Continuam a chegar ao nosso hospital pessoas que acreditam. Pessoas que ouviram o apelo e vão oferecer um pouco de si próprias e palavras de amizade à nossa menina.
Bem-hajam!
Bem-hajam!
Sou branco, "muzungu" – em língua Sena. Em Portugal já me chamaram copinho de leite, branquela, desmaiado, e tantas outras coisas! A verdade é que a melanina da minha pele não me permite passar um dia inteiro na praia. Pronto, está dito!Continua...
Ora, um muzungu em Moçambique tem a vida mesmo acrescentada! Eu chamo-lhe Imposto de Pele: se a banana custa “10-10” (lê-se «dez dez», e significa que um cacho custa 10 meticais, e cada outro cacho outros 10 mt), para um muzungu custa 20-20! Se o tomate custa 15mt a latinha (uma lata de feijões serve de medida: os que cabem dentro constituem a quantidade a adquirir), para muzungo custa 30 mt! Se a alface custa 10-10, para muzungu pode custar 30-30!
O preconceito é: muzungu tem dinheiro! Muzungu é imediatamente chamado de «boss», mas esta subserviência aparente engana: o muzungu desprevenido acaba por pagar muito caro os produtos que compra (caro quando comparado com os preços locais... ).
Como lidar com isto? Há muzungus que não se importam nada: uns porque gostam de ser tratados como reizinhos, gente superior, e ter povo que os bajule e que eles podem tratar mal sem terem consequências nenhumas; outros muzungus não se importam de ser aldrabados nos preços, porque vêem a miséria das pessoas que vendem nas ruas e nos bazares. Para este segundo grupo de muzungus, deixar-se enganar é uma forma de ajudar a família daquele vendedor a passar melhor o dia de hoje, e “a diferença de preços também não é assim tão grande para quem tem bons ordenados” – argumentam eles. Há ainda um terceiro grupo, o meu, o grupo dos muzungus que odeiam ser roubados, aldrabados, enganados e extorquidos, mesmo que por necessidade! Se me pedem ajuda é uma coisa, roubar-me é outra! Percebo as carências que muitas famílias passam, aliás muitos dos meus vizinhos vivem com grandes dificuldades, mas tirarem-me dinheiro à má-fé custa-me horrores!
É importante explicar que esta não é uma questão racial, não se trata de racismo: com africanos bem vestidos, ou que conduzam bons carros, a compra também é acrescentada! Aí não pode chamar-se Imposto de Pele, mas é qualquer coisa como uma Taxa Adicional sobre os Altos Rendimentos… O Imposto de Pele apenas se aplica ao muzungu, mas esse, mesmo que esteja vestido de pedinte, ninguém acredita que não tenha dinheiro! Há dias, contava-me uma mamã moçambicana: “Ouvi dizer que na África do Sul já há mendigos brancos, mas não acredito nisso…”
«O senhor ministro diz, demasiadas vezes, que as propostas que põe sobre a mesa vão de encontro às reivindicações dos médicos, diz que o que o preocupa são os utentes que vão ficar sem consultas por causa das greves, diz ainda que a requisição civil está sempre sobre a mesa e diz também que não tem medo dos médicos. A comunicação é difícil, eu sei, mas vivia na ilusão que falávamos a mesma língua.
O que os médicos reivindicam é o fim do contrato de horas em massa. Se as horas que estão a concurso equivalem ao trabalho de 1800 profissionais a tempo integral de 40 horas então queremos contratos e não horas avulso. O que o senhor põe na mesa é um tecto mínimo para o preço dessas horas. Não vai de encontro ao que queremos, desculpe lá. O senhor não sabe mas eu conto-lhe porque sou generosa: a medicina de qualidade depende de uma política de serviço, de uma hierarquia, de um pensar conjunto, da discussão dos doentes, de assumir os doentes como nossos e ter com eles uma relação perene. O trabalho à hora não garante nada disto.
O senhor diz que está preocupado com os doentes e nós sabemos que na comunicação social vai aparecer a senhora que fez quilómetros para ir a uma consulta que o estupor do médico não fez. Descanse excelência, as consultas vão ser feitas, noutros dias pelos mesmos médicos. Fazer greve não nos poupa trabalho, a nossa relação com os doentes é fiel e por isso fazemos questão de sermos nós a ver os nossos doentes em vez de médicos estranhos contratados à hora.
Ameaça-nos com a requisição civil. Não receamos, excelência! O direito à greve é nosso pela constituição, sabemos quais são os serviços que não podem falhar e vamos cumpri-los. Não precisamos de castigos, somos cidadãos responsáveis.
Não tem medo da greve mas perde tempo a desprestigiar a classe. Que somos pouco razoáveis, que não estamos abertos à negociação, que a ordem é amiga mas os sindicatos são maus. Tenha paciência e seja decente.
Defendemos o direito ao trabalho não precário, defendemos a justiça salarial e defendemos acima de tudo o Serviço Nacional de Saúde. Aquele que vocês, os senhores da austeridade expansionista (piada, piada) acham que é demasiado caro e, arrisco, demasiado bom para os portugueses.»
«Estou tão contente com esta história dos ordenados dos enfermeiros! É que a minha mulher-a-dias anda a tirar a licenciatura em enfermagem. Assim que ela passar a ser enfermeira, vou poder passar a pagar-lhe 4 euros à hora em vez dos 6,5 + subsídio de férias e de natal que pago agora. E se me aleijar, ainda lhe posso pedir para me fazer um curativo. Que máximo!
Se os enfermeiros ganham isto, então os administradores dos hospitais devem ganhar o quê, para aí uns 800 euros brutos, não?
Espero que o senhor ministro da saúde nunca tenha de ir a um hospital, porque se fosse eu, desinfectava-lhe as feridas com álcool e sal grosso.»