Os Montes Nairuku num dia de sol...
(Nampula, foto recente amavelmente cedida por uma amiga minha)
(continuando...)
É incrível como às vezes há situações que parece que têm o condão de ir buscar o melhor que há em cada um e ressincronizar o bater dos corações.
Quanto a mim, tinha recuperado o entusiasmo, a vontade de avançar, a tranquilidade. A sensação daquele momento de enleio, em que o Sr. Cachimbo tinha pegado nas meninas assaltava-me de vez em quando, mas repetia para mim: “Não foi nada, não foi nada, está tudo bem, não se passou nada.” E ironizava: “És mesmo uma mulher básica, valha-me Deus, um homem pode fazer-te juras de amor eterno e dizer que te vai respeitar e tratar como uma rainha que não lhe ligas nenhuma, mas não o podes ver com uma criança ao colo que te derretes logo! Como é possível? Tens a mania de que és uma mulher culta e esclarecida, de mente aberta e livre e depois vai-se a ver e tens a inteligência emocional de um pinguim!” E tentava afastar aquela imagem impossível da minha mente.
Já não me preocupava em ir rápido, em chegar antes do pôr-do-sol. Tinha aquelas duas princesas para levar e havia que as transportar em segurança, isso era agora o principal. Ia mais devagar ainda mas não me importava, tinha mais tempo para me desviar dos buracos e dos outros carros. Até os chapas me pareciam menos agressivos… Era preciso parar de vez em quando, reavaliar as meninas, preparar mais soro, ver-lhes a temperatura, colocar-lhes repelente porque estava a anoitecer... Elas iam lentamente recuperando do estado de letargia em que se encontravam e, de cada vez que parávamos, o Sr. Cachimbo tinha melhores notícias. “Desde que parámos da última vez já beberam mais 200 mL cada uma!” “Ainda não voltaram a ter diarreia desde a outra vez lá atrás.” “A mais velha já se tentou pôr de pé e agora está aqui a brincar com o meu rádio!”
O dia terminava, o sol punha-se à minha esquerda e eu finalmente tinha tempo e espírito para apreciar a paisagem. Conduzir à noite era, de facto um desafio perigosíssimo, mas com a ajuda do Sr. Rafael, agora acordado e atento, lá íamos ultrapassando as dificuldades. Afinal aquela companhia improvável tinha sido providencial! Já passava da meia-noite quando os deixámos no Hospital Central, com as meninas muito mais hidratadas e ativas, passámos pelo bairro de Namutequeliwa (sim, o da barbearia Alvalade XXI) para deixar o Sr. Cachimbo e chegámos a casa das Irmãs, em Muahivire, exaustos mas com a sensação boa de quem tinha sobrevivido a uma prova de fogo… As Irmãs abriram-me a porta em camisa de dormir e estremunhadas. Só me esperavam no dia seguinte e ficaram assustadas de me ver chegar sem a Irmã Lurdes.
– Então, mas o que foi que lhe aconteceu?
– A Irmã Lurdes teve de ficar em Iapala a tomar conta de uma menina que adoeceu com malária cerebral. Mas tive um furo num pneu e tive de esperar que alguém nos ajudasse – disse simplesmente, preferi resumir a história.
– Mas… veio sozinha?!
– Não, vim com o Sr. Rafael.
– Onde é que ele está?
– Foi dormir para casa do guarda.
– Está bem, já tínhamos preparado o vosso quarto. Já jantou?
– Não, mas não quero nada, obrigada! Só preciso de uma cama, que estou a cair de sono…
(não sei se continue...)
Siiiiimmmm... :-)
ResponderEliminarBeijo, B.
Por favorrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderEliminarAqui da cidade das acácias estou a arder em curiosidade!
Beijos Grandes
Aqui neste país frio estas histórias ainda são mais aconchegantes do que em Portugal.
ResponderEliminarSim, por favor!
ResponderEliminarEstou pregada à história :)
plizzzzz
ResponderEliminareduarda maria
yes, please!
ResponderEliminaresta viagem não tem volta?
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