(continuação)
Durante a iniciação, as meninas aprendem também a tatuar as partes do corpo que ficarão recobertas pelas roupas, o ventre, o peito e as coxas, com pequenos cortes na pele formando padrões elaborados em que colocam pó de carvão vegetal e que depois formam cicatrizes muito pretas com relevo. Durante algumas semanas juntam-se quatro ou cinco amigas e vão para as margens do rio, longe dos olhares de estranhos, onde se submetem lentamente a estas operações de tortura, intervaladas por longos banhos refrescantes e massagens de relaxamento para aliviar a tensão dos músculos que se retesaram pela dor. À semelhança do que me aconteceu com as danças, só muito tempo depois de as ter visto largamente na maternidade, enquanto assistia aos partos, é que me apercebi de que também as tatuagens são tabu na sociedade macua e que as mulheres as utilizam como um trunfo major para a sedução.
Mas o principal objectivo do ritual de iniciação é a instrução das meninas sobre as práticas sexuais, sobre como namorar, as regras de convivência com os homens, os ritos e tabus do namoro e matrimónio e a importância de gerar filhos. É com modelos anatómicos e role-play que aprendem a mecânica do acto sexual e com canções que aprendem e interiorizam todos estes ritos e regras ao longo dos dias da iniciação. Existem múltiplas canções cuja frase principal é “a nossa riqueza são os filhos” e quase todas as canções que aprendem falam deste tema ou da importância das práticas sexuais na vida de um casal. As meninas são muitas vezes encorajadas a ir rapidamente colocar em prática os novos ensinamentos. E, entre os macuas, ter filhos fora de uma relação estável ou do matrimónio não é de todo malvisto (aliás, uma mulher que já gerou filhos será, aos olhos de um homem, mais apetecível como esposa do que uma que não têm a certeza de que será fértil…).
E, já agora que estou com as mãos na massa, aproveito para perguntar a quem conseguiu ler este post até ao fim, que sentido terá gastar rios de dinheiro nas campanhas de prevenção do VIH com cartazes de rua e folhetos dirigidos a escolas e centros de saúde, se as principais educadoras sexuais, que são as mulheres que realizam os rituais de iniciação não forem visadas? Não seriam antes estas mulheres quem interessava “agarrar” e cativar para, a par das manobras de sedução, ensinarem também as meninas a proteger-se? Não é fácil falar com elas, eu sei, não é fácil que elas aceitem o que sai fora dos ritos tradicionais, mas nas aldeias perdidas no meio da savana, onde a SIDA grassa como a cólera, esta é mesmo a única maneira de travar o flagelo…
Ui, se é tão difícil conseguir-se convencer comunidades ditas desenvolvidas a usá-lo quanto mais... a luta é dura e desigual, vejamos no fim se restará pedra sobre pedra ou pessoas que as ergam novamente.
ResponderEliminarÉ mesmo isso, uma luta dura e desigual... Mas de outra forma é o mesmo que falar para uma parede... Nas comunidades há sempre duas ou três pessoas que são os fazedores de opinião. Quando os conseguimos cativar quase todas as campanhas surtem efeito. De outro modo, na melhor das hipóteses não têm efeito nenhum. Não sei como é que as ONG já se aperceberam disto e o próprio governo e instituiçõe públicas não...
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