(continuando...)
...e de repente estava tudo pronto para partirmos para Nampula. Em poucos minutos tinham chegado os dois homens que iam comigo, o Sr. Cachimbo com um saco na mão e um sorriso de orelha a orelha e o Sr. Rafael trôpego e alcoolicamente eufórico, amparado pela mulher, de quem volta e meia se tentava soltar, mas caía de imediato, desamparado, sem reflexos para se segurar, e era a mulher quem o mantinha de pé mais uma vez. “Isto promete!”, pensei…
- Bem, vamos entrando que se faz tarde e ainda temos muito que andar. Queria chegar a Nampula antes do pôr-do-sol...
Antes de subir para o jipe, a Irmã Lurdes chamou-me de parte para me dar as últimas indicações, rever comigo o caminho pela enésima vez e os últimos conselhos.
- Vá, boa viagem! E coragem, que com calma tudo se faz…
- Obrigada! Fique cá bem.
Dentro do carro, os dois homens começavam a dar sinais de impaciência. O Sr. Rafael continuava eufórico, mas por vezes abria a janela, colocava a cabeça e parte do corpo de fora, e o Sr. Cachimbo, que inicialmente estava tranquilo e a fingir-se de cego e surdo, agora começava a responder a uma ou outra frase proferida em tom mais elevado. Aquilo prometia, de facto… Subi para o carro.
- Bem, vamos embora! E, senhores, não se esqueçam de que eu sou uma senhora. Comportem-se, por favor.
Arranquei com o carro, surpreendida de afinal ter conseguido colocá-lo a andar e lá segui para Nampula, na mais improvável das companhias. O Sr. Rafael a bater palmas e a cantar músicas ininteligíveis em macua, de que só ia compreendendo algumas palavras aqui e ali. Percebia que se referia a partes do corpo das mulheres e, pelo tom da música e, pela cara do Sr. Cachimbo, imaginava que não seria uma música muito abonatória, mas fingia-me de surda. Ia-lhe dizendo de quando em vez, embora sem grande convicção:
- Durma, Sr. Rafael, durma que deve estar cansado e a viagem ainda é longa. Aproveite que tem o banco todo só para si. Deite-se e durma…
Mas nada. Continuava alegremente a cantar, a bater palmas, a colocar-se de pé para cair no solavanco seguinte. “Isto não me está a acontecer! Não é possível…” pensava de mim para mim.
(continua...)
As suas histórias são uma delícia. Não resisto a passar pelo seu blog. Parabéns
ResponderEliminarlolol
ResponderEliminarRealmente as histórias são um mimo!
Outras vidas, outras realidades...