quarta-feira, 15 de agosto de 2012

[outras palavras] inspiração para uma despedida



Também este crepúsculo nós perdemos.
Ninguém nos viu hoje à tarde de mãos dadas
enquanto a noite azul caía sobre o mundo.

Olhei da minha janela
a festa do poente nas encostas ao longe.

Às vezes, como uma moeda,
acendia-se um pedaço de sol nas minhas mãos.

Eu recordava-te com a alma apertada
por essa tristeza que só tu me conheces.

Onde estavas então?
Entre que gentes?
Dizendo que palavras?
E porque vem até mim todo o amor de repente
quando me sinto triste, e te sinto tão longe?

Caiu o livro que sempre escolhíamos ao crepúsculo
e como um cão ferido rolou a meus pés a minha capa.

Sempre, sempre te afastas nas tardes
para onde o crepúsculo corre, apagando as estátuas.

Pablo Neruda in Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada

1 comentário:

  1. Este blog merece uma grande "Like". Só lhe falta o botãozinho :)
    [obrigado pela partilha]

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