(continuando a história que começou aqui...)
Quando, dias depois, o Sr. Cachimo
me falou do rumor que corria em Iapala foi a minha vez de me intrigar. Fiquei desconcertada, confesso. Diria mais: de facto na altura fiquei um pouco desiludida até... Quase irritada. Porquê aquele alarido todo? Para quê aquela romaria ao hospital, alqueles olhares furtivos para dentro da enfermaria e do meu gabinete de consulta? Tinha sido apenas uma
unidade de sangue. Um gesto banal que requer muito pouco esforço. Eu não tinha dado um rim, valha-me Deus! Não me tinha custado
rigorosamente nada. Se eu tinha feito algum esforço tinha sido para estar ali
em Iapala, longe de tudo e de todos, longe da minha família, de licença sem
vencimento e com uma passagem de avião paga por mim. Tinha sido difícil vencer
o receio, a inércia, a vontade de passar mais tempo com a família e com os
amigos, o receio de sair da tal “zona de conforto”. Mas mesmo esse esforço,
no fim de contas, não tinha sido assim tão grande. Somos felizes quando não desistimos e lutamos
por aquilo que amamos! Mas claro, isso em Iapala ninguém se tinha questionado.
Estava longe demais da sua própria realidade para perceberem o que quer que
seja do esforço que tinha sido chegar ali. Dar sangue era um gesto que estava
ao alcance de qualquer um e por isso conseguiam raciocinar sobre ele, colocar-se
no meu lugar. Isto sim, deu-me que pensar…
(continua...)
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