sábado, 1 de dezembro de 2012

[vozes brancas* #84] em nome do pai e do filho...


Na consulta de uma menina de quatro anos, que conheço desde a barriga da mãe, senhora de muitas vitórias, com quem passei vários apertos e muitas alegrias, os pais, babadíssimos com a sua pequena lutadora, fazem sempre questão de me ir pondo ao corrente de todos os progressos:

- Sabe, doutora, a Matilde agora anda a aprender o Pai-Nosso. Devagarinho, que aquilo também é muito complicado e ela não deixa nada por meias palavras, quer perceber tudo e faz perguntas difíceis.
- Pois, realmente, não é nada fácil de explicar, só aquele "não nos deixeis cair em tentação"...
- Sim, e essa nem foi a mais difícil... No outro dia, começámos: "Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" e ela: "Não, não quero assim, isso é muito injusto!"
- Injusto? - Admirei-me.
- Sim, e começou a dizer que achava muito mal que só lá estivesse o pai e o filho. "Então e a mãe e a filha? Não estão aqui porquê?"

Ah, my little feminist!

* Timbre da voz das crianças antes da puberdade.

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