sábado, 7 de abril de 2012

[vozes brancas* #62] ...e vidas pequeninas


Uma borboleta na roça Monte Café...
(São Tomé e Príncipe)

Há uma menina que eu conheço desde a barriga da mãe, da "consulta de esperanças" como eu gosto de lhe chamar... Já vos falei dela porque um dia, na consulta dos dois anos, entrou para a minha sala ao mesmo tempo que eu. Vinha meio adormecida ao colo da mãe. [Eu só insisto que têm de entrar pelo seu próprio pé na consulta dos 12 ou dos 15 meses. Depois as conquistas são outras e podem voltar a entrar ao colo. De preferência ao meu...] A sala estava mergulhada na penumbra e, enquanto eu procurava o interruptor, ouvi-a perguntar à mãe, num sussurro espantado:

- Mãe, onde estão as cores?

Só as crianças, realmente, para nos surpreenderem e interpelarem o mundo desta forma!

Esta semana, já com quatro anos, a Teresa perguntou-me como nasciam as borboletas. E eu falei-lhe das lagartas, das folhas tenrinhas que comiam para engordar durante o Inverno, de uma casinha redondinha onde ficavam muitos dias a dormir, enquanto lhes nasciam as asas cheias de cores e as patinhas e as antenas, à espera que chegasse a Primavera.

- Ah, o casulo é como se fosse a barriga da mãe?
- Sim, isso mesmo!
- Mas como é que as borboletas e os bebés sabem que já estão prontos para nascer?

E foi assim que aos quatro anos a Teresinha me deixou de boca aberta com uma pergunta para a qual talvez não venha a haver resposta...

* Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.

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