As aulas de pintura e a tia Cármen...
(Casa do Gaiato, Maputo)
(continuando...)
E, entre o trabalho no centro de saúde e as noites com os meninos, havia o jantar com o senhor padre, os outros voluntários da casa e um ou outro convidado. Todos eles eram pessoas fascinantes e que me acolheram desde a primeira hora.
Acabei por fazer uma amizade especial com a tia Cármen, uma entusiástica voluntária espanhola, antiga empresária e viúva de um português, que há dois anos deixava os filhos e os netos durante o ano lectivo para ir para a Casa do Gaiato dar aulas de pintura e expressão plástica.
Na minha perspectiva, a tia Cármen tinha vindo para ser a avó da casa, a figura de referência que os meninos, sendo órfãos, não tinham. Uma avó autêntica, com uma insuficiência cardíaca ligeira, uma doença pulmonar obstrutiva crónica que me deu trabalho a controlar e, sobretudo, com uma enorme paixão pelos mais pequenos e com uma missão autoproclamada, que era deixá-los ser meninos e ajudá-los a brincar.
Afirmava com muita graça que havia dois tipos de voluntários em África: os que se dedicavam ao ensino, à saúde e ao desenvolvimento económico-social e os que se dedicavam a construir infraestruturas. Mas ela não tinha vindo para uma coisa nem para outra. Tinha vindo para incentivar os seus meninos a sonhar e apoiar os seus sonhos, porque acreditava piamente que só a expressão dos sentimentos fazia crescer. Sobretudo para aqueles meninos tão pequenos e que já tinham sofrido tanto. “Porque sem sonhos não há desenvolvimento e sem entusiasmo não há trabalho!”, terminava.
(continua...)
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