Em redor todos
continuavam, imperturbáveis. A servente da maternidade tinha começado a sua
leitura: “Inventário da maternidade no dia 8 de Agosto à noite: duas tesouras,
um balde, uma pá, uma esfregona, três cabos de bisturi, dois relógios de parede
(um dele parado), cinco rolos de ligadura, um tabuleiro de pensos, duas tinas,
um aspirador de secreções, um ambu de
criança, dois porta-agulhas, cinco fios de sutura, duas arrastadeiras, uma
vassoura, cinco redes mosquiteiras, duas velas e uma lanterna.” Não consegui
deixar de esboçar um sorriso com aquele inventário absolutamente improvável,
despropositado e completamente caótico. Para que serviria? Para evitar que o
material fosse roubado? Mero controlo para evitar o caos total? Que rotina mais
caricata… Fez-se silêncio.
– Muito bem – disse o director
–, bom descanso aos que estão a sair e bom trabalho aos que estão a entrar.
Vamos começar.
O primeiro dia
foi relativamente leve, apesar de ser segunda-feira. Em qualquer parte do mundo
a segunda-feira costuma ser um dia complicado, mas no meio do mato, onde
hospitais e centros de saúde quase não funcionam ao fim-de-semana, o “efeito
segunda-feira” é geralmente muitíssimo mais pronunciado. Sorte de principiante…
Mas não foi fácil, claro, muita coisa nova para aprender, muitas rotinas
diferentes, muitas práticas aparentemente sem sentido, uma língua totalmente
estranha, a necessidade quase permanente de um intérprete… Ao início da tarde
eu já estava sozinha a trabalhar, os enfermeiros e serventes tinham
desaparecido da urgência quando perceberam que eu tinha mesmo intenção de
atender as pessoas, deixando-me ali sem apoio nenhum.
(continua...)
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