domingo, 17 de abril de 2011

[a tale of three cities] criaturas lendárias


I love New York, I would live in Paris but...
Mozambique is exotic!

Sobre isto, vale a pena ler a explicação do Vítor, correspondente honoris causa deste mato, residente no Chimoio, mas infelizmente quase longe do paraíso...

Perto de Guruè, na Alta Zambézia, fica o Monte Namúli, que é a segunda montanha mais alta de Moçambique e é, para as pessoas da região, os lómuès, o berço da Humanidade. Dizem que lá se podem ver as pegadas do primeiro homem. Mas não se devia poder. Quer dizer, ningém devia poder vê-las. Parece que as coisas mudaram um bocado desde que eu vivi na Alta Zambézia, e vi guias de viagens recentes que aconselham caminhadas no Monte Namúli, mas antigamente só se podia escalar a montanha até um determinado sítio. Ou antes só se devia. A partir daí, era proibido, porque era terra sagrada. O castigo de quem se aventurasse até à parte de cima do monte era (como é muitas vezes, nesta parte do mundo, o castigo de quem viola alguma regra costumária) a pessoa perder-se e nunca mais encontrar o caminho para casa. O que é original – e delicioso, na minha opinião – na lenda lómuè é a maneira como a pessoa se perde: se o guardião eterno da montanha lá apanhar alguém, começa a falar com essa pessoa tanto e tão depressa que a confunde completamente; e ela, de tão baralhada que fica, nunca mais encontra o caminho de volta.

2 comentários:

  1. Muito obrigado pela citação. Alguém me escreveu a dizer que conhecia outra lenda em que não havia um guardião, mas sim vários guardiães. É bem natural que, em vez de mais uma, haja muitas outras lendas sobre guardiães do monte Namúli – o que, claro está, não tira o charme a esta, que me contaram no Alto Molócuè, quando lá vivi de 1997 a 1999. Seja como for, parece que o Namúli está muito dessacralizado, a julgar pelo facto de todos os guias turísticos conhecidos proporem passeios até ao cimo do monte. Alguns aconselham a consultar o régulo antes de iniciar a subida, mas, mesmo assim…

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  2. A mim contaram-me que aliancas ali forjadas sao sagradas e tem que ser cumpridas e que esta tradicao teria tido grande impacto em certas aliancas que se estabeleceram durante a guerra civil.
    Quanto ao turismo e sacralizacao do monte, confesso que tenho sentimentos mistos. Passa-se o mesmo com a Rocha Ayer na Australia e com as nossas igrejas e catedrais. E tambem com o Monte do Ramelau em Timor Leste. Por um lado temos que reconhecer o peso do sagrado em cada cultura e ter todo o respeito para com ele; por outro odiaria ver vedada a Capela Sistina ou a Rocha Ayer ou mesmo o Monte Namuli.

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