sexta-feira, 1 de abril de 2011

[a tale of two sports] zambézia vs new york


I love New York but...
Mozambique makes deeper sense!

Estive na meia maratona em Nova Iorque... Catorze mil pessoas a correr tentando "chegar primeiro", tentando superar-se ou superar nem que fosse apenas o companheiro incidental à sua esquerda. Catorze mil pessoas transformando o conceito saudável de exercício ao ar livre numa corrida insana numa selva de betão. Ruas fechadas ao trânsito, cobertura televisiva, patrocinadores, a inevitável causa humanitária, movimentação de pessoas, fundos e meios e o diabo a quatro (ou a sete, pronto, já tivemos algures esta conversa)...

Divertido, é certo! Muito divertido. Correr, dar duas voltas ao Central Park e acabar na Times Square no meio de galhofa, amigos e família é qualquer coisa de muito especial, mas enfim... algo nonsense também... Sobretudo porque um dia, na Zambézia, também de manhazinha, partimos ao romper do dia para uma caminhada até ao monte Gilé. Uma distância ainda maior a percorrer, um número de pessoas proporcionalmente também maior, o mesmo objectivo de chegar ao fim. Mas tão diferente...

Diferente no sentido em que o objectivo não era chegar primeiro, mas chegarmos juntos. Pouco a pouco. Sem pressas. Era isso que as pessoas iam cantando, animando-se pelo caminho "Vkhani-vakhani enrwaka!" [Pouco a pouco chegaremos todos!]. E a caminhada teve o seu ponto mais intenso na subida ao monte, morada por excelência de todos os antepassados, território sagrado, quase inviolável. Uma subida em silêncio depois de uma reza que cada um fez para si, reafirmando o seu respeito e temor aos antepassados. Subimos tão alto quanto era possível e aí nos juntámos, numa cerimónia de invocação colectiva para pedir a protecção dos antepassados e depois rezámos em conjunto. No final do dia estávamos todos um pouco mais ricos. Todos um pouco mais próximos. No final do dia podíamos olhar-nos uns aos outros nos olhos e reconhecer-nos porque tínhamos estado juntos, porque nos tínhamos animado e ajudado pelo caminho. No final do dia não sabíamos dizer qual tinha sido mais longa, se a caminhada do corpo, se a caminhada interior.

É a diferença entre um "quero chegar primeiro" e um "quero caminhar contigo"...

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