terça-feira, 14 de dezembro de 2010

[welcome to mozambique] das minas e suas armadilhas

Garimpo
(Foto surripiada de um outro site, provavelmente com direitos de autor, mas cuja origem não me recordo. Desculpem qualquer coisinha, sim? Se me lembrasse punha aqui o link, juro!)

Uma das riquezas do Gilé, a par com a reserva de caça turística e os cajueiros a perder de vista, são as minas de ouro e de pedras preciosas... Exploradas, obviamente, por grandes multinacionais estrangeiras, que nem por sombras investem no distrito ou nas pessoas. Criam alguns postos de trabalho, é certo, embora altamente precários, mas podiam talvez formar uma ou outra parceria com o Governo para, por exemplo, melhorar as vias de comunicação e assim até escoar mais facilmente o minério... Ganhavam todos... As multinacionais não são a Santa Casa da Misericórdia, disso já toda a gente sabe, mas estão a explorar a riqueza de um país em vias de desenvolvimento, valha-me a Santa! Podiam ter uma conduta ética e demonstrar alguma sensibilidade pela situação do povo, tanto mais que a actividade é extremamente lucrativa. Mas enfim, estou a repetir-me e até já sabemos que eu não gosto de falar sobre este tipo de coisas... E de qualquer modo eu não sou de cá, só cá vim ver a bola...

E onde há minas de ouro há sempre garimpeiros, homens que exploram ilegalmente o solo, numa actividade rudimentar, mas extremamente arriscada e, se possível, ainda mais destruidora do meio ambiente e poluente. As minas são uma atracção enorme para os jovens e são muitos os que lá deixam ficar a vida ou ficam mutilados em acidentes violentos com explosivos ou nos desabamentos de que ouvimos falar quase diariamente... Nunca me vou esquecer que no mesmo dia em que 33 mineiros ficaram soterrados no Chile e meio mundo se mobilizou para os resgatar, vimos chegar um jovem de vinte anos inconsciente, trazido por quatro homens, após ter estado soterrado durante uma manhã inteira na sequência do desabamento de um túnel. Minutos depois percebemos que o absoluto desconhecimento de como fazer um desencarceramento e o transporte em caso de traumatismo vértebro-medular tinha arruinado a vida daquele rapaz para sempre. Tinha ficado tetraplégico... Ainda tentámos fazer-lhe corticóides em altas doses e transferimo-lo para um centro com Neurocirurgia, mas não foi possível fazer mais nada por ele... Aquele acidente horrível e a operação de resgate desastrosa teriam impossibilitado a sua recuperação em qualquer parte do mundo...

E depois também há os traficantes estrangeiros que transaccionam ilegalmente o ouro e as pedras preciosas. Há uns anos ouvíamo-los chegar nas suas avionetas. Aterravam num descampado que hoje é o campo da bola, deixavam o seu guarda particular a tomar conta da aeromáquina, ficavam alojados na residencial do Sr. Pompisk (para ele, se nos estiver a ouvir, mais um grande abraço!) e, um ou dois dias depois, pela calada da noite, ouviamo-los levantar voo levando a riqueza extraída da terra vermelha com o sangue dos homens na força da vida. Tudo isto às claras, com os administradores impávidos, sem impostos e impune (como devem ser irresistíveis estas aliterações para alguém sem escrúpulos na conta bancária)...

Agora já não vemos chegar avionetas... desde que as estradas estão melhores que os traficantes chegam por terra, em jeeps com logotipos pintados que tento não ler nem fixar (não quero nem pensar que existem ONG e lavagens de dinheiro metidas no meio disto tudo...).

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