segunda-feira, 16 de abril de 2012

[et in iapala ego] as ocorrências...

(continuando...)

Em redor todos continuavam, imperturbáveis. A servente da maternidade tinha começado a sua leitura: “Inventário da maternidade no dia 8 de Agosto à noite: duas tesouras, um balde, uma pá, uma esfregona, três cabos de bisturi, dois relógios de parede (um dele parado), cinco rolos de ligadura, um tabuleiro de pensos, duas tinas, um aspirador de secreções, um ambu de criança, dois porta-agulhas, cinco fios de sutura, duas arrastadeiras, uma vassoura, cinco redes mosquiteiras, duas velas e uma lanterna.” Não consegui deixar de esboçar um sorriso com aquele inventário absolutamente improvável, despropositado e completamente caótico. Para que serviria? Para evitar que o material fosse roubado? Mero controlo para evitar o caos total? Que rotina mais caricata… Fez-se silêncio.

– Muito bem – disse o director –, bom descanso aos que estão a sair e bom trabalho aos que estão a entrar. Vamos começar.

O primeiro dia foi relativamente leve, apesar de ser segunda-feira. Em qualquer parte do mundo a segunda-feira costuma ser um dia complicado, mas no meio do mato, onde hospitais e centros de saúde quase não funcionam ao fim-de-semana, o “efeito segunda-feira” é geralmente muitíssimo mais pronunciado. Sorte de principiante… Mas não foi fácil, claro, muita coisa nova para aprender, muitas rotinas diferentes, muitas práticas aparentemente sem sentido, uma língua totalmente estranha, a necessidade quase permanente de um intérprete… Ao início da tarde eu já estava sozinha a trabalhar, os enfermeiros e serventes tinham desaparecido da urgência quando perceberam que eu tinha mesmo intenção de atender as pessoas, deixando-me ali sem apoio nenhum.
(continua...)

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