Tomando soro oral pela mão da R.
(Gilé, Zambézia)
(continuando...)
Falaram um pouco, a Dona Ana sempre no mesmo tom malcriado quando se dirigia à mãe, até que chegou a uma conclusão:
Falaram um pouco, a Dona Ana sempre no mesmo tom malcriado quando se dirigia à mãe, até que chegou a uma conclusão:
– O enfermeiro tentou colocar cateter, mas desconseguiu.
Olho para as mãos e os braços da criança. Não há qualquer sinal de picada.
– Tem a certeza? Não tentou sequer.
A Dona Ana voltou a dirigir-se à mamã. Por fim, esta admitiu que tinha recusado que o enfermeiro colocasse soro ao filho. Mas porquê? O que é que se tinha passado? A Dona Ana não respondia, fitando o chão, como se só tivesse vontade de desaparecer dali o mais depressa possível. Enquanto falávamos, a criança ia tendo dejeções diarreicas de água, apenas água, sem cheiro, sem cor. A mãe, impassível, apenas a afastava do seu corpo, para que aquela água que saía do corpo do filho caísse diretamente na terra do pátio, e continuava a ouvir o que nós dizíamos, fitando o infinito.
– Está bem, mas explicaram mesmo à senhora para que era o soro na veia? E que para fazer soro oral era preciso abrir o pacote, deitar o conteúdo em água fervida e dar à criança? É que ele agora está muito pior. Agora está muito mais desidratado!
[Silêncio. Parecia que nada daquilo lhes dizia respeito. Perdi a paciência. Era necessário agir. E depressa!]
– Bem… eu já venho.
Fui a casa, preparei soro e fui dá-lo à mãe, com indicação para dar à criança uma boa quantidade de cada vez que tivesse diarreia. Pois… já tinha percebido que não ia ser fácil trabalhar ali. Estava zangada. Muito zangada. Comigo própria por ter deixado passar tanto tempo antes de reavaliar a criança. E não sabia com quem mais deveria estar zangada, se com a mãe, que não tinha dado o soro ao filho por não ter perguntado ao enfermeiro como se fazia, se com o enfermeiro por não lhe ter explicado e não ter ido confirmar se a terapêutica estava mesmo a ser cumprida… se com o caos de organização que era aquele hospital.
Expliquei como dar o soro à criança, exemplifiquei várias vezes. O menino, mal viu o soro na seringa, precipitou-se para ele e bebeu sofregamente. Chorou quase sem energia. Queria mais!
– Vamos continuar, mamã!
– Sim.
(continua...)
Ansiosa por ler o resto. Não deixes nunca de escrever e de nos contar estas maravilhosas histórias. Que saudades dos "meus" meninos de África....
ResponderEliminarMuita força e coragem. Não, não deve ser nada fácil.
ResponderEliminarMoo, se ainda não foi vá ver o Tabu. Para além do mais aparece lá um burro do sr. Pompisky.Bj
ResponderEliminarObrigada, Pedro, lá irei!
ResponderEliminarMoo