terça-feira, 19 de julho de 2011

[welcome to mozambique] sem medo, nem dó, nem drama





Somos uma família feliz. Vivemos aqui há 45 anos! Mas andámos fora, no mato, em Nampula, em Angoche durante a guerra. Ihhh... fugimos tantas vezes... Construímos cinco casas e tivemos de fugir de todas, às vezes sem levar nem esteira... nem comida [um sorriso nos lábios, aquele sorriso que nunca se apaga e que quer apenas dizer "gosto de estar aqui a falar consigo."]. Depois da paz voltámos para aqui. Quase tudo aquilo que temos, desde os tijolos da nossa casa, à cerca, às panelas com que cozinho ou ao forno onde faço o pão com que ganho a vida... quase tudo foi feito à custa dos nossos braços. Mas a nossa riqueza... ihhh, mamã!, foi Muluku* que nos trouxe. Dez vezes, que foram as vezes que eu nasci! E todos vivos... A primeira sorte** está em Nampula, vai ser padre! [os olhos brilhando... uma pausa para avaliar o impacto deste enorme motivo de orgulho...], outros estão ali na vila e os últimos três estão connosco. E os netos agora também!
(Voz amadurecida da Mamã Teresa, Moneia, Zambézia)

* Deus
** O filho mais velho

8 comentários:

  1. "quase tudo foi feito à custa dos nossos braços"

    Moçambique, melhor, Zambézia que conheço.

    Assim, mesmo.

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  2. umBhalane, obrigada por passar por aqui e dar sinal novamente!

    (um) beijo de mulata

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  3. Vôo várias vezes por aqui, em silêncio.

    O meu cantar é muito peculiar!
    E incomoda muitos poleiros.

    Agradeço a sua gentileza.

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  4. Já agora, umBhalane, primeiríssimo comentador deste mato, pode explicar-me a origem do seu nome peculiar?

    (um) beijo de mulata

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  5. Oh, pois não!

    umBhalane, em Zulu, é xirico, canário de Moçambique, ave canora de primeiríssima qualidade, e com quem tenho grande afinidade.

    Em muana tive vários, sendo que os machos, como é normal no reino das aves, é que melhor cantam.

    Os trabalhadores sazonais da alta Zambézia (Maganja, Mulevala, Hile, Alto Moló(ò)cué,etc..., alguns deles, traziam consigo um destes exóticos pássaros, e hoje compreendo bem o porquê.
    E não os vendiam por nada deste mundo.
    Aprendi cedo, compreendi, o significado de "desterro", o apego à terra de origem, ao lar.
    O xirico que traziam, e guardavam com mil cuidados em pequenas gaiolas, idênticas à que se usam para os pintassilgos cá em Portugal, mas em colmo, meticulosamente construídas, era o "link" a casa, à família,...
    E quando deambulava nos acampamentos desses sazonais trabalhadores, de ginga, provocava-os com ofertas mirabolantes pelos "pavarotis" que possuíam, e já no gozo, respondiam-ma a rir, cheios de orgulho xiriquiano.
    E no Moçambique para Todos (blogue) tentaram silenciar-me, não o editor, mas uns "democratas libertadores" de Maputo.
    Comentaram com o meu antigo "nick", muito a despropósito, e resolvi que nunca me iriam calar - adoptei então o xirico - umBhalane.
    E canto...

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  6. Que história mais linda! Muito obrigada por a ter partilhado comigo... Importa-se que a ponha num post com o seu nome? Agora, de repente, tenho pena que mais ninguém a escute...

    (um) beijo de mulata

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  7. Gostei desta história de Cantos ... que cante muito ...

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  8. Sou Zambeziano de Mulevala. Nasci em 1961 e de lá saí em 71 para o Colégio Paulo VI mas regressava sempre nas férias à minha querida Mulevala. Saí definitivamente em 1975 e as saudades são imensas. Nunca mais tive amigos, como aqueles, os da infância.
    Durante anos acalentei esperanças de lá voltar; talvez um dia.
    Tenho muitas histórias daquela época de Mulevala.
    Quem viveu na Zambézia, jamais esquece. Quem nasceu, fica amarrado para sempre.
    Adorei o seu blogue.

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