Passada a fila interminável para mostrar vistos e passaportes (que à primeira nunca estão bem, é sempre preciso fazer muitas contas para lhes fazer ver que os dias que lá vou ficar são os dias que constam no bilhete de regresso e que não, não lhes tenho de dar dinheiro para me fazerem entrar no país porque o vou fazer legalmente), o problema seguinte é passar na alfândega com a bagagem. O aeroporto de Maputo é conhecido por ser muito difícil de passar sem ficar com as coisas apreendidas pelos funcionários corruptos, a quem muitas vezes é necessário oferecer dinheiro e presentes para passar com a bagagem. Assim mesmo à descarada. Por isso, algumas amigas minhas já me tinham explicado como fazer.
a) Não ter nada de valor à vista. Eu costumo embrulhar algumas coisas com papel de embrulho e colocar uma etiqueta a dizer "Presépio e Estatueta de S. Norberto" (ideia brilhante da minha mãe).
b) As coisas de maior valor devem ir no fundo da mala e por cima colocar roupa interior feminina espalhada e/ou muitos pensos higiénicos. Nunca falha. As funcionárias mulheres riem-se com olhar cúmplice e os homens só não coram porque não são caucasianos. E geralmente não exploram muito mais (Sandra, só tu para me teres ensinado esta com o ar mais natural do mundo. E asseguro-vos, meus amigos, funciona mesmo!).
c) Quando nos perguntam o valor dos "presentes" dizer sempre que não valem nada, que só têm valor simbólico. Mesmo assim, uma vez perguntaram-me de quanto é que era esse valor simbólico (Helloooo!).
Da última vez, porém, não tive tempo para me dar a estes subterfúgios, não tive tempo de embrulhar os medicamentos e o equipamento. Nem mesmo de espalhar pensos higiénicos por cima. E portanto passei ao plano B: pedi para ser o Irmão Martín dos Missionários Combonianos a ir-me buscar. Aquele homem é uma lenda, um autêntico furacão! Estaciona sempre no lugar dos VIP, entra calmamente nos sítios mais improváveis, desde os bairros de lata mais perigosos até ao palácio do Presidente, apresenta-se a todas as pessoas importantes, conhece pelo nome cada funcionário das repartições e do aeroporto, mete conversa com toda a gente. Foi a primeira vez que atravessei a alfândega placidamente a assobiar para o lado sem que ninguém me tentasse abrir a mala!
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