sexta-feira, 28 de maio de 2010

[welcome to mozambique] andar na estrada

Fevereiro de 2006. Primeira ida ao Gilé, na Zambézia (Moçambique) com a minha amiga A., a melhor companheira de viagem que se pode ter. Ela era um GPS onde não podia haver GPS. Tinha um sentido de orientação absolutamente fenomenal*: mesmo sem estradas e sem caminhos visíveis, a A. tinha como referência os embondeiros, os troncos e as raízes do caminho para saber onde virar para determinada aldeia. E tudo isto sem pestanejar, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Durante a viagem tivemos um furo num pneu (imaginem só, duas gajas e um pneu no meio do mato!), mas a famosa afabilidade e solicitude do povo moçambicano mais uma vez entrou em acção. As primeiras pessoas a aparecer foram as mulheres que andavam por ali a cultivar a machamba, com os filhos amarrados às costas como uma segunda pele. Mas, chamados pelas respectivas, logo compareceram também vários cavalheiros que nos mudaram o pneu ainda mais rápido do que eu tratei dois dos filhos deles que estavam doentes. No final ainda agradeceram a pequena gratificação que lhes demos e a medicação dos meninos... É um país abençoado!

O problema é que, durante a trovoada do dia anterior, uma ponte tinha desabado, obrigando-nos a um desvio considerável. Assim, chegámos ao Gilé com várias horas de atraso e o depósito de gasóleo a menos de metade, preocupadas porque teríamos de encontrar um posto de abastecimento razoavelmente próximo e de confiança. Não é fácil, como sabe quem já lá passou. Por vezes os postos de abastecimento vendem gasóleo adulterado com água, que faz gripar o motor poucos quilómetros depois, arriscando-nos a ficar no meio da savana, onde não há aldeias, nem rede de telemóvel. E muito menos reboques...

Mas, assim que chegámos, a Irmã Lurdes descansou-nos:
- Não se preocupem. Aqui no Gilé há uma bomba de gasolina. E deve ter combustível quase de certeza, porque soubemos que chegou esta semana!

(Ai que nos valesse São Cristóvão, que tínhamos chegado a outro planeta...)

*Saibam os meus estimados leitores que a minha lendária ausência de sentido de orientação poderia tornar, por exemplo, o meu regresso a casa numa cidade estranha mais improvável do que o regresso de D. Sebastião, mas isso não transforma, a meus olhos, uma pessoa que sabe ver mapas num GPS nato. Eu sei reconhecer um génio da orientação quando o vejo, ok? Só para deixar as coisas bem claras. Cá por coisas...

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