sexta-feira, 22 de julho de 2011

[birdwatching] umbhalane, serinus mozambicus


Um xirico, ave canora de Moçambique.
Quem quiser ficar encantado pode vir aqui ouvir o seu canto lindíssimo...
(Imagem encontrada algures no google)

umBhalane foi a primeira pessoa que, no ano passado, chegou aqui ao mato para vir ver o que se passava com um inusitado beijo de uma mulata, que no fim de contas era apenas uma flor selvagem, venenosa e ubíqua, vítima de ilusões, encantos e saudades. E de equívocas pesquisas no google. Diz-me que às vezes voa por aqui... Ontem perguntei-lhe a origem do seu nome peculiar e ele contou-me esta história linda, que eu achei uma pena ficar escondida na gaveta dos comentários...

umBhalane, em Zulu, é xirico, canário de Moçambique, ave canora de primeiríssima qualidade, e com quem tenho grande afinidade. Em muana* tive vários, sendo que os machos, como é normal no reino das aves, é que melhor cantam.

Os trabalhadores sazonais da alta Zambézia (Maganja, Mulevala, Ile, Alto Molócuè, etc...), alguns deles, traziam consigo um destes exóticos pássaros, e hoje compreendo bem o porquê.

E não os vendiam por nada deste mundo.

Aprendi cedo, compreendi, o significado de "desterro", o apego à terra de origem, ao lar. O xirico que traziam, e guardavam com mil cuidados em pequenas gaiolas, idênticas à que se usam para os pintassilgos cá em Portugal, mas em colmo, meticulosamente construídas, era o "link" a casa, à família,...
E quando deambulava nos acampamentos desses sazonais trabalhadores, de ginga, provocava-os com ofertas mirabolantes pelos "pavarottis" que possuíam e, já no gozo, respondiam-ea rir, cheios de orgulho xiriquiano.
E no Moçambique para Todos (blogue) tentaram silenciar-me, não o editor, mas uns "democratas libertadores" de Maputo.
Comentaram com o meu antigo "nick", muito a despropósito, e resolvi que nunca me iriam calar - adoptei então o xirico - umBhalane. E canto...
* Do Macua, mwana, que quer dizer "criança".

3 comentários:

  1. Como não sou fã de aves engaioladas, sou a primeira aprecidora destes pequenos seres canoros ao ar livre, e se eles cantam bem, mesmo no meio da cacofonia dos motores e gentes da cidade das acácias!
    E sou a primeira a perceber este apego aos seres alados, já que tenho um ninho de corvos (pelo barulho e restolhar de penas só podem ser corvos) mesmo do outro lado da minha parede do quarto e confesso que à noite fico acordada só para os ouvir (eles são mais activos às noite)... Que emoção quando percebi que os ovos tinham eclodido e os bebés estavam bem e famintos! que companhia reconfortante nas noites mais solitárias longe do meu ninho...

    Um beijo da cidade da acácias.

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  2. Surpresa boa!
    E teceu uma linda estória, como de costume.
    E fico sem jeito, como dizem os Brasileiros.

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  3. Ruiva, que coisa boa! Ainda bem que já está aculturada... Eu, desgraçadamente, nunca me dei conta de que existiam umBhalanes por esse mato fora, se bem que o canto que hoje fui procurar me soou estranhamente familiar...

    umBhalane, eu é que agradeço. Muito!

    (um) beijo de mulata

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