A nossa princesa há pouco mais de duas semanas!
(Hospital Dona Estefânia)
Já foi há mais de dez anos que li um livro de viagens - Sul - escrito pelo Miguel Sousa Tavares (MST). Ainda não conhecia Moçambique. Não tinha, na altura, qualquer ideia romântica sobre África e estava a anos-luz de imaginar que um dia me haveria de apaixonar perdidamente por um país que não é o meu e que viria a sofrer profundamente de cada vez que regressasse do meu paraíso. Sul é um livro muito irregular no estilo, mas o capítulo sobre Cabo Verde tocou-me particularmente. No texto Um Rio Há de Correr em Cabo Verde, MST fala do otimismo obstinado de todo um povo, do amor que têm ao país e da vontade de o fazer andar para a frente. Um otimismo que conheci na primeira pessoa quando visitei o país algum tempo depois.
"Vinte anos de independência, vinte anos de luta contra a seca, vinte anos de teimosia. Podem dez pequenas ilhas, metade África metade Atlântico sobreviver como país? Eles acreditam que sim e fazem por isso. Talvez porque aqui, pesem todas as adversidades, se mantém o deslumbramento. Quem viu as ilhas não as esquece mais." MSTHá tempos falei-vos da Arina, a menina adorável, natural de S. Nicolau (Cabo Verde), internada há mais de um ano no meu hospital com uma aplasia medular gravíssima e a precisar de um transplante de medula óssea urgente. Por tudo o que já sabia, quase não me surpreendeu que a mãe mantivesse sempre a firme convicção de que iria encontrar um dador e nunca desistiu de puxar pela sua menina, prepará-la para a vida quando melhorasse e tivesse alta! Também vos falei disso. Uma atitude absolutamente admirável, uma fé a toda a prova que me ensinou muito como médica, e agora como mãe!
Mas dentro da improbabilidade que é encontrar um dador de medula óssea fora da família, o caso da Arina era, se possível, mil vezes ainda mais improvável, porque tinha uma combinação genética muito rara. Cheguei a pensar que era impossível. Cheguei a pensar que o melhor que os pais tinham a fazer era tentar quanto antes ter outro filho compatível. Tive grandes conversas com os meus colegas sobre a ética do diagnóstico pré-implantatório de embriões e seleção de acordo com a histocompatibilidade. (Eu por princípio não sou contra, se é que querem saber...) Mas o pai continuava em Cabo Verde a cuidar do filho mais velho e a trabalhar para sustentar a família. Não era possível.
A única esperança verdadeira era, portanto, apelar para toda a comunidade de Cabo Verde residente em Portugal ou noutros países ditos desenvolvidos - em Cabo Verde não há banco de medula óssea. Lançou-se uma campanha. Campanha essa que tenho a certeza de que falava ao coração dos cabo-verdianos porque continha uma mensagem de esperança e otimismo (Djuntu nu ta konsigi, Juntos vamos conseguir!).
A campanha deu a volta ao mundo. As minhas bloggers favoritas também fizeram eco dela: a Paracuca, a Cocó na Fralda, a AL do ma-schamba, a Glittering. Falou-se na televisão, na rádio, no facebook. A mensagem correu por mails coletivos. Teve uma adesão admirável.
E há poucas semanas o milagre aconteceu! O dador apareceu no outro lado do mundo, provando-nos que vale a pena acreditar e que a mãe estava certa! Admiro muito a fé inabalável de algumas pessoas...
A nossa princesa mais linda foi esta semana transferida para fazer o transplante. Em nome da Arina, muito obrigada a todos os que leram e divulgaram este caso e a todos os que rezaram por mais este sucesso.
Olá. Costumo seguir este blog diáriamente, e é com enorme alegria que leio esta mensagem. Fico imensamente feliz por este milagre ter acontecido e desejo tudo de bom à Arina.
ResponderEliminarClaudia Teixeira
tão bom, tão bom, tão bom....
ResponderEliminarbeijo, mulata :)
Notícia feliz, muito feliz.
ResponderEliminarhomem sem blogue
homemsemblogue.blogspot.pt
São notícias como esta que me fazem sorrir!!!
ResponderEliminarQue bom :)
Até me arrepiei. Que bom, que boa notícia! Tudo de bom para a Arina
ResponderEliminarUm final feliz numa época/temporada que também se pretende igualmente feliz.
ResponderEliminarRápidas e boas melhoras para a Arina.
E parabéns a TODOS os que se envolveram.
Afinal ainda há finais felizes! :)
ResponderEliminarQue notícia maravilhosa! O Natal da Arina e da mãe vai ser bem diferente, este ano. Beijinho para a Mulata :-)
ResponderEliminarPor vezes DEUS lembra-Se que ainda acreditamos no Natal.Obrigado a quem se encarrega do O lembrar. Feliz Natal
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