Esta manhã, na consulta, estive a ver um menino de etnia cigana de 11 anos, com um humor irritável até à quinta casa, muito mal disposto por ter de estar ali sentado na consulta e com uma linguagem de insultar um taxista. Digo taxista porque hoje em dia já não existem carroceiros. Nem mesmo entre os ciganos. Se bem que comparar a linguagem daquele miúdo à de um taxista talvez fosse pouco. Só se fosse um taxista pouco polido e com uma história anterior de acidente isquémico do lobo frontal. Só que hoje em dia também não devem existir assim tantos, sobretudo com aquele pormenor do AVC... Mas pronto, se calhar já perceberam a ideia e arrematávamos por aqui, que esta é a melhor comparação que consigo arranjar neste momento: o rapaz tinha uma linguagem de fazer corar um taxista pouco polido e com o lobo frontal avariado.
Adiante. Ora, eu precisava de lhe medir o volume dos testículos, procedimento para o qual se utiliza uma espécie de colar, com contas progressivamente maiores que se comparam com o tamanho dos "amiguinhos". Como o menino se recusasse a ser observado, mandei buscar os homens da família para o imobilizar (por uma vez na vida agradeci que nesta etnia fossem sempre famílias inteiras a acompanhar as crianças ao hospital). E com o pai, o avô e o padrinho com cara de poucos amigos dentro da sala, o menino lá se dispôs "voluntariamente" a despir-se e medi-o rapidamente.
- Estás a ver, Moisés, o direito tem... 2 e o esquerdo... deixa cá ver... olha, também!
Responde o menino, com um ar maroto:
- Ah... entã isso deve ser o que vamos teri hoje à noite!
A minha cara de oh,valha-me Deus deve ter sido bastante expressiva, porque a mãe se apressou a explicar de imediato:
- Nã ligue, Doutora, que ele está a falari é do jogo de futeboli! Está a dizeri que hoje vamos empatari 2 a 2 no Portugal-Brasil...
* Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.
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