sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

[as melhores do serviço de urgência] uma entorse de trazer por casa...

Na consulta de um amigo meu, médico de família na margem sul, onde em tempos também trabalhei, entrou uma mãe de cinco filhos com o seu mai novo a coxear depois do corta-mato da escola.

[Trata-se, aliás, de um corta-mato famoso em todos os estabelecimentos de saúde da margem sul, porque, sempre que se realiza, o corpo clínico é devidamente avisado com a antecedência necessária e, dos cerca de 100 participantes, quase todos acabam por ir parar com os costados à urgência. Uns com dores no peito por razões que não sabem explicar, outros com sensação de falta de ar depois de terem corrido à maluca quase uma hora sem aquecimento e sem treino prévio, outros com crises de asma de esforço, traumatismos vários, outros só porque todos-vão-faltar-amanhã-com-atestado-e-eu-não-vou-porquê?-não-sou-nenhum-totó-também-vou-meter-atestado. Uns de ambulância, outros transportados pelos pais, já de sobreaviso e chamados à pressa a comparecer na escola, outros poucas horas depois, já chegados a casa...

Houve um ano em que estava de urgência e cheguei a observar quase todos os miúdos com os números seguidos do 5 ao 25. Ao fim da tarde, vendo que não aparecia o 24, perguntei ironicamente ao rapaz que tinha sido o nº 50 se ele sabia alguma coisa do nº 24, se não andaria perdido à procura do hospital... É que já só faltava ele. Ao que me respondeu que o nº 24 era um grande amigo dele, mas que como já tinha 17 anos tinha ido à urgência dos adultos...]

Mas voltando à consulta do meu colega, o rapaz, depois do famosíssimo corta-mato entrou a coxear no gabinete de consulta, numa daquelas alterações da marcha que até o porteiro diagnosticava como fictícia ainda o rapaz vinha ao fundo da rua...

- Então o que tem o seu filho?
- Ele diz que pôs mal o pé durante o corta-mato da escola e hoje à tarde começou a doer-lhe.
- Já em casa?
- Sim, disse que lhe doía cada vez mais e às tantas já chorava desesperado, por isso é que vim.
- Deu-lhe alguma coisa para as dores?
- Só lá tinha daqueles comprimidos que são para tomar com água a ferver, mas ele não os conseguiu tomar. Ainda tentou, coitado, mas queimou a língua e eu não o obriguei mais.
- Com água a ferver? Que comprimidos são esses?
- São daqueles comprimidos que se metem na água a ferver e se desfazem.
- E fazem bolhinhas, minha senhora?
- Sim, esses mesmo, senhor doutor.
- Ah, então anda bem que ele não tomou. Ninguém merece. Paracetamol efervescente... cozido!
- Como?
- Deixe estar que eu já lhe explico. Senta-te ali, rapaz!

2 comentários:

  1. adoro ler-te minha querida, bem hajas
    um beijo grande para ti e para o teu baby lindão!
    aposto que teve o melhor natal da sua vida...
    excelentes entradas em 2013!!

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  2. Maria Tereza Estrabon Falabella6 de janeiro de 2013 às 01:29

    Fico muito contente com seu entusiasmo para 2013. Gostaria de pensar só um pouquinho assim também. Tomara que você esteja certa e o ano seja ótimo.
    Entendo sua alegria e esperança.
    Fui mãe três vezes e isto realmente renova a vida e nós dá esperança.
    Agora, mudando de assunto. O que é um corta-mato?
    Explica aí para esta brasileira, que nunca ouviu este termo.
    Um beijo para si e todos os seus.
    Maria Tereza

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