quinta-feira, 1 de abril de 2010

[improbabilidades] manhãs que cantam



Na minha primeira noite na Ilha de Moçambique, as Irmãs, sabendo da minha já lendária dificuldade em acordar descansaram-me:

– Nem sequer se preocupe em ligar o despertador, amanhã vai acordar de certeza de madrugada com a cadela a ladrar quando os monhés começarem a oração na mesquita aqui em frente. É giríssimo, eu acho que a cadela é muçulmana! Apesar de viver connosco ainda não conseguimos evangelizá-la!

E às cinco da manhã muezim chamava para a primeira oração, num cântico curto e lamentoso, trazendo-me, com quatro notas arrastadas, a luz do dia de novo aos olhos abertos. Do alto do minarete, com os braços decerto bem acima dos ombros, declarava a toda a ilha que Allah Akbar!, Deus era o maior. A mesquita estava tão perto da casa das Irmãs que ouvia o chamamento em crescendo e decrescendo como se o muezim me chamasse de dentro do meu próprio quarto. E, de facto, tal como as Irmãs me tinham prometido, a cadela começou a ladrar, num latido que, para meu espanto, se transformou num uivo crescente e decrescente, afinado em total consonância com o apelo muçulmano. Estavam certas, afinal... Mais uma alma perdida para o céu de São Pedro!

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