quinta-feira, 8 de setembro de 2011

[vozes amadurecidas] infertilidade e educação sexual

Possivelmente já repararam que quase não falo das minhas histórias de dentro de casa. Talvez por pudor e por receio do voyerismo, embora também siga blogues intimistas, que falam de pormenores do que se passa portas adentro e não têm receio de se expor sem muitas reservas. Não sou contra, simplesmente não é do meu feitio.

Eu sou mais reservada. Mesmo no dia a dia*. Não pareço, eu sei. Disfarço o mais que posso. Tive um conhecido, o meu instrutor de condução, que um dia me disse que nunca tinha encontrado mais ninguém assim, incrivelmente reservada mas uma conversadora nata. No final, como bom africano que era, reformulou: eu no fundo era, sim, uma desconversadora nata! Pois, aquilo em que eu sou especialista é em contar histórias. Quando não posso, desconverso. Ou falo do tempo. São poucas as pessoas que me fazem baixar a guarda.

Mas hoje, à conversa com uma amiga que anda desanimada pela dificuldade em engravidar, lembrei-me de uma história deliciosa dos meus 14 anos. Pela primeira vez fi-la rir-se do assunto e admitir que, se a receita da minha avó falhasse este mês, então estava na altura de ir procurar ajuda especializada...

Estávamos nas férias de verão e eu e os meus irmãos tínhamos ido visitar a minha avó, então com 85 anos. Ela, na altura estava mais ou menos como está hoje: lúcida, independente (hoje um pouco menos, infelizmente), bem disposta e perspicaz. Uma força da natureza com um sotaque levemente espanholado por ter vivido toda a vida numa terra de fronteira. Sempre se achou de mente aberta, e quase andaria à frente do seu tempo... se eu tivesse nascido trinta anos antes.

Numa tarde, ela olhou para mim, já uma mulher feita, com o corpo que tenho hoje, sentada a ler um romance e disse-me que queria conversar comigo. Achou que era altura de me pôr ao corrente dos factos da vida. Claro que me fiz de novas para não a desiludir. Curiosamente, abordou o assunto com clareza e um bom humor que não lhe suspeitava. Provavelmente falou comigo do mesmo modo que gostaria que tivessem falado com ela. Mas claro, mais de 70 anos depois, muita coisa já teria mudado...

Também achou por bem dar-me alguns conselhos para um casamento bem sucedido, como o de nunca deixar que o homem perceba que estamos cansadas dele, porque é um sentimento que passa, mais tarde ou mais cedo, e voltamos a apaixonar-nos. E uma pérola sobre a infertilidade:

- Filha, quando estava na altura de ter filhos e as mulheres não conseguiam "alcançar" [engravidar], havia uma oração que nunca falhava.
- Ah, sim? E como era essa oração?
- Antes de se deitarem juntos, rezavam os dois: "Senhor, não é por luxúria nem por vício, mas para dar um filho ao teu serviço!"
- E depois?
- E depois, Pai Nosso, Avé Maria e Glória.
- Não, avó... Pronto, está bem... E então, funcionava?
- Funcionava, filha, claro! Os filhos nasciam e criavam-se [sobreviviam]!

Uma pequena oração, um Padre Nosso, uma Avé Maria, um Glória, e ala que já anoiteceu! Seriam os preliminares da altura? Espero que não, mas bem... sempre seria melhor que nada...

Mas diga-se, em abono da minha querida avozinha, que ela e o meu avô tiveram seis filhos, todos vivos e saudáveis. É aproveitar, meus amigos, que eu não duro sempre!

*Abolir os hífenes é o máximo que por enquanto consigo cumprir do acordo ortográfico...

2 comentários:

  1. Olá... fala-me um pouco mais dessa conversa... da parte dos factos da vida e do casamento. pode ser?

    Obrigada :)

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  2. Posso dar-te o telefone da minha avó... Ela é pródiga nestas pérolas!

    (um) beijo de mulata

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