, assegurou-me a Inês, o que ela disse é que a menina tem epilepsia, aqui as pessoas chamam-lhe tradicionalmente a “doença do mês” ou a “doença da lua”...
(Como se vê, perdi grandes oportunidades de ficar calada, mas foi divertido.)
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