terça-feira, 24 de julho de 2012

[zambézia] epidemia de cólera





Era aqui que eu queria estar... Palavra que às vezes tenho vontade de largar tudo, deixar os relatórios e a conversa de chacha e ir trabalhar para onde é preciso. Em Portugal estamos na silly season. Fala-se do tempo, da praia, dos 10 minutos mais engraçados da história de Portugal na actualidade (o tempo em que o Relvas esteve na Lusófona) e de outros não-assuntos.

No Gilé, infelizmente, não estamos na silly season. Na Zambézia estão a braços com um surto de cólera apocalíptico. Todos os dias tenho notícias da morte de pessoas que conheci, que vi, que tratei em tempos... As autoridades, como sempre, escondem a verdadeira dimensão da epidemia. Os jornais, há três dias, falavam em 13 óbitos. Ora entre as pessoas que eu conhecia já se contam mais de vinte... E estão, infelizmente, longe de ser todos. (É sempre assim, enquanto não atingirem o estado de catástrofe, mais vale esconder os números. Quando chegarem ao número de óbitos que lhes permite lançar uma campanha de solidariedade internacional é que revelam tudo...)

Rezo por eles porque, desgraçadamente, não posso fazer mais nada... pelas Irmãs e pelas nossas meninas e que a epidemia não dure mais tempo. Pelo menos desta vez não há falta de meios de tratamento, é o que me dizem. Estão duas equipas de Maputo e de Quelimane no terreno, mas as pessoas continuam sem confiar na Medicina e chegam tarde ao hospital... Quando é que isto terá um fim? Ai... como diria umBhalane: AINDA...
(Gilé, Zambézia)

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