quarta-feira, 26 de outubro de 2011

[outras palavras] porque assim como assim ainda há muita gente que come

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra.
M. Cesariny de Vasconcelos (a propósito da notícia abaixo, que me deixou louca...)

2 comentários:

  1. Nem sei que lhe diga!

    Se o pior é acordar lentamente, ou acordar em "sobressalto".

    Contudo, é bom acordar, com o devido respeito.

    Atenção, que eu sou "reaccionário", ou politicamente “incorrecto” - venha o diabo e escolha.

    O melhor teria sido, talvez, não ter dito nada.

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  2. É bom acordar, claro! Eu sempre soube disto. Disto e de muito mais. Tenho é uma esperança inabalável de que as coisas melhorem na terra do fim do mundo. O que me enfurece é que as pessoas que estão à frente dos destinos do país falem deste modo, como se eles próprios dissessem "Eu sou o rei e vou nu! E não me importo nada com o que vocês pensam de mim."

    (um) beijo de mulata

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