segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

[vozes brancas* #57] espírito woodstock

Esta tarde eu e Mr. B., o meu sobrinho de três anos, estávamos animadamente a montar o antiquíssimo presépio dos avós, com cenas da vida campestre e íamos tirando as figuras de dentro de um cesto enorme e desembrulhando-as do papel de jornal. Cada figura era uma surpresa e protagonista de uma história mais ou menos fiel à oficial, com algumas adaptações, que penso que no texto original não estavam nem o casal de moleiros à porta do moinho, nem os patinhos no rio, nem os pescadores sentados na ponte a pescar tubarões, nem os soldados a tentar trepar as muralhas do castelo para ir salvar a princesa, nem o cão vadio a roubar as galinhas ao pastor. Já íamos a meio das figuras quando chegou a vez do São José, habitualmente a figura com que Mr. B. se identifica. Vi-lhe a indignação estampada no rosto quando o desembrulhou.

- Oh, tem barba!

Mr. B. tem uma aversão visceral a homens de barba comprida. Não sei concretamente o motivo, mas penso que é um misto de medo e repugnância. Pela reacção dele, os homens com barba parecem-lhe uma encarnação áspera, feia e pouco asseada do lobo mau...

- Sim, o pai do Jesus tinha barba porque já era um senhor muito velhinho quando o Jesus nasceu e o Jesus, que era muito maroto quando era pequenino, gostava de puxar a barba ao pai na brincadeira...
- [Ignorando ostensivamente a minha história do menino e das barbas] E o que é isto?
- É a caminha do Jesus, feita de palhinhas, porque ele nasceu num estábulo.
- E isto?
- É a mangedoura, onde comiam o burrinho e a vaquinha que estiveram a aquecer o menino Jesus a noite inteira quando ele nasceu... É que estava muito frio. [Valha-me Deus, que a história do Natal é mesmo uma Alice no País das Maravilhas...]
- E a cozinha? Onde é que comem o pai e a mãe?
- A cozinha é lá fora, perto do moinho. A Nossa Senhora e os pastores faziam uma fogueira e punham as panelas ao lume para fazer o jantar...
- E a casa de banho?
- Não havia casa de banho, os estábulos não tinham casas de banho nem água.

Nisto, Mr. B. pega no São José e leva-o para a outra ponta do presépio, onde estava o riacho, a ponte e os patinhos...
- O que é que o São José foi ali fazer, B.?
- Foi ao rio fazer a barba!

[Ah, temos homem! Já pode ir com a tia para a savana, que um homem nunca se atrapalha!]

* Timbre da voz de uma criança antes da puberdade.

4 comentários:

  1. Querida BdM,
    Ah, que esse sobrinho sai mesmo à tia, é tão desenrascado quanto patusco. Um sorriso!

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  2. Querida Bê, eu sei, eu sei, eu é mais baba ;)

    (um) beijo de mulata

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  3. Já me alegrou a tarde com este post, querida prima!!!!
    MR. B é fantástico!!! Genes são sempre genes....
    ;)

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