domingo, 29 de janeiro de 2012

[inês] a leprosa de napipine...



Esta não é a Inês, obviamente, mas tem um sorriso parecido com o que ela tinha quando, por fim, me despedi de Iapala...
(Nampula, Moçambique)

Hoje é o Dia Mundial dos Doentes de Lepra. Já vos contei a história da Inês, a menina que fui procurar a Nampula porque, por qualquer razão que desconhecíamos, tinha abandonado a escola. A história é longa. Demorámos quase dois meses na viagem*... Algumas pessoas estiveram ao meu lado desde o início [com mais ou menos reclamações!]. Algumas desistiram. Outras foram saboreando a história. No fim, foram muitos os que me disseram que tinha valido a pena.

A Inês tinha deixado de ir à escola porque tinha uma doença de pele que a família pensava que era lepra e, depois de mil e uma peripécias, consegui que viesse ter comigo para a tratar:
"Quando achamos que já vimos de tudo, quando pensamos que já vimos todas as desgraças do mundo, que já vimos pessoas a morrer e a sofrer, a suportar aquilo que achamos que vai para além da força humana, parece que deixamos de estar preparados para aceitar que pode haver pior. Ainda pior.
Quem eu vi chegar nesse dia, sozinha e a medo, foi uma menina que tinha sido literalmente enterrada em vida pelas pessoas que mais a amavam… Uma menina sem brilho no olhar, pálida, esquelética, sem voz, com as feridas infectadas cobertas por uma pasta negra e seca de medicamento tradicional, restos dos dias mais horríveis da sua vida que permaneciam colados à pele. E que só saíram arrastando quase metade da pele com eles.

– Inês, ainda bem que vieste, estou mesmo feliz por teres vindo, estava à tua espera!

Baixou os olhos e nem respondeu. Obviamente eu não podia estar a falar a sério, como é que alguém podia ficar feliz por ver uma leprosa?"
* Para quem não sabe do que estou a falar, a história começa aqui, e a parte que fala concretamente da Inês começa mais adiante, mais precisamente aqui.

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