E voltando a Iapala... Onde íamos nós? Este post vai com link, que há mais de 15 dias que não vos falava disto e já nem eu me lembrava onde tínhamos ficado. Mas já tinham saudades, confessem...
A minha primeira lição de cultura Macua aconteceu no segundo dia em Iapala (província de Nampula, Moçambique). Fomos com o Sr. Rafael, motorista das Irmãs, de carro até à estação de comboios de Iapala, a cerca de 7 km da Casa da Missão. Ia connosco até Murralelo à festa da primeira comunhão para nos ajudar a carregar a arca das vacinas. À vinda tínhamos de passar por uma aldeia para vacinar as crianças que no ano anterior não tinham sido vacinadas por causa de uma epidemia de cólera, em que todo o esforço das Irmãs foi canalizado para os doentes agudos.
Rapidamente chegou a hora da partida e ocupámos os nossos lugares no comboio depois de pedir ao maquinista para parar o mais próximo possível da aldeia para onde íamos. Íamos em Segunda Classe. A carruagem de Primeira Classe já não existia. Dizem as más línguas que foi roubada, mas não sei se é mais uma das muitas histórias inverosímeis da guerra civil....
A visão no primeiro embate foi indescritível! Desde galinhas a grandes sacas de carvão, passando por molhos de cana de açúcar e frutos embalados na tradicional forma improvisada com capulanas, enormes volumes ocupavam o espaço disponível do vagão que nos coube em sorte, tudo na maior desorganização possível. Lá nos conseguimos acomodar, mais a arca das vacinas, no meio de uma quantidade enorme de gente, sobre uma saca de carvão, perto de uma mamã que, impassível, dava de mamar ao filho, enquanto com a mão livre segurava duas galinhas vivas presas uma à outra pelas patas com uma corda. O olhar divertido da Irmã Lurdes dizia-me que fora de propósito que não me falara do que ia encontrar, para que visse com os meus próprios olhos.
- Cuidado com a carteira. Quase todas as pessoas que aqui estão ou vêm vender alguma coisa ou estão aqui para roubar...
- Para roubar quem?
- Os outros passageiros. É um absurdo mas é verdade. Isto é como se fosse uma Feira da Ladra ambulante.
Ironicamente, alguns anos antes, após um mês de InterRail nos desconfortáveis comboios da antiga Europa de Leste, cheia de torcicolos e dores nas cruzes, tinha prometido a quem me quisesse ouvir que não voltaria a entrar num comboio para uma viagem de longo curso. A menos que fosse para passar a lua-de-mel no Expresso do Oriente... Pois... Enganei-me! Seis anos depois ali estava eu, felicíssima da vida, no glamour do Nampula-Cuamba Orient Express, a caminho da aldeia de Murralelo para a festa da Primeira Comunhão!
(continua...)
A minha primeira lição de cultura Macua aconteceu no segundo dia em Iapala (província de Nampula, Moçambique). Fomos com o Sr. Rafael, motorista das Irmãs, de carro até à estação de comboios de Iapala, a cerca de 7 km da Casa da Missão. Ia connosco até Murralelo à festa da primeira comunhão para nos ajudar a carregar a arca das vacinas. À vinda tínhamos de passar por uma aldeia para vacinar as crianças que no ano anterior não tinham sido vacinadas por causa de uma epidemia de cólera, em que todo o esforço das Irmãs foi canalizado para os doentes agudos.
Rapidamente chegou a hora da partida e ocupámos os nossos lugares no comboio depois de pedir ao maquinista para parar o mais próximo possível da aldeia para onde íamos. Íamos em Segunda Classe. A carruagem de Primeira Classe já não existia. Dizem as más línguas que foi roubada, mas não sei se é mais uma das muitas histórias inverosímeis da guerra civil....
A visão no primeiro embate foi indescritível! Desde galinhas a grandes sacas de carvão, passando por molhos de cana de açúcar e frutos embalados na tradicional forma improvisada com capulanas, enormes volumes ocupavam o espaço disponível do vagão que nos coube em sorte, tudo na maior desorganização possível. Lá nos conseguimos acomodar, mais a arca das vacinas, no meio de uma quantidade enorme de gente, sobre uma saca de carvão, perto de uma mamã que, impassível, dava de mamar ao filho, enquanto com a mão livre segurava duas galinhas vivas presas uma à outra pelas patas com uma corda. O olhar divertido da Irmã Lurdes dizia-me que fora de propósito que não me falara do que ia encontrar, para que visse com os meus próprios olhos.
- Cuidado com a carteira. Quase todas as pessoas que aqui estão ou vêm vender alguma coisa ou estão aqui para roubar...
- Para roubar quem?
- Os outros passageiros. É um absurdo mas é verdade. Isto é como se fosse uma Feira da Ladra ambulante.
Ironicamente, alguns anos antes, após um mês de InterRail nos desconfortáveis comboios da antiga Europa de Leste, cheia de torcicolos e dores nas cruzes, tinha prometido a quem me quisesse ouvir que não voltaria a entrar num comboio para uma viagem de longo curso. A menos que fosse para passar a lua-de-mel no Expresso do Oriente... Pois... Enganei-me! Seis anos depois ali estava eu, felicíssima da vida, no glamour do Nampula-Cuamba Orient Express, a caminho da aldeia de Murralelo para a festa da Primeira Comunhão!
(continua...)
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