Nessa tarde em Nampula embrenhei-me nas compras para o hospital até encher a cabine do carro. Sim, que nem pensar em carregar qualquer bagagem na caixa aberta do jipe, a não ser que quisesse ficar sem ela no mesmo minuto. Nampula, nesse aspecto é uma selva, infelizmente. Qualquer pessoa na rua é um potencial ladrão, desde os miúdos que se oferecem para guardar o carro enquanto entramos nas lojas, até aos mutilados pela guerra e pela lepra que pedem dinheiro nas ruas, passando por pessoas de aspecto normalíssimo…
- Eu sou o Gabriel, posso ficar a guardar o carro, mamã?
- Não, obrigada, vim com o guarda, que está lá dentro.
- Xii, mas ele está a dormir, mamã! Não vai nem dar conta di quem leve até pineu!
Quem me falava era um menino de seus 12 ou 13 anos de olhar vivaço. Afastei-me, mas não desistiu. Correu atrás de mim.
- Eu não sou ladrão, mamã!
- Ora, tu és o chefe deles!
- Sim, mamã! – Sorriu, deliciado, como se tivesse ouvido o maior elogio que lhe poderiam ter feito… – Eu sou o chefe dos ladrões! Ninguém vai roubar se eu não disser. Posso ficar a guardar o carro?
Não pude deixar de me rir… Tinham resposta para tudo!
- Não, Gabriel! Eu tenho guarda. Não preciso, obrigada.
Desde então, sempre que passava naquela rotunda, o mesmo menino vinha ter comigo com um ar de gozo:
- Mamã, lembra di mim? Sou Gabriel, o chefe dos ladrões. Posso ficar a guardar o carro?
Instantes inspiradores, passar aqui.
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