sexta-feira, 7 de outubro de 2011

[a vida é simples] mas conduzir em moçambique não...


Alguns troços mais difíceis...
(Algures no caminho para Nampula)


(continuando)

Mas os meus receios tinham fundamento... A viagem de ida para Iapala e as saídas para o mato na campanha de vacinação tinham sido tudo menos simples. Apesar de ir sempre ocupada com os doentes que transportávamos, tinha-me apercebido de como era necessário ter um domínio perfeito do carro para não o deixar fugir nas zonas dos bancos de areia e ter reflexos rápidos para nos desviarmos dos inúmeros buracos, que mais pareciam crateras de meteoritos no meio da estrada...

Mesmo com a experiência de tantos anos da Irmã Lurdes, ficávamos "atascadas" uma média de três vezes por dia e às vezes caíamos, sem saber como, dentro de buracos impossíveis. Geralmente a tracção resolvia o incidente, mas naquele momento só me assaltavam a memória as várias vezes em que só voltámos à estrada com a ajuda da força de muitos homens que passavam naquele momento. Felizmente Moçambique trata-nos bem! Tudo acontece, é verdade. Não podemos esperar que existam boas estradas, bons serviços de assistência em viagem, boas oficinas, uma boa cobertura de rede de telemóvel. Não podemos esperar que existam sequer estradas ou quaisquer serviços, melhor dizendo. Mas geralmente tudo se resolve sem esforço. Tudo nos vem ter à mão, como uma bênção. E sem ter de gastar dinheiro em roaming!

Mas outras vezes, mesmo a força de braços era insuficiente e só nos livrávamos de apuros com a ajuda de outro jipe que passasse por ali, que nos rebocava com a corda enorme que tínhamos sempre connosco e que no primeiro dia me pregou um susto de morte, quando, distraidamente, abri o porta-bagagens e dei de caras com o que me pareceu ser uma cobra enrolada, a dormitar pacatamente em cima da esteira... Mas, claro, depois de nos rebocar, com o esforço do seu carro, na despedida nenhum dos nossos “salvadores” resistia a mandar a inevitável boca:

- Onde é que tirou a carta, Irmãzinha? Foi no Xai-Xai*?
- Não, foi em Nampula – suspirava a Irmã Lurdes, impávida, fingindo que não percebia o escárnio e o machismo da pergunta.

(continua)

* Uma cidade mais a Sul, conhecida por ser possível comprar a carta de condução sem se ter tido uma única aula de código ou de instrução. Mais ou menos como Nampula... Ou melhor, exactamente como Nampula, vá (ver post ali abaixo). Mas Nampula tem o proveito sem a fama. Vamos ver se mantemos as coisas assim, tá? Onde se fazem essas falcatruas é no Xai-Xai, não é no meu quintal!

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