(continuando...)
Em Iapala elas eram
"as meninas das irmãs". Tinham uma cama, comida todos os dias, água
nas torneiras, luz dentro de casa, livros e cadernos para estudar. Nunca
iam ao hospital sozinhas e portanto, sob os mil olhos atentos das irmãs, eram
sempre bem atendidas. Na escola os professores pensavam sempre duas vezes antes
de lhes pedirem subornos ou favores sexuais porque sabiam muito bem no que
se estavam a meter… em tudo o que tivesse a ver com as suas meninas, as irmãs
eram umas autênticas leoas. Defendiam-nas com unhas e dentes e,
portanto, se fossem descobertos, os professores corriam o risco
de perder o emprego e já não seriam os primeiros a ir para a prisão.
Mas se fora de casa
eram protegidas pelas irmãs e pela sua reputação de leoas, dentro de casa
estavam longe de serem tratadas nas palminhas. Como quaisquer adolescentes
que se prezem davam água pela barba a quem as acompanhava! Ansiedades,
angústias, dúvidas, namorados, doenças – verdadeiras ou imaginadas –, saudades
de casa, intrigas com as amigas, todas as noites aquela casa era uma
animação. Uma telenovela das antigas. Um dia a dia bem diferente da Casa
do Gaiato, pautado mais pelas brigas e disputas com que os meninos extravasavam
a sua agressividade e as energias. Tão diferentes os rapazes das meninas… Mas
também, tal como na Casa do Gaiato, eram aqueles os melhores momentos, os
que passávamos sentadas na varanda, ao fim do dia, olhando a lua que subia sobre
o monte Iapala, as queimadas a arder aqui e ali, a tentar impingir umas às
outras o cão mais chato à face da terra, permanentemente a roçar-se em nós e a
pedir festinhas. As meninas vinham ter comigo e por lá ficávamos, lado a
lado, a namorar a noite e a conversar, todas com a difícil tarefa de
tentar compreender o mundo e crescer dentro dele...
(continua...)
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