quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

[malária] para grandes males, grandes remédios...



No hospital de Ribáuè...
(Ribáuè, Nampula)

(continuando...)

Apesar de o menino estar claramente em perigo de vida, a família anuiu e pusemo-nos rapidamente a caminho. A Irmã Lurdes no seu pragmatismo habitual de “para grandes males grandes remédios” e eu com a cólera de quem vê uma desgraça prestes a acontecer por causa de incompetências e falta de planeamento.

Mas era quase de noite e tinha chovido, por isso demorámos muito tempo a chegar. Tempo demais… A criança ia quase morta… E claro, não há milagres. No hospital de Ribáuè os medicamentos também estavam no armazém, que já estava fechado. Foi preciso mandar chamar o farmacêutico a casa, o que só fizeram por especial consideração para com a Irmã Lurdes, o anjo da guarda daquele povo. Todas as pessoas das redondezas tinham pelo menos um familiar que já tinha sido ajudado por ela.

Quanto a mim… estava louca! De raiva, de preocupação e insegura por ter arrastado a Irmã Lurdes e a família toda para aquele devaneio. E suspeitava que o motor daquela atitude desesperada não tinha sido a convicção de que o menino ainda podia sobreviver, mas a fúria contra o director do hospital! Não teria sido melhor deixar o menino em paz, ao colo da família, em vez de estar a forçar toda a gente àquele suplício de solavancos, angústias e frustrações?

Começámos a medicação mesmo in extremis. Por fim, perguntei à família se queriam ficar ou voltar connosco para Iapala. Talvez fosse melhor o menino ficar em repouso e não regressar por aquela estrada horrível, onde o carro escorregava como se estivesse a dançar sobre sabão. Mas eles queriam voltar, claro. Nem lhes tinha passado pela cabeça que havia hipótese de ficar em Ribáuè, de outro modo, provavelmente não se teriam sequer metido no carro…

Tinham-se decidido a vir porque estavam desesperados e nós lhes tínhamos dado uma saída, mas o terror de qualquer família macua é que um ente querido morra longe do local onde estão enterrados os antepassados, e esta família não era excepção. Tinham de voltar. Era preciso estar mais perto de casa se uma desgraça acontecesse, sob pena de a família ficar assombrada para sempre pelo espírito do menino.

Voltámos para Iapala já era noite fechada. Com a medicação, o coração tinha voltado a bater mais rápido e o cérebro já não dava tantos sinais de sofrimento, mas o menino continuava em coma. Estava na hora da segunda dose de quinino. Não havia mais nada a fazer senão esperar…

(continua...)

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