(E antes que se levantem os velhos do Restelo a dizer que uma médica nunca deveria abandonar o seu posto de trabalho para ir fazer seja o que for, posso alegar em meu favor que tentei, de facto, ir votar antes de ir para o hospital, mas vi os meus intentos barrados por uma porta ainda fechada e uma fila de gente maldisposta que de certeza que tinha caído da cama para estar ali a resmungar às 8 da madrugada num domingo. E às más línguas que dizem que a minha saída intempestiva dos cuidados intensivos para ir votar não merece uma erecção de velhos do Restelo em defesa dos doentes, eu respondo que tudo bem, mas que isso se deve apenas, hélas, à sua provecta idade...)
Mas é verdade que fui votar. Como disse o Pedro Rolo Duarte:
Por mais ínfimo que nos pareça o valor de um voto, é a infinita casa decimal que nos cabe no regime. E se é isso que temos, é isso que devemos usar.Quanto a mim, no meu dia de niilista convicta, a dada altura surpreende-me é ler pessoas que sabem distinguir o "por que" de "porque" e utilizam simultaneamente a vírgula de Oxford. Geralmente só peço que, quer votem "à esquerda" ou "à direita", quer votem "à distância" ou "à confiança", pelo menos botem um acento grave... Porque não há, de facto, mais nada a dizer. Fui votar, ponto final, que a pontuação serve inclusivamente para terminar conversas e mudar de assunto. [E esta semana também aprendi com uma pessoa que se sentiu ameaçada e agredida por um SMS sem ponto final, que a pontuação serve ainda para confortar quem lê, para dizer não-te-preocupes-que-está-tudo-bem, dizer que está tudo na mesma, que nada mudou, que cá vamos andando com a cabeça entre as orelhas. Mas isso agora não vem ao caso.] Fui votar. É tudo.
Ao final da tarde, as pessoas que se levam demasiado a sério vão "explicar-nos" o que fizemos, por que fizemos, e como fizemos. E todos os candidatos vão, de alguma forma, ganhar. É o que vale. E tem uma vantagem: é o costume. A dada altura, já só peço que não me surpreendam...
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